Governador Tarcísio de Freitas critica movimenta e diz que não aceitar programa de privatizações é não aceitar resultado das eleições do ano passado
Funcionários do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da Sabesp (estatal de saneamento básico) e da Fundação Casa entraram em greve nesta terça-feira, em São Paulo. Assim como no início do mês passado, o pano de fundo da paralisação é político: os sindicatos dessas categorias são contrários à privatização da companhia de saneamento básico e à concessão das linhas metroferroviárias. O projeto de desestatização da Sabesp avançou na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e já deve ser votado pelos deputados estaduais em dezembro.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), criticou a paralisação, a terceira que enfrenta desde que assumiu o Palácio dos Bandeirantes em janeiro, e disse que o movimento era político, uma vez que a greve era "sem pauta, sem reivindicação salarial".
— São contra aquilo que nós defendemos ao longo da campanha, de estudar privatizações, concessões, participação do capital privado nos serviços públicos. Foi um compromisso. E essa posição foi vitoriosa. Não aceitar essa posição é não aceitar o resultado das urnas, é não aceitar o diferente — declarou Tarcísio.
A greve afeta todas as nove linhas estatais do Metrô e do trem. Já as linhas 4 (Amarela), 5 (Lilás), 8 (Diamante) e 9 (Esmeralda), concedidas à iniciativa privada, funcionam normalmente nesta terça-feira.
Por volta das 4h, todas as linhas estatais estavam paralisadas. A partir das 5h45, algumas começaram a operar parcialmente, segundo informações do governo paulista.
Veja como está o funcionamento das linhas do metrô e trem nesta terça-feira:
- 1 (Azul) - funcionado de Tiradentes até Ana Rosa
- 2 (Verde) - funcionado do Alto do Ipiranga até Clínicas
- 3 (Vermelha) - funcionando do Bresser até Santa Cecília
- 7 (Rubi/CPTM) - funcionando da Luz a Caieiras
- 10 (Turquesa/CPTM) - fechada
- 11 (Coral/CPTM) - funcionado da Luz a Guaianases
- 12 (Safira/CPTM) - funcionamento integral com intervalo de 8 minutos
- 13 (Jade/CPTM) - funcionamento integral com intervalo de 30 minutos
- 15 (Prata) - fechada
Na Sabesp, a Justiça fixou 70% do contingente ligado à prestação de serviços essenciais de saneamento básico, tratamento e abastecimento de água, sob multa diária de R$ 30 mil em caso de descumprimento.
De acordo com o governo paulista, todos os sistemas de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos seguem operando regularmente. Os ônibus municipais e intermunicipais circulam normalmente.
Rodízio municipal de carros suspenso
Por conta da greve, a prefeitura da capital e o governo do estado reforçaram a frota de ônibus municipais e intermunicipais. O rodízio municipal de veículos está suspenso o dia todo. Governo e prefeitura determinaram ponto facultativo em todos os serviços públicos da capital.
No caso do estado, os profissionais da educação são exceção, pois estão envolvidos na preparação do Provão Paulista, marcado para o dia 29. Os serviços de segurança pública também não serão afetados, assim como os restaurantes e postos móveis do Bom Prato, que continuam oferecendo refeições. Consultas em Ambulatórios Médicos de Especialidades da capital e em outras unidades de saúde estaduais terão seus reagendamentos garantidos, assim como nos postos Poupatempo.
Representantes de sindicatos protestam em uma das entradas das estação Santa Cruz, em São Paulo. Parada também atende a linha 5 (Lilás) que é operada pela iniciativa privada e segue funcionando nesta terça-feira — Foto: Hyndara Freitas
A prefeitura informou que decidiu manter o funcionamento de escolas e creches, unidades de saúde, serviços de segurança urbana, de assistência social, do serviço funerário, além de outras unidades cujas atividades não possam sofrer descontinuidade. Consultas, exames e cirurgias que tenham sido perdidas por pacientes também poderão ser reagendadas.
Motivação política
A greve foi articulada pelos sindicatos em conjunto com os partidos de oposição ao governo paulista , que também marcaram para esta terça-feira uma nova audiência pública na Alesp para debater a privatização da Sabesp, um dos principais projetos da gestão Tarcísio de Freitas. O governador afirmou, em nota divulgada na noite de segunda-feira, que a greve é "abusiva e política" e que foi imposta a partir da vontade de uma "minoria" dos metroviários.
Integrantes do partido Unidade Popular (UP) e do Movimento Luta de Classe se revezaram, na Barra Funda, para discursar para quem passava pela estação. O grupo chegou ao local às 4h e pendurou cartazes com frases contrárias à privatização da Sabesp e concessão do Metrô.
]Nos discursos, eles citaram os recentes episódios envolvendo a distribuidora de energia Enel como justificativa para não privatizar a companhia de saneamento. Lembraram ainda que a empresa que cuida da eletricidade da capital e cidades da região metropolitana demitiu funcionários após a desestatização. E a acusaram de colocar a “culpa na chuva” pelo apagão que perdurou quase uma semana na capital e na Região Metropolitana.
Representantes de partidos de oposição ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) protestaram em frente a estação Barra Funda, do metrô — Foto: Bianca Gomes
O alvoroço busca criar uma mobilização social contra o Projeto de Lei (PL) que autoriza a venda da estatal de saneamento. A proposta está marcada para ir a plenário pela primeira vez nesta terça, com a expectativa de que as discussões se estendam pelo menos até 6 de dezembro.
Os sindicatos também protestam contra os planos do governador de privatizar linhas de metrô e trem. A Linha 7 (Rubi) deve ser a primeira a ser entregue à iniciativa privada na atual gestão, pois faz parte do acordo para construção do trem intercidades até Campinas — a empresa que ganhar a disputa para tocar a obra vai operar a linha que hoje é da CPTM.
Em seguida, a ideia é conceder os outros ramais do transporte ferroviário, mas Tarcísio já está estudando também privatizar as quatro linhas do metroviário paulista que ainda são operadas pelo poder público. Segundo o governador, a CPTM e o Metrô passariam a ter “um novo papel”, mais focado na elaboração de projetos de expansão e melhorias do sistema, mas saindo completamente da operação diária das linhas, sob o argumento de que as estatais estão com a saúde financeira comprometida.
A gestão Tarcísio é a que mais enfrentou greves do sistema metroferroviário em um só ano na última década. Entre 2013 e 2023, os funcionários do metrô fizeram um total de 11 greves, de acordo com dados levantados pelo diretor do Sindicato dos Metroviários, Altino Prazeres, a pedido do GLOBO. Só este ano já foram três: em março, em outubro e a desta terça.
Paralisação de linhas do metrô e da CPTM, em São Paulo, gera aumento na procura por ônibus, na região da Vila Mariana, na Zona Sul da capital — Foto: Hyndara Freitas
O ato foi organizado por dezenas de sindicatos e movimentos sociais, que pedem “serviços públicos de qualidade” e preservação dos direitos do funcionalismo no estado de São Paulo.
Além dessas três greves que duraram um dia inteiro, no feriado de 12 de outubro houve uma paralisação surpresa que afetou o funcionamento de quatro linhas de metrô por cerca de três horas. O protesto foi uma resposta do sindicato às advertências dadas pelo Metrô a operadores de trens que haviam se recusado a treinar outros funcionários a operar os veículos.
Fonte: O GLOBO
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