Abdel Fattah al-Sisi deu as declarações durante encontro com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no Cairo, de acordo com a mídia estatal egípcia

O presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, disse ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, neste domingo, que a reação de Israel ao ataque terrorista do Hamas "foi além da autodefesa” e virou “punição coletiva”, segundo a mídia estatal egípcia. As declarações de al-Sisi foram as mais duras ouvidas pelo chefe da diplomacia americana de um líder árabe, durante o giro pelo Oriente Médio, que começou em Tel Aviv, na quinta-feira. 

O Egito, país árabe que mantém relações diplomáticas e econômicas com Israel, tem papel central nas negociações para retirada de estrangeiros da Faixa de Gaza, incluindo brasileiros e americanos que aguardam repatriação na fronteira do enclave palestino com o território egípcio.

Nos últimos dias, Blinken manteve conversas com autoridades da Jordânia, Arábia Saudita e da Autoridade Nacional Paletina [ANP], em um esforço diplomático pela liberação dos reféns mantidos pelo Hamas e para conter o risco, cada vez mais palpável, de que o conflito se alastre com o envolvimento de outros inimigos de Israel na região, como o Irã e o grupo extremista libanês Hezbollah.

No Egito, Blinken busca também garantir a saída de Gaza de cidadãos americanos, assim como o governo brasileiro, que também está em franca negociação com autoridades do Cairo, para tirar do território palestino o grupo de brasileiros que aguarda perto da fronteira com o país.

As rotas seguras da Faixa de Gaza para o deslocamento de civis palestinos do norte rumo ao sul — Foto: O Globo

Segundo o embaixador Alessandro Candeas, chefe do Escritório de Representação do Brasil em Ramallah, no território palestino da Cisjordânia, neste momento, estão prontas para deixar Gaza 28 pessoas — 22 são brasileiras, três são imigrantes palestinos e outras três são palestinas. No grupo, há 14 crianças, 8 mulheres e 6 homens adultos. Dez se encontram em Rafah e outras 18 em Khan Younes.

A Embaixada do Brasil no Egito deslocou uma equipe de diplomatas para Ismaília, no Norte do país, para acompanhar as negociações para a abertura da fronteira para a retirada dos brasileiros. O embaixador do Brasil no Egito, Paulino Franco Neto, lidera a equipe.

Pressão internacional

Os diplomatas brasileiros esperam autorização para se dirigir a Al-Arish — na fronteira com Gaza — e se for autorizado, até Rafah, para receber o grupo de brasileiros que está neste momento em Gaza.

No sábado, o presidente Lula conversou com o presidente egípcio para solicitar apoio à retirada dos brasileiros. Lula informou que assim que os brasileiros cruzarem a passagem de Rafah serão acompanhados pelo embaixador do Brasil no Egito até o aeroporto de Arish, onde embarcarão imediatamente em aeronave da FAB com destino ao Brasil. Arish fica a pouco mais de 50 quilômetros da fronteira.

O Egito está sob forte pressão internacional para que abra a passagem de fronteira e garanta rota de fuga para os deslocados pelo conflito em Gaza, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas. No entanto, o país teme uma crise de refugiados e ameaças à segurança nacional, além das questões de geopolítica regional.

O país árabe assinou um tratado de paz com Israel em1979, após 3 décadas de hostilidades e guerras sangrentas. Em entrevista ao GLOBO, na sexta-feira, a professora do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) Monique Sochaczewski explicou que vários fatores podem estar por trás da recusa do Egito, principalmente o receio de uma crise interna e a aproximação com Israel.

— O Egito viveu uma contrarrevolução depois da Primavera Árabe e tenta se reconstruir, por isso o medo de uma nova instabilidade interna — disse Sochaczewski ao GLOBO. — Além disso, a paz com Israel, que por muito tempo foi apenas um acordo formal entre Estados [desde 1979], hoje se tornou mais aquecida, com investimentos israelenses na economia egípcia. É uma via de mão-dupla: para evitar que Israel o acuse de ser conivente com a entrada de armamentos, como ocorria no passado, e sobretudo para evitar que o Hamas entre em seu território.


Fonte: O GLOBO