Estados Unidos aprovaram nesta semana novo remédio injetável para o tratamento da obesidade

Nesta quarta-feira, a Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, aprovou o medicamento Zepbound, da farmacêutica Eli Lilly, para o tratamento da obesidade. O fármaco é mais um das chamadas canetas emagrecedoras, drogas injetáveis que têm proporcionado um emagrecimento inédito – com uma eficácia que chega perto da cirurgia bariátrica.

O Zepbound tem como princípio ativo a tirzepatida, mesma substância do Mounjaro - medicamento semelhante da Eli Lilly, mas que tem como indicação o tratamento de diabetes tipo 2. É o mesmo caso do Ozempic e do Wegovy, em que ambos são à base de semaglutida, e produzidos pela Novo Nordisk, mas o primeiro é oficialmente para pacientes diabéticos, enquanto o segundo é destinado à perda de peso.

Todos esses medicamentos fazem parte da classe chamada análogos de GLP-1, que tem sido apontada pelos especialistas como uma verdadeira revolução na forma como se trata a obesidade, uma doença crônica e multifatorial.

— Antes a obesidade não era vista como uma doença, então não tínhamos tantas opções de medicamentos. Só que agora, além de reconhecida, em todo o mundo nós vemos uma piora do cenário, um crescimento de casos que só tende a aumentar. Então tem um olhar maior — explica o médico endocrinologista Fabiano Serfaty, doutor pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Abaixo, confira quais são as "canetas emagrecedoras" disponíveis hoje, quais estão em análise e em desenvolvimento, os valores* e as eficácias, e entenda como esses fármacos atuam no organismo.

Zepbound
  • Nome comercial: Zepbound
  • Substância: Tirzepatida
  • Tipo: Análogo de GLP-1 e GIP
  • Farmacêutica: Eli Lilly
  • Situação: Aprovado nos EUA, em análise na Anvisa
  • Objetivo: Destinado para tratamento de obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso
  • Dosagem: Disponível em 2,5 mg, 5 mg, 7,5 mg, 10 mg, 12,5 mg e 15 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
  • Eficácia: Segundo os estudos SURMOUNT, a perda de peso após 72 semanas foi de 15%, na dose de 5 mg; 19,5%, na de 10 mg, e 20,9%, na de 15 mg. O acompanhamento com pessoas sem diabetes por até 84 semanas mostrou que esse percentual pode chegar a 26,6% nas dosagens maiores
Mounjaro
  • Nome comercial: Mounjaro
  • Substância: Tirzepatida
  • Tipo: Análogo de GLP-1 e GIP
  • Farmacêutica: Eli Lilly
  • Situação: Aprovado pela Anvisa para maiores de 18 anos. Ainda não disponível nas farmácias, nem no SUS
  • Objetivo: Destinado para diabetes tipo 2. Uso para perda de peso é considerado off-label (finalidade diferente daquela da bula)
  • Dosagem: Disponível em 2,5 mg, 5 mg, 7,5 mg, 10 mg, 12,5 mg e 15 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
  • Eficácia: Segundo os estudos SURMOUNT, a perda de peso após 72 semanas foi de 15%, na dose de 5 mg; 19,5%, na de 10 mg, e 20,9%, na de 15 mg. O acompanhamento com pessoas sem diabetes por até 84 semanas mostrou que esse percentual pode chegar a 26,6% nas dosagens maiores
  • Valor: Ainda não foi definido, depende de decisão da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED)
Ozempic
  • Nome comercial: Ozempic
  • Substância: Semaglutida
  • Tipo: Análogo de GLP-1
  • Farmacêutica: Novo Nordisk
  • Situação: Disponível nas farmácias, não no SUS. Aprovado para maiores de 18 anos
  • Objetivo: Destinado para diabetes tipo 2. Uso para perda de peso enquanto o Wegovy não chega no Brasil é considerado off-label (finalidade diferente daquela da bula)
  • Dosagem: Disponível em 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
  • Eficácia: Os estudos para perda de peso foram feitos apenas com a dosagem de 2,4 mg. Nessa dose, a perda de peso foi de até 17% após 68 semanas, segundo estudo na Lancet
  • Valor: Preço máximo do de 1g varia entre R$ 994,03 e R$ 1.289,75, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
Wegovy
  • Nome comercial: Wegovy
  • Substância: Semaglutida
  • Tipo: Análogo de GLP-1
  • Farmacêutica: Novo Nordisk
  • Situação: Aprovado pela Anvisa para maiores de 12 anos, previsão para chegar ao país em 2024
  • Objetivo: Destinado para tratamento de obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso
  • Dosagem: Disponível em 0,25 mg, 0,5 mg, 1 mg, 1,7 mg e 2,4 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por semana
  • Eficácia: A perda de peso foi de até 17% após 68 semanas, segundo estudo na Lancet
  • Valor: Preço máximo do de 2,4g varia entre R$ 2.203,68 e R$ 2.484,85, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
Saxenda
  • Nome comercial: Saxenda
  • Substância: Liraglutida
  • Tipo: Análogo de GLP-1
  • Farmacêutica: Novo Nordisk
  • Situação: Disponível nas farmácias, não no SUS. Aprovado a partir de 12 anos
  • Objetivo: Destinado para tratamento de obesidade ou sobrepeso com pelo menos uma comorbidade relacionada ao peso
  • Dosagem: Disponível em e 0,6 mg, 1,2 mg, 1,8 mg, 2,4 mg ou 3 mg. Dosagens mais baixas são usadas no início para evitar efeitos colaterais. Injeção uma vez por dia
  • Eficácia: Segundo o estudo SCALE, a perda de peso foi de 6% na dosagem de 3 mg por dia após 56 semanas
  • Valor: Preço máximo do de 3 mg varia entre R$ 1.552,0 e R$ 1.750,10, a depender da alíquota do ICMS em cada estado
*Os valores máximos são definidos pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Cada caixa pode render doses diferentes, portanto a duração vai depender do uso do paciente. Geralmente, rendem um mês.

Qual é o remédio para perda de peso mais eficaz?

As eficácias foram avaliadas em conjunto com mudanças de hábitos como alimentação e atividade física. Além disso, podem variar não devido ao potencial do medicamento, mas pelo tempo em que os pacientes foram acompanhados.

Por exemplo, embora a tirzepatida tenha alcançado o maior efeito, de até 26,6% de redução do peso, ele foi observado no período de 84 semanas, o mais longo entre todos os estudos.

Serfaty destaca também que essa perda de peso pode não se sustentar a longo prazo se não houver uma mudança de hábitos e um planejamento para quando o remédio for interrompido.

— O medicamento pode ajudar, mas precisa haver essa virada de chave no estilo de vida — afirma.

Como agem os medicamentos?

No caso da semaglutida e da liraglutida, eles simulam apenas o hormônio GLP-1 no corpo humano. Existem receptores dele em diversas partes do corpo: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina.

Por isso, inicialmente, os fármacos do tipo foram pensados para diabetes tipo 2. Além do Ozempic, destinado a esse público, existe o Victoza, que é a versão da liraglutida para pacientes diabéticos.

Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Esses mecanismos levam a pessoa a sentir menos fome e, consequentemente, reduzir as calorias ingeridas por dia.

— As moléculas possuem uma estrutura química muito parecida com o hormônio, mas com a vantagem de não precisarmos estar alimentados para que eles exerçam seus efeitos — diz Serfaty.

A tirzepatida é uma ainda nova geração, que tem o diferencial de ser um duplo agonista, simulando não só o hormônio GLP-1 como também um outro intestinal chamado GIP. Já a retatrutida é o mais recente, sendo um triplo agonista: além do GLP-1 e do GIP, simula também o GCC.

— Os agonistas duplos e triplo são o futuro, eles são a grande novidade. Por enquanto, o Mounjaro é o que está mais perto do nosso mercado brasileiro. Mas em um futuro muito breve todas essas moléculas estarão mais disponíveis — afirma o médico.

Quais são os riscos e efeitos colaterais?

Todos os medicamentos devem ser utilizados somente mediante indicação médica e têm efeitos colaterais. Na maior parte são leves, como náuseas, diarreia, baixo nível de açúcar no sangue (hipoglicemia), vômitos, tontura, indigestão, gastrite, refluxo, constipação e perda de apetite.

Segundo Serfaty, os mais observados são os enjoos e a constipação, que podem levar parte dos pacientes a abandonarem o tratamento.


Fonte: O GLOBO