Startup sediada no Porto Maravalley atraiu para o seu capital fundo da MSW Capital que tem a Embraer como cotista

Dentre as diversas startups instaladas no Porto Maravalley, o hub de tecnologia da Zona Portuária do Rio, a TideWise carrega um simbolismo. Em uma região que foi o berço da outrora pujante indústria naval brasileira, a TideWise está produzindo uma tecnologia naval de última geração: embarcações marítimas não tripuladas e que funcionam como “porta drones” para serem usadas para monitoramento e logística, em missões civis ou de Defesa.

Hoje com uma embarcação em operação e realizando missões para clientes como Petrobras, Repsol e Shell, a startup acaba de levantar R$ 10 milhões com o fundo MSW Multicorp 2, que tem entre seus investidores a BB Seguros, Baterias Moura, AgeRio e Embraer. A injeção de capital vai viabilizar a construção de mais três embarcações e reforçar o time de vendas, mirando um mercado que vai além das águas brasileiras.

A embarcação USV Tupan entrou em operação em 2020: foi a primeira embarcação não tripulada produzida no país e também a primeira registrada pela Marinha do Brasil.

O barco autônomo possui sensores que podem ser usados para identificar a profundidade e mapear a superfície do fundo do mar. Também pode ser usado para detectar vazamento de óleo ou monitorar a qualidade da água, com coleta de amostras feitas com o uso de drones. — Hoje para detectar um vazamento em alto mar, as empresas se baseiam em imagens de satélite e depois mandam um navio ao local. Com a embarcação autônoma, a gente consegue reduzir bastante esse custo — diz o CEO Rafael Coelho, que fundou a empresa com Sylvain Joyeux.

Outros usos incluem monitoramento de ativos no fundo do mar como dutos de emissários e também logística, com a realização de entregas em plataformas de petróleo. O USV Tupan já levou de lençois a tinta de impressora para plataformas de petróleo.

No campo militar, esse tipo de embarcação pode ser usada para fazer a varredura de minas antes da passagem de um submarino nuclear, por exemplo.

O negócio da TideWise começou a virar depois que a empresa foi selecionada para um programa de inovação aberta na Bélgica, para o monitoramento de uma planta de geração de energia eólica off shore. A visibilidade do programa fez deslanchar novos contratos no Brasil.

As três novas embarcações devem entrar em operação ao final do primeiro trimestre do ano que vem. Mas o plano é ter uma frota de oito robôs navegando até 2026.

— Queremos nos consolidar no Brasil, mas estamos mirando o mundo, principalmente o Atlântico Sul — diz Rafael.

Por se tratar de um negócio novo e que depende de autorizações de reguladores para operar, as operações ainda estão muito locais. — Há empresas como a nossa nos EUA, Europa e Austrália. Estão todos ainda no seu nicho, mas mirando o mundo — completa. A TideWise não pretende vender as embarcações — a não ser que obtenha contratos para a área de defesa. No campo civil, a ideia é construir e operar para terceiros. A empresa está construindo ainda um centro de monitoramento, a partir do qual irá processar os dados coletados nas missões.

Cinco metros

O USV Tuban tem 5 metros — pode ser transportado em um container de 20 pés ou mesmo dentro de um cargueiro como o C-390 da Embraer — e conta com uma plataforma para pouso e decolagem de drones, em um sistema em que os robôs conversam entre eles.

O casco do barco é produzido no Guarujá (SP), com motor da WEG, mas a montagem é feita na região portuária do Rio. As três primeiras embarcações são híbridas — diesel-elétrico. E a quarta será 100% elétrica, com capacidade para hidrogênio.

— A decisão do investimento foi muito fácil, dada a sinergia da TideWise com os nossos investidores no fundo, como Embraer, que está olhando tudo o que é tecnologia autônoma, seja terra, ar ou água, e a Agerio (Agência de Fomento do Rio) — diz Richard Zeiger, sócio da MSW Capital. O MultiCorp 2 captou R$ 50 milhões até o momento e já realizou três outros investimentos: Automni, VoltBras e Speedbird Aero.

Até o fim do ano, a TideWise prevê captar mais R$ 5 milhões com outros investidores. Desde a sua fundação, em 2019, a startup já investiu R$ 30 milhões em pesquisa e desenvolvimento.


Fonte: O GLOBO