Empresa não tem fábrica no país e grupo de trabalhadores reúne só 120 operários, mas mobilizou 'greve de adesão' de estivadores e obrigou a gigante de carro elétrico a sentar na mesa de negociações
Mais de uma semana depois que os mecânicos da Tesla na Suécia iniciaram uma greve para obrigar a montadora americana a aceitar um acordo coletivo de trabalho, dirigentes sindicais disseram que os representantes da empresa do bilionário Elon Musk se reuniriam com o sindicato nesta segunda-feira. Procurada pelo NYT, a Tesla não respondeu a um pedido de comentário.
A Tesla não fabrica carros na Suécia e o país é um mercado relativamente pequeno para a montadora. Mas a ação de dezenas de mecânicos está começando a ter reflexos. Os estivadores dos quatro maiores portos do país disseram que iriam parar de descarregar dos navios veículos da Tesla na terça-feira em apoio aos grevistas.
Há anos, o sindicato IF Metall vem solicitando que a montadora inicie negociações para a adoção de um acordo coletivo que definiria a base para os salários e benefícios dos cerca de 120 mecânicos contratados pela Tesla para trabalhar em suas instalações de serviços na Suécia. Cerca de 90% de todos os trabalhadores na Suécia estão cobertos por esses acordos.
Desde que o sindicato convocou a greve, em 27 de outubro, dezenas de mecânicos que são membros do sindicato têm ficado em casa, interrompendo os agendamentos de serviços para alguns motoristas da Tesla. Nem todos os membros do sindicato participaram, disse Jesper Pettersson, porta-voz do IF Metall, reconhecendo relatos de que algumas instalações de serviço pareciam não ter sido afetadas.
- Não é fácil estar em greve - admitiu Pettersson.
Mas a ação, combinada com a ameaça de envolvimento de outros sindicatos, parece ter sido suficiente para forçar a Tesla a sentar-se à mesa de negociações. Uma reunião entre o sindicato e os representantes da empresa foi agendada para esta segunda-feira, disse Pettersson.
Terceiro maior mercado para veículos elétricos do mundo
Apesar de seu tamanho relativamente pequeno, a Suécia tem a terceira maior participação de vendas de veículos elétricos do mundo, com 32%, depois da Noruega e da Islândia, de acordo com o World Resources Institute, uma organização de pesquisa. A Tesla tem uma base crescente de fãs e seu Modelo Y, um SUV fabricado na Alemanha, foi o veículo elétrico mais vendido na Suécia este ano.
Proprietário da Tesla, Elon Musk há anos resiste aos esforços para sindicalizar os trabalhadores da montadora e, em 2018, ameaçou cortar a remuneração dos funcionários dos EUA que buscavam se sindicalizar, uma declaração que mais tarde se descobriu violar as leis trabalhistas.
Risco de contágio para outros mercados
German Bender, analista do mercado de trabalho da Arena, um think tank em Estocolmo, disse que a Tesla pode "ver esse pequeno conflito na Suécia como um risco de contágio para outros mercados".
Na Alemanha, o IG Metall, um sindicato afiliado ao IF Metall da Suécia, está tentando organizar a fábrica da Tesla em Grünheide, nos arredores de Berlim.
E nos Estados Unidos, após os ganhos significativos em salários e benefícios conquistados pelo United Auto Workers depois de uma onda de seis semanas de paralisações nas três grandes montadoras de Detroit, os líderes sindicais estão de olho nos trabalhadores americanos da Tesla como parte de um esforço mais amplo para organizar fábricas não sindicalizadas nos EUA.
Greves de solidariedade
O poder das organizações trabalhistas na Suécia é considerável. Cerca de 70% da força de trabalho do país pertence a um sindicato e a lei sueca permite greves de solidariedade em apoio aos esforços de outros sindicatos.
Foi o que aconteceu em 1995, quando outra conhecida empresa dos EUA começou a fazer negócios na Suécia. A Toys R Us não estava disposta a aceitar um acordo coletivo de trabalho, e seus funcionários do varejo na Suécia entraram em greve.
Embora a empresa empregasse apenas 80 pessoas no país, outros sindicatos se uniram à sua causa, incluindo trabalhadores dos correios, do transporte e da prefeitura, que interromperam a entrega de correspondências e a coleta de lixo. Após três meses, a empresa assinou um acordo.
Em apoio à IF Metall, o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes da Suécia disse que, a partir do meio-dia de terça-feira, os trabalhadores portuários não descarregariam mais carros da Tesla.
- Quando a IF Metall pede o apoio da Transport, é importante e óbvio que nós ajudemos, para defender o acordo coletivo e o modelo do mercado de trabalho sueco - disse o sindicato dos trabalhadores em transportes.
- O IF Metall não solicitou apoio de nenhum outro sindicato, enquanto aguarda o resultado das negociações desta segunda-feira, disse Pettersson.
A Suécia depende de acordos coletivos firmados entre empregadores e sindicatos em cada setor industrial para definir os termos básicos do emprego.
Segundo o acordo que o IF Metall está buscando, os trabalhadores da Tesla ganhariam um pacote de seguro mais amplo, treinamento garantido para a transição para um emprego diferente se o seu for cortado e aumentos salariais anuais, disse o sindicato. Mesmo os trabalhadores que não pertencem a um sindicato são cobertos por acordos coletivos.
As empresas sediadas no exterior não são as únicas relutantes em apoiar o modelo centenário de acordos de negociação coletiva do país. Algumas empresas suecas, como a Klarna, uma gigante do tipo compre agora e pague depois, e o provedor de streaming Spotify, se opuseram a tais acordos, citando a necessidade de permanecerem flexíveis e ágeis no setor de tecnologia em rápida mudança.
Após oito meses de negociações, dois dos sindicatos que representam os funcionários da Klarna ameaçaram abandonar seus empregos na próxima semana. Eles conseguiram chegar a um acordo na sexta-feira, evitando uma greve, informou a empresa.
Fonte: O GLOBO
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