Aliados veem atuação discreta do ex-governador para retornar ao Bandeirantes ou disputar o Senado caso não seja mantido na chapa de Lula
O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem aproveitado compromissos oficiais do cargo para articular discretamente um retorno à cena política de São Paulo em 2026.
Um levantamento exclusivo da equipe do blog a partir da agenda oficial de Alckmin no segundo semestre mostra que o ex-governador paulista priorizou políticos de seu estado, potenciais cabos eleitorais, em audiências no Palácio do Planalto, onde despacha, e outros encontros oficiais.
Entre julho e este sábado (11), 12 das 16 agendas de Alckmin foram para receber prefeitos de São Paulo neste período. Ao todo, o vice-presidente se reuniu com 15 — sete do PSDB, seu antigo partido, dois do PSD e integrantes do MDB, PT, PV e outras legendas, como vice-presidente e presidente interino.
No mesmo intervalo, Alckmin também priorizou parlamentares de São Paulo. Um terço das 30 agendas com deputados federais foi com paulistas, que tiveram mais espaço do que os de qualquer outro estado.
Outra característica da da agenda do vice-presidente que tem reforçado as suspeitas de um retorno a São Paulo é o fato de Alckmin por vezes priorizar agendas no estado às sextas ou segundas com o objetivo de emendar o final de semana na capital paulista.
“Alckmin não gosta de sair do país e tem feito viagens apenas no Brasil, sobretudo no Sudeste, e principalmente para São Paulo e estados vizinhos que têm ligações com a economia paulista”, observa um interlocutor próximo do vice-presidente.
“Não é raro que haja compromissos dele com o PSB e aliados políticos nos finais de semana em São Paulo que não entram na agenda oficial por ser uma questão partidária”.
As viagens que Alckmin tem feito a São Paulo para eventos de baixa visibilidade ou relevância para o vice-presidente, que também é ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio, também chamaram a atenção.
No início de outubro, por exemplo, o vice de Lula voou de Brasília para a capital paulista apenas para participar da abertura de um congresso da micro, pequena e média indústria, e retornou para despachar no Palácio do Planalto no mesmo dia.
De olho no agronegócio, que detém grande força política no interior paulista, chegou a viajar a São Paulo para cumprir uma única agenda em um evento ligado ao setor.
Há ainda audiências com representantes de hospitais filantrópicos, pastores de denominações evangélicas com atuação em São Paulo, sindicalistas, recepções em cidades estratégicas como Bauru e até mesmo inauguração de obras do governo federal.
A avaliação desses interlocutores mais próximos do vice é de que Lula, caso dispute a reeleição, dificilmente repetirá a dobradinha com o aliado.
A escolha de Alckmin em 2022 foi a principal credencial lulista para pavimentar a promessa de uma frente ampla contra o então presidente Jair Bolsonaro.
Mas seus aliados avaliam que nas circunstâncias atuais, a despeito dos ataques do 8 de janeiro, o vice-presidente considera seu papel cumprido na defesa da democracia.
Acreditam ainda que, como Lula terá 80 anos na data do primeiro turno em 2026, o PT buscaria um nome do núcleo duro lulista para compor a chapa.
O próprio vice, porém, não fecha as portas para uma eventual recondução à chapa petista se o convite for realizado.
Mas sabe que, se decidir disputar o Palácio dos Bandeirantes, terá pela frente um duro desafio: enfrentar o atual governador, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem 44% de avaliação positiva segundo a última pesquisa a nível estadual do Datafolha, divulgada em Brasil, e avalia pleitear reeleição.
Tarcísio tem ainda suporte da máquina pública e é forte no interior do estado, outrora um reduto do PSDB e de Alckmin, que se afastou do ex-tucano após sua aproximação com o PT e apoiou maciçamente Jair Bolsonaro em 2022.
A opção de Alckmin por Lula em 2022 causou um desgaste em sua imagem que os aliados não sabem se poderá ser superado.
De acordo com o presidente de um partido da base de Tarcísio, se por um lado a adesão à chapa petista lhe garantiu o segundo posto mais alto da República, por outro queimou as pontes de Alckmin com velhos aliados paulistas que tiveram papel importante nas suas outras três eleições ao governo do estado, duas resolvidas já no primeiro turno.
Fontes próximas a Alckmin dizem que a proximidade com os prefeitos paulistas é uma tentativa deliberada de restabelecer canais de diálogo no seu estado. Em outubro, por exemplo, ele recebeu quatro prefeitos do PSDB, seu antigo partido, para uma reunião no Planalto.
A equipe do vice-presidente também acredita que essas conversas fazem parte dos encontros marcados por Alckmin nas padarias de São Paulo, marca pessoal do ex-tucano, aos finais de semana.
Mas há um cenário em que Alckmin poderia se tornar um candidato mais viável ao Bandeirantes: se Tarcísio de Freitas decidir disputar o Palácio do Planalto em 2026, já que Bolsonaro está inelegível.
Nesse caso, ele teria que renunciar em março de 2026, e Alckmin poderia disputar contra o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), sem precisar renunciar à vice-presidência.
Por outro lado, enfrentaria o peso da máquina política do PSD de Ramuth, que, como mostramos no blog, já controla mais da metade das prefeituras paulistas em meio à decadência do PSDB no estado.
Já uma disputa para o Senado tende a ser menos atribulada para Alckmin. Isso porque as duas vagas em disputa em 2026 são encaradas como mais competitivas.
Os dois senadores paulistas — Mara Gabrilli, eleita em 2018 pelo PSDB mas hoje no PSD, e Alexandre Giordano (MDB) , que assumiu a cadeira após a morte de Major Olímpio (PSL) em 2021 – são vistos como competidores fracos em relação a Alckmin, ainda mais se ele tiver o apoio de Lula.
Seja qual for o futuro político de Alckmin, para seus aliados não há dúvida de que ele passa por São Paulo. A agenda dele está aí para provar.
Fonte: O GLOBO
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