Fintech que atende negócios que movimentam de R$ 500 a R$ 3 mil por mês, do vendedor de milho ao marceneiro, dá acesso a serviços financeiros aos rejeitados pelos bancos, e já mira na faixa com renda de até R$ 15 mil

Fundada em 2012 em Berlim, a SumUp é uma fintech que atende mais de 4 milhões de donos de micro e pequenos negócios em 35 países e tem no Brasil um de seus principais mercados. Em uma década, a startup estima ter incluído no mercado financeiro milhões de nanoempreendedores, como um marceneiro ou um vendedor de milho verde. 

São pessoas que movimentam entre R$ 500 e R$ 3 mil por mês e que precisam de crédito, mas são ignorados pelos bancos. É justamente esse o público-alvo da SumUp, explica o CEO da empresa no Brasil, Carlos Grieco, em entrevista ao GLOBO. Ele avalia que há ainda muito espaço para crescer no Brasil nessa área, inclusive em faixas de renda mais altas, de até R$ 15mil.

Qual é o balanço de dez anos da SumUp no Brasil?

Chegamos como startup, num momento em que o mercado permitiu novos entrantes de adquirência (empresas que operam maquininhas de pagamento). Nosso cliente movimenta de R$ 500 a R$ 3 mil por mês. É o vendedor de milho, de doces, o marceneiro. Construímos um produto para atender esse cliente e ficamos muito bons nisso, permitindo que dezenas de milhões desses nano e microempreendedores fossem incluídos no sistema financeiro. Somos uma empresa de tecnologia, mas mantemos a agilidade de startup para tomar decisões.

A SumUp já atua como banco?

A empresa recebeu em março de 2020 a autorização do Banco Central para operar como uma Sociedade de Crédito Direto (SCD). Isso nos permitiu criar o banco digital SumUp Bank. Oferecemos conta digital, crédito, empréstimo pessoal, link de pagamento, e vamos lançar o cartão de crédito no primeiro trimestre de 2024. Já concedemos quase R$ 40 milhões em crédito. No ano passado, tivemos aval do Banco Central (BC) para funcionar como instituição de pagamento, na modalidade credenciadora.

Há diferença no perfil do cliente do Brasil e de outros países da América Latina?

O perfil de cliente que a gente atende é muito parecido. Varia um pouquinho, mas, em todo o mundo, ele tem a mesma dificuldade. Ele está vendendo seu produto e, de repente, chega um Walmart ao lado. Nossa meta é dar competitividade, dar facilidade para ele escalar as vendas, ter custo competitivo. Entramos recentemente na Colômbia, que até dois anos atrás tinha um sistema muito parecido com o do Brasil. O Chile também está permitindo novos entrantes.

Como seguir crescendo no país?

Há muito espaço para crescer. Os grandes adquirentes alugavam as maquininhas, porque o modelo de negócio não estava adaptado ao pequeno empreendedor. O preço era muito alto. Havia uma diretriz de não servir empreendedores que girassem menos de R$ 100 mil por mês. Isso excluía milhões de empreendedores que contribuem para uma parte importante do Produto Interno Bruto (PIB). E nós trouxemos a digitalização a eles. 

Vendemos nossa maquininha, não alugamos.Criamos um suporte para esse microempreendedor, que mistura automação e atendimento humano. Esse cliente começou a crescer e novos players chegaram. Agora, nosso caminho é mirar um pouco acima nessa pirâmide, um empreendedor que cresceu e movimenta cerca de R$ 15 mil.

E como fidelizar esse cliente?

Quando esse cliente começa a ficar maior, às vezes ele monta uma lojinha. Ele é o caixa, faz o café, é o RH, o administrativo. Então, tem menos tempo e, quando precisa de atendimento, quer falar com uma pessoa para resolver tudo o mais rápido possível. E a SumUp construiu esse modelo, para que ele não tenha problemas.

A concorrência não faz isso?

Eles (clientes) são assediados por outros concorrentes. Mas customizamos o atendimento. Sabemos se ele usa mais o parcelado, o débito. Disponibilizamos um pagamento instantâneo. Os microempreendedores precisam de caixa muito rápido para reinvestir. O capital de giro é precioso. Hoje ele pode receber uma venda em 30 minutos. Fizemos parceria com o BNDES e oferecemos um dos créditos mais baratos do país. Podemos oferecer até R$ 20 mil.

Como a SumUp avança em novos produtos de tecnologia?

Desde o ano passado, estamos oferecendo o tap on phone, tecnologia que transforma smartphones em terminais de pagamento. E lançamos a Solo, maquininha que aceita Pix, link de pagamento e boleto, e tem tela touch-screen (sensível ao toque). Já estamos testando uma espécie de ponto de venda (PDV), com uma tela integrada à Solo. Os empreendedores poderão montar uma lojinha em 5 minutos e registrar os pedidos de seus clientes, os pagamentos e emitir nota fiscal. Investimos milhões de euros para desenvolver produtos também.

Como vê as discussões para reduzir o juro do rotativo?

Desde 2019, o volume transacionado no cartão de crédito cresceu muito. Houve decisão de expandir o crédito. E a avaliação do risco versus retorno é dos bancos. Os bancos dizem que querem diluir os riscos desse sistema complexo com revisão do parcelado sem juros. Até soltaram uma nota dura contra as maquininhas dizendo que elas se apropriam dos ganhos dessa cadeia.

Temos vários riscos nesse arranjo construído por várias partes. A gente subsidia a maquininha, toma esse risco adicional, para incluir as pessoas. E a remuneração dessa cadeia foi definida lá atrás. A gente sempre pagou taxa de intercâmbio (aos bancos). A diferença é que as taxas reduziram drasticamente com a concorrência permitida e regulada pelo BC. No fundo, é uma vontade (dos bancos) de participar dessa nova receita, porque um monte de gente foi incluído nesse arranjo. Os grandes bancos fizeram suas tentativas nesse mercado, e nenhuma delas vingou.


Fonte: O GLOBO