Político é acusado pela polícia de ser o mandante do assassinato da mãe de sua filha, Antônia Araújo de Sousa

Preso na noite de segunda-feira e suspeito de ser o mandante do assassinato da mãe de sua filha, o ex-senador Telmário Mota, de 65 anos, tem um histórico de acusações de violência, casos extraconjugais e rivalidades políticas acirradas em Roraima. Telmário se projetou no cenário eleitoral como adversário ferrenho do também ex-senador Romero Jucá (MDB-RR), seu principal alvo na disputa ao Senado em 2022, quando não conseguiu se reeleger.

Ele responde a duas investigações por violência doméstica em Boa Vista (RR), uma delas relacionada a um suposto caso extraconjugal de 2015. No ano seguinte, a mulher de Telmário, Suzete Macedo, chegou a ser presa após operação da Polícia Federal revelar um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa e no governo estadual.

Interlocutores descrevem o ex-senador como dono de uma personalidade “agitada” e instável. Telmário concorreu à reeleição no ano passado pelo PROS, mas terminou na terceira colocação e ficou sem mandato, perdendo o foro privilegiado. O pedido de prisão foi despachado pela juíza de primeira instância Lana Leitão Martins, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Roraima.

Ex-presidente nacional do PROS, partido que foi incorporado ao Solidariedade neste ano, Marcus Holanda afirma que Telmário “falava alto” e “discutia constantemente” com outros parlamentares.

Ex-senador criava aves em sua propriedade — Foto: Reprodução/YouTube

— Tinha notícia de que ele bebia muito, mas comigo sempre tratou normal. Com ele tudo era muito imediatista e gostava muito de embates, cheguei a presenciar vários — afirmou ao GLOBO.

Holanda seria o primeiro suplente da chapa de Telmário ao Senado, mas decidiu se afastar da campanha em agosto de 2022, após vir à tona uma denúncia de estupro feita por uma jovem de 17 anos, filha do então senador com a servidora federal Antônia Araújo de Sousa.

Segundo boletim de ocorrência, divulgado à época pela imprensa local, a jovem relatou que Telmário teria lhe buscado de carro, em casa, a pretexto de um passeio de Dia dos Pais; uma vez dentro do veículo, o senador, que estaria sob efeito de bebida alcoólica de acordo com o relato, teria tentado tirar as roupas da filha e tocar suas partes íntimas.

Telmário, na ocasião, negou as acusações e atribuiu a denúncia a supostos “adversários” de sua campanha. A Polícia Civil investiga o caso, e havia agendado depoimento com Antônia, a mãe da vítima, para esta segunda-feira. Três dias antes, contudo, ela foi executada na saída de casa. As investigações apontam que Telmário teria ordenado o assassinato e até treinado os executores em sua fazenda.

Casado desde a década de 1970 com Suzete, de acordo com publicações dela em redes sociais, Telmário responde a outro caso de violência doméstica envolvendo um caso extraconjugal. Em dezembro de 2015, a estudante Maria Aparecida Nery de Melo prestou queixa à Polícia Civil contra o então senador por agressão.

No relato, corroborado posteriormente à Procuradoria-Geral da República (PGR), ela disse que se envolveu com Telmário ainda menor de idade, aos 16, e que ele alegava estar “pedindo o divórcio”. Após um episódio de ciúmes, ela contou ter sido agredida com socos e chutes por Telmário, e disse que recebeu uma mesada de R$ 2 mil do senador por cerca de um ano após o ocorrido. O caso foi revelado pelo jornal Folha de S. Paulo.

Em 2016, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes autorizou abertura de inquérito da PGR contra Telmário, mas o caso foi remetido ao 1º Juizado de Violência Doméstica de Boa Vista em 2018 e tramita sob sigilo.

O senador, na ocasião, estava às voltas com o desgaste político causado pela prisão de sua mulher, Suzete, em maio de 2016, no caso conhecido como “Escândalo dos Gafanhotos”, que envolvia desvio de recursos públicos através de funcionários fantasmas em Roraima. A PF apontou como um dos cabeças do esquema o ex-governador Neudo Campos (PP), um dos padrinhos políticos de Telmário, que apoiou sua esposa, Sueli Campos (PP), a sair vitoriosa na eleição ao governo estadual em 2014.

Eleito naquele mesmo ano ao Senado em ascensão meteórica, após um mandato como vereador em Boa Vista, Telmário teve também o apoio do PT, da então presidente Dilma Rousseff, e fez campanha ferrenha contra o que chamava de “oligarquia jucariana” – representada pelo então senador Romero Jucá e por seu candidato ao governo, Chico Rodrigues, que acabou derrotado por Sueli. Telmário, posteriormente, tornou-se aliado de Rodrigues, que se notabilizou por ser preso em 2020 com R$ 33 mil na cueca.

Talmário e Romero Jucá: antigos rivais — Foto: Ana Volpe/Agência Senado/15-07-2015

Jucá, porém, permaneceu como principal desafeto do ex-senador, com quem bateu boca em diferentes ocasiões. Em 2016, Telmário recorreu a investigações de corrupção na Lava-Jato para pedir a cassação do emedebista, que rebateu citando o caso de Suzete.

Já no ano passado, Telmário se apresentava na campanha como o “único capaz” de derrotar Jucá, e chamou seu antigo padrinho, o ex-governador Neudo Campos, de ser "campeão de corrupção" após ter declarado apoio ao emedebista. Nem Telmário, nem Jucá ficaram com a vaga: o senador eleito foi Dr Hiran (Republicanos), aliado do governador Antonio Denarium.

Telmário posa ao lado do governador Antonio Denarium — Foto: Reprodução

Na contramão de Jucá, um dos principais aliados do ex-presidente Michel Temer (MDB) – e considerado um dos articuladores do impeachment de Dilma –, Telmário chegou a firmar posição contra a destituição da então presidente em 2016. O posicionamento foi saudado em nota no site do PT, que classificou Telmário como um dos “defensores da democracia”.

Meses depois, porém, Telmário mudou de posição e votou a favor do impeachment, após o PT negar uma aliança com um aliado do senador na eleição à prefeitura de Boa Vista.Nascido na comunidade indígena Teso do Gavião, da etnia Macuxi, Telmário foi acusado de compra de votos em uma aldeia na campanha de 2014, mas o inquérito foi arquivado pelo STF.

No Senado, ele se alinhou ao governo Jair Bolsonaro para defender o garimpo e apresentou projetos de lei que buscavam proibir a destruição de maquinário apreendido pelo Ibama, além de retirar o porte de arma de fiscais do órgão ambiental.


Fonte: O GLOBO