Presidente do PSD ajudou o deputado do PSOL a se encontrar com empresários da construção civil e do comércio, setores resistentes ao nome do parlamentar

Embora caminhe para apoiar a reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, não pretende fechar as portas ao líder nas pesquisas, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Nos bastidores, aliados enxergam em acenos ao candidato da esquerda uma tentativa de Kassab se cacifar para indicar a vice na chapa à reeleição do emedebista.

Secretário de Governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), o cacique do PSD atuou nas últimas semanas para ajudar Boulos a conseguir agendas com integrantes da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais (Secovi) paulista. A informação foi revelada pela colunista do GLOBO Bela Megale.

Os dois setores são resistentes ao nome de Boulos e têm forte influência de Kassab, que foi prefeito de São Paulo entre 2006 e 2012.

Ao entorno do prefeito, o presidente do PSD negou que tenha ajudado o principal adversário do emedebista. Em nota, a Secovi-SP disse que não houve contato para viabilizar eventual agenda com candidatos à prefeitura.

Agendas de pré-campanha

Como mostrou O GLOBO, o deputado do PSOL tem participado de jantares e rodas de conversa com setores resistentes à sua candidatura, como empresários, integrantes do mercado financeiro e do setor imobiliário.

O aceno de Kassab a Boulos causou incômodo em aliados de Nunes, que davam como certo o apoio do PSD à reeleição do prefeito. Na avaliação de correligionários de Kassab, o gesto na direção de Boulos soa como uma tentativa de valorizar o próprio passe e se cacifar para entrar na disputa pela vice de Nunes, indicando um nome do PSD. O PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro, e o Republicanos, do governador Tarcísio, são os favoritos para ocupar o posto.

À frente de uma das mais importantes secretarias do governo estadual, Kassab aumentou sua influência em todo o estado este ano. Ele multiplicou por cinco a quantidade de prefeitos do PSD em São Paulo. Em 2020, eram 65, e agora, são 329, mais da metade do total do estado.

Integrantes do PSD afirmam reservadamente que é praticamente impossível Kassab não embarcar no projeto de reeleição de Nunes. Sobretudo porque os vereadores da sigla estão ligados à máquina paulistana. Outro motivo é o fato de uma possível vitória de Boulos ser prejudicial a Tarcísio, de quem Kassab é aliado de primeira hora e quer ser vice na próxima eleição estadual.

Embora a articulação de Kassab com Boulos tenha causado um mal-estar com a campanha de Nunes, ela não surpreendeu. O presidente do PSD conseguiu sair das eleições de 2022 com três ministérios no governo Lula e uma das mais relevantes secretarias da gestão Tarcísio, aliado de Bolsonaro. Agora, ele articula para ter o apoio do MDB, partido de Nunes, e do Republicanos na próxima eleição para o comando da Câmara dos Deputados. A aposta de Kassab é no deputado Antônio Brito (BA).

O entorno de Boulos enxerga a aproximação dos dois com bons olhos. Dizem que ela faz parte da estratégia de dialogar mais com o centro. Na primeira reunião com a coordenação política de sua pré-campanha, Boulos fez elogio público à gestão de Kassab na prefeitura, citando a Lei Cidade Limpa como um importante legado.


Fonte: O GLOBO