Principal suspeita é de furto com o envolvimento de militares para a venda do material a grupos criminosos

O sumiço de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo, em Barueri, que causou revolta na cúpula militar, começou a ser explicado. A principal suspeita é de furto com o envolvimento de militares para a venda do material a grupos criminosos. Parte do armamento, inclusive, já foi recuperado em uma área de tráfico do Rio de Janeiro.

— O Exército considera esse episódio inaceitável e não medirá esforços para responsabilizar os autores e recuperar todo o armamento no mais curto prazo. Tudo está sendo investigado, e os ilícitos e desvios de conduta serão responsabilizados nos rigores da lei — afirmou o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, em entrevista coletiva.

Punições e suspeitos

Por causa do desvio das armas, o diretor do Arsenal de Guerra, o tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, será exonerado do cargo, como informou o general Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, de acordo com decisão tomada pelo comandante do Exército, Tomás Ribeiro Paiva.

Cento e sessenta militares ainda eram mantidos no local sem que pudessem nem se comunicar com a família. O GLOBO apurou que estão proibidos de sair principalmente os que trabalharam no feriadão da Independência. Um subtenente responsável pelo depósito é o mais visado na investigação.

Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado, e militares estão sendo ouvidos. O chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, sem dar número exato ou nomes, disse ontem que “dezenas” de militares suspeitos de facilitarem o furto foram notificados. O diretor do Arsenal de Guerra não será expulso da Força, mas será removido para outra função.

Ainda de acordo com Vieira Gama, todos os processos da organização militar estão sendo revistos e, paralelamente à investigação, os militares que atuavam na fiscalização e controle do armamento poderão ser responsabilizados na esfera administrativa e disciplinar por eventuais responsabilidades.

Caso comprovada a participação dos suspeitos, militares temporários serão expulsos e que os de carreira vão ser submetidos a conselho de justificação ou disciplina.

O que sumiu e o que já foi achado

Foram furtadas 13 metralhadoras ponto 50 e outras oito de calibre 7,62. Na última quinta-feira, foram localizadas quatro metralhadoras de cada na Gardênia Azul, comunidade da Zona Oeste que é palco de uma disputa sangrenta entre milicianos e traficantes. Elas foram descobertas embaladas com sacos pretos e fita adesiva na mala de um carro dentro de área dominada pelo tráfico.

De acordo com o Exército, essas armas são consideradas “inservíveis”, e por isso estavam na unidade técnica de manutenção, responsável também por iniciar o processo de desfazimento e destruição dos itens cuja reparação não é mais viável.

Em bom estado de conservação, as metralhadoras ponto 50 têm capacidade para derrubar uma pequena aeronave. O modelo tem alcance máximo de 6,9 mil metros e uma ampla gama de aplicações, podendo ser utilizada montada em viaturas, embarcações ou aeronaves.

Compradores

O novo secretário de Polícia Civil do Rio, Marcus Vinícius Amim, disse que as armas foram “encomendadas” por traficantes da maior facção do Rio para serem usadas na guerra com a milícia na Zona Oeste.

Segundo as investigações, as armas circularam por várias favelas antes de serem apreendidas. Passaram pelo Complexo da Penha e pela favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, ambos na Zona Norte da cidade. Antes de serem apreendidas na Gardênia Azul, estavam na Rocinha, na Zona Sul do Rio.

Data do furto

O Exército ainda não conseguiu precisar a data em que elas foram furtadas. No entanto, trabalha com a possibilidade de ter sido entre 5 e 8 de setembro, mas só descobriu em 10 de outubro.

Vieira Gama explicou que o local onde é guardado esse armamento em manutenção não passa por a contagem diária. A inspeção de controle ocorre apenas quando essa reserva de armamento é destrancada e acessada. Antes de fechar novamente a porta, o responsável pelo controle faz a contagem. A vistoria de rotina só analisa o cadeado e o lacre que fecham a sala.

Os registros do Arsenal de Guerra mostram que em 6 de setembro essa reserva foi oficialmente aberta pela última vez. Depois disso, só em 10 de outubro. Vieira Gama afirmou que há indícios também de que o cadeado e o lacre foram adulterados.

— Há câmeras, e todo esse material foi recolhido — informou o general.


Fonte: O GLOBO