Maisa da Rocha, de 23 anos, foi falsamente acusada de ter tentado sequestrar uma criança em uma praça

Presa por engano em Oviedo, na Espanha, a brasileira Maisa da Rocha, de 23 anos, afirmou que passou quatro dias sem conseguir comer e com medo de ser agredida pelas outras detentas do presídio. Mesmo após sua soltura ela disse que não recebeu seu celular de volta da polícia, teme sair nas ruas e busca atendimento médico para superar o trauma. A brasileira foi falsamente acusada de ter sequestrado uma criança em uma praça próxima de sua casa, e a história só foi esclarecida quando uma outra moça se apresentou à delegacia, o que terminou por inocentar a brasileira.

— Na cela eu estava gritando por que isso estava acontecendo comigo, que eu estava trabalhando e não estava entendendo nada. Mas colocaram as algemas em mim e me levaram para a cadeia. Quando cheguei, a policial me perguntou o que havia acontecido, eu disse a ela que nem sabia por que ela estava ali e ela e seu colega disseram que todos diziam a mesma coisa. Eu pensei que isso só acontecia no cinema! — disse a brasileira em entrevista ao jornal espanhol El Diario.

O drama de Maisa começou após a avó de uma criança de 5 anos denunciar na delegacia uma suposta tentativa de sequestro cometida por uma moça ruiva, como Maisa. A polícia chegou à brasileira, no dia 7 de outubro, porque ela mora perto da praça, além das características físicas. Ela mostrou vídeos na sua conta do TikTok que serviriam de álibi mas ainda assim foi mantida por três dias na delegacia, o período máximo permitido, e depois ficou mais um dia no presídio feminino, após a justiça expedir um pedido de prisão provisória alegando risco de fuga.

Ao tomar conhecimento que havia uma inocente presa, a mulher que protagonizou o episódio de tentativa de sequestro denunciado se apresentou na delegacia. Ela explicou que apenas tentou brincar com uma criança porque ela parecia sozinha, e que foi embora com a chegada da avó.

Durante o período detida, Maisa disse que não conseguia comer nada e que não recebeu remédios mesmo após relatar dor de cabeça e outros problemas.

— Eu disse ao policial que estava não entendia nada do que estava acontecendo comigo porque não tinha feito nada. Eu não comia há dois dias e estava com uma forte dor de cabeça, mas ele me disse que se eu quisesse um comprimido, me levariam algemada ao posto de saúde e, se não, eu deveria esperar. Esperei mas não me deram o remédio — complementou.

A brasileira disse que sofreu "grande impacto emocional" e que precisou receber roupas novas porque as suas estavam com forte odor. Ao chegar na prisão, disse ter ficado assustada com os "avisos" dos agentes, de que ela poderia ser agredida pelas outras detentas. O próprio Ministério Público destacou que ela era uma presa de alto risco, por causa da natureza de seu suposto crime.

— Na prisão me disseram que as pessoas não saíam tão rápido. Quando disse em voz alta que deveria ser para sair da prisão, me disseram para não ter muitas esperanças porque “as pessoas que entram aqui não saem tão rapidamente” — disse. — Na cela eu ficava gritando por que isso estava acontecendo comigo, que eu sou trabalhadora, eu não entendia nada — acrescentou.

Maisa hoje agradece à moça que se apresentou na delegacia e provou sua inocência. Dez dias depois da soltura, polícia de Oviedo publicou um comunicado de imprensa no qual reconhecia oficialmente que tudo se devia a “um mal-entendido". Mesmo assim, Maísa perdeu seu emprego e agora luta pela reparação na justiça.

Enquanto isso, contou ao jornal El Diário que continua tendo pesadelos e sofre com ansiedade. Por isso, busca tratamento médico. A brasileira acrescenta que não recebeu o seu celular de volta e que ninguém lhe pediu desculpas e espera que ao menos a família da criança peça perdão pelo sofrimento e pelas consequências que sofreu.


Fonte: O GLOBO