Paralisação contra privatizações em São Paulo reduz operação de linhas do Metrô e da CPTM

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, criticou a greve no transporte sobre trilhos em São Paulo e afirmou que não aceitar o projeto de privatizações "é não aceitar o resultado das urnas". A declaração foi dada num pronunciamento na manhã desta terça-feira no Palácio dos Bandeirantes.

Funcionários do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da Sabesp (estatal de saneamento básico) e da Fundação Casa entraram em greve nesta terça-feira, em São Paulo. Assim como no início do mês passado, a pauta dos sindicatos é contra a privatização do serviço de saneamento e a concessão das linhas metroferroviárias. O projeto de desestatização da Sabesp avançou na Assembleia Legislativa (Alesp) e já deve ser votado pelos deputados estaduais em dezembro.

A greve afeta todas as nove linhas estatais do Metrô e do trem. Já as linhas 4 (Amarela), 5 (Lilás), 8 (Diamante) e 9 (Esmeralda), concedidas à iniciativa privada, funcionam normalmente nesta terça-feira. Por volta das 4h, todas as linhas estatais estavam paralisadas. A partir das 5h45, algumas começaram a operar parcialmente, segundo informações do governo paulista. Já os funcionários da Fundação Casa apoiam a paralisação, mas não pararam as atividades.

O governador focou as críticas no que chamou de motivação política de uma greve "sem pauta, sem reivindicação salarial" e no descumprimento da decisão judicial que determinou o funcionamento mínimo das operações nesta terça. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) decidiu contrariamente à greve anunciada pelos sindicatos e determinou o funcionamento mínimo de 85% do contingente de trabalhadores da CPTM e 80% dos serviços do Metrô nos horários de pico.

Tarcísio apelou ao discurso de que as greves "não têm o poder de mudar o rumo" de seu projeto de privatizações e que, portanto, são ineficazes para o que se propõem:

— São contra aquilo que nós defendemos ao longo da campanha, de estudar privatizações, concessões, participação do capital privado nos serviços públicos. Foi um compromisso. E essa posição foi vitoriosa. Não aceitar essa posição é não aceitar o resultado das urnas, é não aceitar o diferente — declarou Tarcísio.

Os sindicalistas rebatem essa afirmação dizendo que a maioria das pessoas são contra as privatizações de acordo com pesquisas, segundo eles, e que é irresponsabilidade "insistir no modelo privatista depois do que vimos acontecer com a Enel, que favorece o lucro dos investidores às custas da precarização dos serviços públicos". Em abril, uma pesquisa Datafolha mostrou que 53% dos paulistas eram contra privatização da Sabesp, e 40%, a favor.

Ele voltou a repetir, assim como na greve realizada de outubro, a associação entre a mobilização e um suposto interesse partidário. Camila Lisboa, presidente do sindicato dos metroviários, é filiada ao PSOL, mesmo partido do deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos — relação que foi usada da última vez para jogá-lo para o meio da polêmica.

— Greve de 24 horas. Qual vai ser a próxima? Qual é o limite pra isso? Todo mês uma greve? Os sindicatos foram capturados por partidos. Não há conciliação possível com o governo. Nós vamos continuar estudando concessões, privatizações. Ano que vem vamos fazer a privatização da Emae, da Sabesp — declarou Tarcísio.

O governador citou as linhas privatizadas do Metrô em funcionamento em meio à greve para elogiar a concessão à iniciativa privada e disse que o não funcionamento do transporte afeta a população que mais precisa dele, inclusive estudantes que vieram à capital para fazer o Provão Paulista. Ele também questionou o que chamou de baixo quórum nas assembleias dos sindicatos que deliberaram pela greve nesta terça-feira. Segundo ele, 25 pessoas participaram da decisão na CPTM, 140 na Sabesp e 1.254 no Metrô, com diferença de 119 votos para aqueles contrários à paralisação.

Questionado pela imprensa se o governo pensa em recorrer a punições individualizadas aos servidores grevistas, Tarcísio disse que depende do Judiciário para lidar com a questão e sugeriu o bloqueio das contas dos sindicatos pelo não pagamento das multas impostas pelos descumprimentos judiciais. Ele também afirmou que haverá penas alternativas.

Sobre o fato de o governo ter decidido não atender ao pedido dos sindicatos de liberar as catracas para a população durante a paralisação, Tarcísio respondeu que isso nunca foi levado em consideração:

— Nunca um governador liberou catracas no período de greve. Isso coloca em risco as pessoas, traria uma demanda sem nenhum tipo de controle. Poderíamos ter pessoas se acidentando. É algo afastado de pronto. O próprio Judiciário não tem concordado com esse pleito — declarou.

Tarcísio estava ao lado dos presidentes André Salcedo (Sabesp), Pedro Moro (CPTM) e Julio Castiglioni (Metrô) e do secretário de Transportes Metropolitanos, Marco Antônio Assalve.

Sindicato rebate governador

Presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Camila Lisboa rebateu as falas do governador e disse que “os interesses que existem nessa greve são a defesa do serviço público e a dos direitos dos trabalhadores” e chamou o discurso de Tarcísio de “autoritário”.

— O que nós estamos dizendo é que quando uma pessoa é eleita, isso não pressupõe que durante quatro anos nada mais vai poder ser contestado, não é assim que funciona nossa democracia. A Constituição do estado tem um dispositivo que sugere a realização de plebiscito, como o que a gente está pedindo. 

Por que ele não ouve a opinião da população sobre os projetos de privatização? Até porque, desde a eleição, um monte de coisa aconteceu, um monte de descarrilamento (nas linhas privatizadas), o apagão da Enel agora, e isso fez muita gente ser contra a privatização — falou durante live realizada nas redes sociais na manhã desta terça.

Camila ainda destacou que o sindicato propôs o funcionamento de 100% das linhas, mediante a liberação das catracas, mas foi o governo que não aceitou. O governo se reuniu com representantes dos Metroviários na última segunda, mas não houve acordo. 

Outras condicionantes sugeridas pelos trabalhadores para que a greve não ocorressem foi a paralisação do processo de privatização da Sabesp na Assembleia Legislativa, para a realização de um plebiscito, mas isso também não foi aceito pelo governo.

— Nós falamos ‘faça o plebiscito popular’. Ele não se garante? Essa não é uma greve sobre o metrô, CPTM também está em greve, Sabesp está em greve. E o governador está dizendo que todas as categorias estão erradas. Isso fala só sobre as categorias ou fala sobre a intransigência do governador? Falha em linha privada de trem e de metrô todo dia é assunto. 

Na verdade, todo dia, São Paulo tem algum problema de transporte público com as linhas privadas. Hoje, há um protesto legítimo para que São Paulo não fique toda tomada pela ‘via calamidade’ que é a tendência caso a privatização ocorra.


Fonte: O GLOBO