Hoje parlamentar, ele foi indiciado por utilizar a estrutura da Polícia Civil para gravar vídeos de operações oficiais que foram exibidos em suas redes sociais particulares

O deputado federal Carlos Alberto da Cunha (PP-SP), conhecido como Delegado Da Cunha, está novamente no centro de uma polêmica. Ele, que é investigado por enriquecimento ilícito e abuso de autoridade, foi acusado de agressão, nesta terça-feira, pela namorada. O caso foi registrado na 2ª DDM (Delegacia da Defesa da Mulher), na Zona Sul de São Paulo, como lesão corporal, ameaça, injúria e violência doméstica.

De acordo com o boletim de ocorrência, divulgado pelo site G1, a nutricionista Betina Grusieck afirma que a discussão com Cunha aconteceu no último sábado, após o parlamentar consumir bebida alcoólica. Ela diz ainda que teria sido xingada de “lixo” e “putinha” antes do início das agressões, e que desmaiou após o ataque. O deputado é acusado de ter apertado o pescoço da companheira e de bater a cabeça dela na parede.

Grusieck disse ainda que, quando acordou, Cunha tentou novamente a agredir e que, para se defender, jogou um secador de cabelos nele. “Vou encher de tiros a sua cabeça, vou te matar e vou matar sua mãe”, teria dito Da Cunha, antes de quebrar os óculos e destruir as roupas da mulher, ainda segundo o boletim de ocorrência.

Em nota enviada ao G1, a assessoria de imprensa do deputado Da Cunha informou que ele nega veementemente que tenha agredido a companheira. “Houve uma discussão, em meio à comemoração de seu aniversário, mas em nenhum momento ocorreu qualquer tipo de violência física de sua parte”, diz o comunicado. Ainda segundo a defesa, os fatos “ficarão comprovados no decorrer do inquérito”.

Essa não foi, no entanto, a primeira polêmica em que o parlamentar se envolveu. Quando ainda atuava como delegado, Da Cunha foi indiciado por utilizar a estrutura da Polícia Civil para gravar vídeos de operações oficiais que foram exibidos em suas redes sociais particulares, como no YouTube. A investigação apontou que o delegado pagava até R$ 14 mil por mês para a equipe de filmagem. Atualmente, ele tem dois milhões de seguidores no Instagram.

Da Cunha chegou a ser afastado de suas funções em julho de 2021, quando a Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo instaurou um processo administrativo por suspeita de peculato. A prática consiste na apropriação, por parte de um funcionário público, de um bem a que ele tenha acesso por causa do cargo que ocupa, em benefício próprio ou de outras pessoas.

Sua postura como "policial youtuber" – que expunha operações policiais que o colocavam no patamar de um suposto herói – passou a incomodar colegas e comandados, e a irritação chegou até o então delegado-geral Ruy Ferraz, sobretudo após críticas à sua gestão e xingamentos endereçados a outros agentes, chamados de "ratos". Os relatos apontavam que Da Cunha transformava a delegacia que comandava numa verdadeira "ilha de edição" para seus vídeos, usando a estrutura e os próprios policiais para ganhar dinheiro nas redes e promover sua imagem. Ele também chegou a ser acusado de forjar ocorrências, como um sequestro, para abastecer o próprio material nas redes.

O hoje deputado chegou a ter sua arma e distintivo recolhidos, mas os itens foram devolvidos para Da Cunha em julho. Ele segue afastado da Polícia Civil, já que não pode acumular a função à de deputado federal.

Carreira política

Da Cunha está em seu primeiro mandato como deputado federal. Ele foi eleito com 181,5 mil votos nas últimas eleições. Sua popularidade deve-se justamente à atuação nas redes sociais, onde ganhou milhões de seguidores publicando vídeos cinematográficos de operações policiais, perseguições e abordagens a suspeitos.

Em sua atuação como parlamentar, Da Cunha é 3º vice-presidente na Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado. É figura presente na Câmara dos Deputados, mas ainda assim acumula 77 faltas – 14 em plenário e 63 em comissões.


Fonte: O GLOBO