PT se organiza para judicializar proposta de Tarcísio na Alesp, enquanto Guilherme Boulos usa a desestatização para criticar o governador e seus aliados, entre eles, o prefeito Ricardo Nunes
O PT se organiza para judicializar a proposta de Tarcísio e promover uma ampla campanha contra a venda da empresa. Já o governador e a base bolsonarista tentam convencer a população de que a desestatização vai diminuir a conta de água e ampliar investimentos em saneamento. O assunto divide a população: 53% dos paulistas são contra a medida, de acordo com pesquisa Datafolha.
Analistas dizem que a discussão deve extrapolar a Alesp e chegar ao pleito municipal, desafiando prefeitos e candidatos a se posicionarem sobre um tema que divide a população. Alguns já se anteciparam, caso do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), líder nas pesquisas em São Paulo, munícipio que detém o maior contrato com a Sabesp. O parlamentar promoveu nesta quinta-feira uma audiência pública para tratar da privatização na Câmara dos Deputados.
— Muito difícil entender esse esforço quase obsessivo do governo Tarcísio em privatizar a Sabesp, sobretudo sem diálogo, como se expressa aqui hoje com a ausência do governo — disse Boulos, que ainda criticou o modelo defendido pelo governo estadual.— É uma sub-representação do poder do estado no controle da companhia — completou.
Adversário do líder sem-teto, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, era contrário à privatização até o final do ano, mas tem indicado a aliados que apoiará a venda. Adversários creditam a mudança de opinião a um aceno do emedebista a Tarcísio, de olho no apoio do governador eleição municipal. Mas aliados garantem que o prefeito só será favorável se houver garantias de benefícios para a cidade.
O prefeito de Diadema (SP), Filippi (PT), criticou o projeto de privatização no X (antigo Twitter):
“Bem essencial não se vende! A Sabesp é uma empresa do povo paulista que gera bilhões de reais em lucro anualmente, não faz sentido ela ser privatizada”. A deputada estadual Professora Bebel (PT), que deve disputar a prefeitura de Piracicaba (SP) no ano que vem, publicou que seu mandato está engajado na luta contra a privatização da companhia.
O também deputado Emídio de Souza (PT), ex-prefeito de Osasco (SP) e que pode concorrer novamente ao cargo em 2024, deve levar o tema para o centro de sua campanha. Ele é coordenador da Frente Parlamentar Contra a Privatização da Sabesp no Legislativo paulista e viajou a Brasília para participar da audiência organizada por Guilherme Boulos.
— Vamos deixar demonstrado o imenso prejuízo para o povo de São Paulo que se desenha a partir dessa ideia maluca do governador de São Paulo — afirmou em um vídeo divulgado nas redes sociais.
Para o prefeito de São Vicente (SP), Kayo Amado, do Podemos, a pauta não deverá representar polêmica na campanha eleitoral em sua cidade, já que, segundo ele, a companhia não goza de boa avaliação por parte da população. Amado diz que o município sofre com contratos malfeitos e falta de saneamento, e que defenderá a privatização se houver tarifa social e a expansão do serviço
— O assunto pode contaminar, porque vai ter uma polarização. Os candidatos mais colados ao Tarcísio podem entrar na mira do pessoal da esquerda, sim. Mas se virar tema de debate, vou ser transparente. Tem gente sem acesso a água. É mentira falar que o serviço é bom — afirma.
A Sabesp, companhia de saneamento de São Paulo, pode ser privatizada pelo governador Tarcísio de Freitas — Foto: Gilberto Marques/Governo de SP
Para o cientista político Renato Dorgan, do Instituto Travessia, poderá, sim, haver impacto na eleição.
— Se aumentar o preço da água e começar a surgir problemas, o que é normal numa transição, poderá ter um impacto, sim, e acabar sendo algo supernegativo para o candidato ligado ao governador. Efeitos positivos, se existirem, vão ser sentidos daqui a alguns anos, não é nada imediato, para o ano que vem — diz Dorgan.
Ele ainda acrescenta:
— O eleitor mais vulnerável sempre fica assustado com privatizações. A privatização das elétricas tornou a conta mais cara. Essas empresas tratam o consumidor de maneira draconiana, cortam a luz quando eles não pagam, cobram taxas altas em casos de atraso. A água, na cabeça do eleitor, principalmente o mais pobre, também pode onerar.
Pablo Nobel, marqueteiro da agência PLTK que trabalhou nas campanhas do presidente argentino Alberto Fernández e de Tarcísio de Freitas, diz que as campanhas engoliram o assunto em razão do timing da privatização, que adentra o ano eleitoral.
— Apesar de o governador tentar levar a discussão a um campo mais pragmático, é um caso com viés ideológico: quem é a favor de um estado forte é contra, quem é a favor do estado focar em suas atividades primárias é a favor — afirma Nobel.
Fonte: O GLOBO
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