Diferentemente das trapalhadas ocorridas em 2021 para resgatar compatriotas na China durante a pandemia de Covid, operação em Israel funcionou sem lances teatrais

Quem se lembra das trapalhadas ocorridas em 2021 para resgatar 34 brasileiros que estavam na China durante a pandemia de Covid e viu o resgate de centenas de pessoas que estavam em Israel em voos da Força Aérea pode perceber que o Brasil funciona.

Os aviões da FAB partiram para Israel, e voltaram sem teatro. Poucos países conseguiram semelhante desempenho e nações vizinhas pediram ajuda ao governo brasileiro. Na quinta-feira, um dos aviões da presidência da República entrou na operação.

A FAB e o Itamaraty funcionaram como um relógio, refletindo uma mudança ocorrida também no comportamento dos militares.

Em 2021 os brasileiros eram apenas 34. Num primeiro momento a operação foi descartada, por cara. Quando ela foi autorizada, deu-se o seguinte, nas palavras de Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde que seria abatido pela obsessão do presidente Bolsonaro com a cloroquina:

“A operação foi montada para trazer 34 pessoas, mas foram usados quatro aviões e 120 pessoas para resgatá-las, um exagero. Eu disse aos militares que era prudente enviar o menor número de pessoas possível, mas mandaram gente do Exército até para filmar o resgate.”

Num lance teatral, o resgate ganhou até um nome: “Regresso à Pátria Amada Brasil”.

Os diplomatas que organizaram o resgate dos brasileiros que estavam em Israel e os tripulantes dos aviões fizeram seus serviços sem teatro. A operação superou inúmeras dificuldades logísticas e seu sucesso não teve exibicionismos.

O serviço continua, com novos voos e com a delicada negociação para resgatar pelo menos 22 brasileiros que estão em Gaza. O Brasil funcionou, pela ação de seus servidores civis e militares.

A verdade numa guerra

O presidente americano Joe Biden condenou o Hamas e acusou os terroristas de terem degolado crianças: “Eu nunca pensei que veria fotografias confirmadas de terroristas degolando crianças.”

A fala de Biden foi impropriamente associada a uma notícia segundo a qual quarenta bebês haviam sido degolados num kibbutz. Ela nunca foi confirmada, mas Israel divulgou fotografias de bebês assassinados.

A sabedoria convencional ensina que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. A notícia dos quarenta bebês degolados era falsa, mas o Hamas matou famílias e crianças.

Às vezes, a cautela contra o que pode ser um exagero acaba levando a um erro maior.

Para quem acha que não pode, alguns exemplos:

Em março de 1942, na Agência Judaica da Palestina, uma senhora polonesa contou a um funcionário o que estava acontecendo no seu país. O funcionário perguntou-lhe se ela não estava exagerando. Ela deu-lhe um bofetão e retirou-se. Anos depois ele seria um dos fundadores de Israel.

Nos Estados Unidos, uma amiga de Golda Meir decidiu publicar o relato das câmaras de gás numa página interna do boletim que ela editava. O New York Times publicou a notícia de um massacre na Lituânia em 17 linhas, no pé da página 5.

Em 1944, quando já se sabia a extensão do Holocausto, uma notícia do extermínio de judeus na Ucrânia saiu na página 6 do New York Times. Na primeira, entre outros, havia um texto sobre os charutos cubanos.

(A decisão de exterminar sistematicamente os judeus foi tomada em janeiro de 1942, numa reunião em Berlim.)

O serpentário do Itamaraty

O serpentário do Itamaraty está excitado, apostando em intrigas para desfazer a dupla Mauro Vieira/Celso Amorim.

É difícil que as futricas prosperem, por dois motivos:

Primeiro, porque Amorim, ex-chanceler e atual assessor especial de Lula, conviveu harmonicamente com o professor Marco Aurélio Garcia, que era o assessor de Lula nos seus primeiros mandatos.

Finalmente, porque o ministro Mauro Vieira é um diplomata com horror a holofote.

Déficit zero em 2024

O ministro Fernando Haddad reitera sua espetaculosa promessa de déficit zero nas contas públicas de 2024.

O FMI louva a gestão de Haddad, mas não confia na meta e diz que o déficit ficará em 0,2% do PIB.

Já o Banco Central não faz previsão, mas constata que a meta só será atingida se forem tomadas medidas adicionais para aumentar a arrecadação no equivalente a 1,7% do PIB. Como? Não se sabe.

As medidas tomadas até agora para engordar a arrecadação estão em 0,8% do PIB, com uma pequena queda em relação aos dois anos anteriores.

Essa sucessão de estatísticas serve apenas para prenunciar o aparecimento de bodes expiatórios para explicar que uma promessa irreal, irreal era.

A defesa de Israel

A investigação da catatonia das forças de defesa de Israel diante dos ataques do Hamas no dia 7 revelará situações jamais imaginadas.

No kibbutz de Nir Oz, onde foram massacrados dezenas de judeus, o socorro militar levou mais de oito horas para neutralizar os terroristas. Já no kibbutz de Be'eri o resgate demorou mais de 13 horas.

Em janeiro de 1968, quando o Vietnã do Norte e o Vietcong abalaram o mito da invencibilidade dos Estados Unidos, com a ofensiva do Tet, o ataque mais espetacular deu-se contra a embaixada americana em Saigon. Ficou a impressão de que os combatentes ocuparam parte do prédio.

O ataque começou por volta das 2h45 do dia 31 e foi contido em menos de meia hora. Às 9h20 o comandante das tropas americanas, general Westmoreland, deu uma entrevista coletiva na embaixada.

O estrago estava feito.

Em outras cidades do Vietnã os combates prosseguiram até abril.

Intolerância na PUC do Rio

Na terça-feira, o professor Michel Gherman, defensor da criação de um Estado palestino, foi obrigado a abandonar a sala onde se realizava um debate sobre a guerra em Israel. Havia sido hostilizado por alunos que discordavam dele.

Mau exemplo para estudantes de uma universidade. Os estudantes que hostilizaram Gherman deveriam lembrar que, em 1963, uma assembleia de alunos da PUC do Rio ratificou a decisão da escola de expulsar os irmãos Ailton e Alcir Henrique da Costa, presos a quilômetros de distância porque pichavam uma parede saudando o 40º aniversário do Partido Comunista.

Passou o tempo e poucos se orgulharam da posição assumida.

Outubro de 1963

No dia de hoje, há 60 anos, Lee Oswald conseguiu um emprego em Dallas, no prédio de seis andares onde funcionava um depósito de livros. Amanhã será seu primeiro dia de serviço.

Dias depois, Oswald completou 23 anos e nasceu sua segunda filha.

O agente do FBI que acompanha os passos de Oswald sabe que ele morava em Nova Orleans e esteve no México, mas deixou a cidade num carro com placa do Texas.

Amanhã, completam-se 60 anos do dia em que o embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, pediu que se organizasse um plano de contingência para lidar com a instável situação política do Brasil, presidido por João Goulart. A Central Intelligence Agency acreditava que ele ainda tinha chances de concluir seu mandato.


Fonte: O GLOBO