A viajante Nataly Castro, de 28 anos, está atualmente no continente africano e precisa de patrocínio para conseguir bater o recorde de completar os 200 países reconhecidos pela ONU em menos de 18 meses
O sonho de desbravar o mundo da influenciadora e jornalista Nataly Castro, de 28 anos, surgiu ainda quando criança como uma válvula de escape ao racismo que enfrentava na escola. Desde o ensino fundamental ouvindo que era uma “negra metida”, somente por se interessar por cultura e querer conhecer outros países, a meta dela, aos 19 anos, passou a ser conseguir uma bolsa de estudos na Irlanda. E ela não somente conseguiu como, anos depois, ampliou o sonho: se tornar a primeira mulher a pisar nos 200 países do mundo reconhecidos pela ONU em tempo recorde — menos de 18 meses.
— A Nataly sempre foi muito dedicada, estudava por horas e trocava festas pela biblioteca e teatro. Mas o racismo quase tirou minha filha de mim. Ela tentou suicídio por três vezes até que a oportunidade da bolsa de estudos na Irlanda apareceu — relata a mãe da jornalista, Janaína Campos. — Quando ela me contou, eu não acreditava ser possível porque não tínhamos condições financeiras. Mas ela me mostrou o quão realizador pode ser lutar por um sonho.
Filha de pai marceneiro e mãe professora, em 2014 Nataly começou uma saga para arrecadar € 3 mil euros (cerca de R$ 15 mil) para conseguir viajar para a Irlanda. Na época, ela trabalhava como atendente de telemarketing e, no tempo livre, preparava doces para vender no trabalho, nas ruas e nos transportes públicos de São Paulo. Também com a ajuda dos familiares e vaquinhas, ela conseguiu a verba que precisava para ir estudar inglês fora.
— Lembro como se fosse hoje de voltar do trabalho e encontrar a Nataly anunciando os doces no ônibus. Foi uma festa quando eu consegui uma bonificação no trabalho de R$ 10.580,00 e comprei as passagens aéreas dela. Fomos ao Brás, compramos roupas de frio para ela, e consegui ajudar minha filha a realizar um sonho — conta.
Janaína Campos (mãe), a influenciadora Nataly Castro, e Nayane Campos (prima) — Foto: Divulgação
Avó vendeu carro para ajudar na viagem
O início da jornada rumo aos 200 países começou há quatro anos. Inspirada na representatividade da jornalista Glória Maria, ela começou a enviar milhares de e-mails em busca de patrocínio. Inicialmente, em vão. Por isso, para impulsionar a arrecadação, Janaína conta que a filha pegou um empréstimo e abriu uma cafeteria no Butantã, na Zona Oeste da capital paulista, mas o negócio não foi para frente devido à pandemia.
— Ela não conseguia vender uma água na cafeteria e os patrocinadores não acreditavam no sonho dela. Mas ela não desistiu. Seguiu fazendo rifas e trabalhando até que apareceram alguns patrocinadores que a ajudaram — relembra a mãe.
Nataly iniciou as viagens no final do ano passado, rumo a países do continente americano e Europa onde amigos da época do intercâmbio na Irlanda a ajudaram com acomodação, a fim de que ela pudesse economizar.
Quando chegou o momento de desbravar o continente africano e a Oceania, a situação ficou mais complicada financeiramente. Por isso, a avó decidiu vender o carro que havia comprado para ajudar o sonho da neta. Até o momento, a jovem já passou por mais de 150 países, sendo sete deles da África (Senegal, Gâmbia, Guiné Bissau, Guiné, Serra Leoa e Libéria), onde a viagem está sendo realizada por via terrestre, também para economizar. Por ser um conjunto de ilhas, a Oceania precisará ser feita via aérea, mas Nataly ainda depende de patrocínio. A meta é terminar a volta ao mundo até dezembro.
— A meta dela era acabar a volta ao mundo em setembro, mas os planos foram adiados por falta de investidores. Para reservar a maior quantidade de dinheiro possível, ela tem contado com a ajuda de moradores próximo às fronteiras que a acolhe em casa para economizar com hospedagem. Eu fico com medo de ela ir para casa de estranhos, mas ela diz que sente quando a pessoa tem bom coração — afirma a mãe da jornalista.
Jornalista planeja projeto para jovens pobres
Além de tentar disputar o recorde mundial do Guinness, de mulher que viajou todos os países em tempo recorde, Nataly busca iniciar um projeto de bolsas de intercâmbio para jovens brasileiros de baixa renda estudarem no exterior.
— Para quebrar o recorde ela precisa completar a viagem em até 18 meses, que é o tempo que uma outra pessoa já fez. Todos os países que ela passa tem que tirar fotos, pegar testemunhas, documentar os episódios e preencher um formulário do próprio Guinness, a fim de juntar todas essas evidências e se tornar recordista — explica a prima da influencer, Nayane Campos.
Viagens na lama, banho de caneca e noites com ratos
Na África, ela tem mostrado as dificuldades enfrentadas para cruzar as fronteiras: são horas e horas dentro de ônibus ou transportes particulares, em meio a lama, florestas e chuva. Por estar visitando essencialmente países que vivem abaixo da linha da pobreza, segundo a ONU, o estilo de viagem de Nataly também é simples, com banhos gelados de caneca, noites passadas em galpões com ratos e baratas, e alimentação escassa.
— Estou cansada, exausta, literalmente destruída porque me alimento mal. Não consigo ir ao banheiro há uma semana porque fico mais na estrada e não tem muita comida. Também não como de tudo porque não sei a procedência, não sei a água que foi usada no preparo. Tenho me alimentado apenas de biscoito, fruta, milho e batata. Conto nos dedos quando comi arroz, feijão e carne — relata a jovem, que através dos stories, no Instagram, mostrou que o acesso à água potável é escasso em alguns países, o que a torna imprópria para o consumo.
Fonte: O GLOBO
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