Grupo aboliu a cobrança da mensalidade de R$ 950 de seus integrantes em liberdade
Depois de dominar os presídios brasileiros, controlar a fronteira com o Paraguai e se apoderar de alguns portos brasileiros, o mais recente plano de expansão da maior facção criminosa de São Paulo se dá rumo ao continente europeu. Cerca de 75% do faturamento da facção, estimado em US$ 1 bi ao ano, já vem do tráfico internacional para a Europa, segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
O comércio da cocaína tipo exportação se tornou tão lucrativo que o grupo dispensou outras fontes de arrecadação para arcar com suas despesas. Em novembro passado, a organização criminosa aboliu a cobrança da mensalidade de R$ 950 de seus integrantes em liberdade, conhecida como cebola, assim como as rifas que fazia para arrecadar fundos para o caixa da organização.
— Hoje, praticamente o único negócio da facção é o tráfico internacional. Grande parte da droga que circula na Europa passa na mão da facção, que atua ali em parceria com outras máfias. E a organização precisa ter zero integrante lá para isso acontecer — afirmou Gakiya.
Um dos principais nomes do combate à facção, Gakiya acompanha a dinâmica da facção desde 1991, e testemunhou o início da investida do grupo no mercado internacional. Era final de 2016 quando o grupo decidiu se aventurar pela Europa, e inaugurou o setor que viria a se chamar "tomate", em referência à primeira carga usada para enviar droga.
— Hoje, praticamente o único negócio da facção é o tráfico internacional. Grande parte da droga que circula na Europa passa na mão da facção, que atua ali em parceria com outras máfias. E a organização precisa ter zero integrante lá para isso acontecer — afirmou Gakiya.
Um dos principais nomes do combate à facção, Gakiya acompanha a dinâmica da facção desde 1991, e testemunhou o início da investida do grupo no mercado internacional. Era final de 2016 quando o grupo decidiu se aventurar pela Europa, e inaugurou o setor que viria a se chamar "tomate", em referência à primeira carga usada para enviar droga.
No começo, ainda na fase de teste, a organização criminosa mandava cerca de 300 quilos por mês para o velho mundo. Atualmente, de acordo com Gakiya, exporta uma média de três a quatro toneladas por mês.
Segundo o promotor, a facção atua como um intermediário. Compra a droga dos países andinos produtores da folha de coca e traz até os portos brasileiros. Em torno de 90% da cocaína enviada para a Europa, diz, vai pela via marítima, em navios, lanchas rápidas e barcos pesqueiros. Parte dessa mercadoria ilícita é encaminhada pela rota africana, menos fiscalizada e mais passível de corrupção.
Segundo o promotor, a facção atua como um intermediário. Compra a droga dos países andinos produtores da folha de coca e traz até os portos brasileiros. Em torno de 90% da cocaína enviada para a Europa, diz, vai pela via marítima, em navios, lanchas rápidas e barcos pesqueiros. Parte dessa mercadoria ilícita é encaminhada pela rota africana, menos fiscalizada e mais passível de corrupção.
Na costa Ocidental da África, faz-se o transbordo da droga, resgatada então pelas máfias italiana, a Nhangreta, e dos Bálcãs, que distribuem em seguida pelos países europeus.
— É um negócio de baixo risco. Se a carga é descoberta, perde só a droga e, no máximo, pega quem está transportando. O custo-benefício é muito alto, nada dá tanto lucro — opinou Gakiya, lembrando que o quilo da cocaína pura, tipo exportação, é comprado na Colômbia e no Peru por até US$ 1.800 e vendido por US$ 37 mil na Europa e US$ 127 mil na Ásia.
Como a principal facção criminosa paulista envia drogas para a Europa — Foto: Editoria de Arte
Não existe uma estimativa atual do número de integrantes da facção no exterior, segundo Gakyia. A última planilha da facção com o número de membros fora do Brasil é de novembro de 2021 - na época, a organização tinha 1.545 batizados em países da América do Sul e Europa.
— É um negócio de baixo risco. Se a carga é descoberta, perde só a droga e, no máximo, pega quem está transportando. O custo-benefício é muito alto, nada dá tanto lucro — opinou Gakiya, lembrando que o quilo da cocaína pura, tipo exportação, é comprado na Colômbia e no Peru por até US$ 1.800 e vendido por US$ 37 mil na Europa e US$ 127 mil na Ásia.
Como a principal facção criminosa paulista envia drogas para a Europa — Foto: Editoria de Arte
Não existe uma estimativa atual do número de integrantes da facção no exterior, segundo Gakyia. A última planilha da facção com o número de membros fora do Brasil é de novembro de 2021 - na época, a organização tinha 1.545 batizados em países da América do Sul e Europa.
O promotor Gakyia ressalta que o grupo, enquanto organização, ainda não tem uma presença física forte no continente europeu - daí a necessidade de se associar a outras máfias para fazer a distribuição da cocaína. O que há são brasileiros presos por tráfico de drogas em países como Portugal, que batizam novos membros dentro dos presídios, inclusive criminosos de nacionalidade europeia.
Negócios próprios
A facção tem expandido sua presença em outros países da América do Sul e na África e Europa, e controla uma série de etapas da cadeia de fornecimento de cocaína, informa o Global Report on Cocaine 2023, relatório do braço da ONU para Drogas e Crime (UNODC). Mas o cenário criminal no Brasil, ressalta o documento, é altamente fragmentado e muitos grupos criminais menores agora estão também operando o comércio da cocaína, frequentemente se especializando em logística.
Parte desses criminosos são associados à facção ou até mesmo integrantes do grupo, mas operam seus próprios negócios, independentes da facção. Gakiya explica que os membros da organização não são proibidos de vender droga. Pelo contrário, são até incentivados. Desde que não tomem fornecedores e clientes do grupo.
Um exemplo é o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho e tido como maior fornecedor de armas e pasta de cocaína para a facção, segundo investigações. Embora nunca batizado pela facção e sem função na hierarquia da organização, era uma espécie de gerente do chefe Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção.
Negócios próprios
A facção tem expandido sua presença em outros países da América do Sul e na África e Europa, e controla uma série de etapas da cadeia de fornecimento de cocaína, informa o Global Report on Cocaine 2023, relatório do braço da ONU para Drogas e Crime (UNODC). Mas o cenário criminal no Brasil, ressalta o documento, é altamente fragmentado e muitos grupos criminais menores agora estão também operando o comércio da cocaína, frequentemente se especializando em logística.
Parte desses criminosos são associados à facção ou até mesmo integrantes do grupo, mas operam seus próprios negócios, independentes da facção. Gakiya explica que os membros da organização não são proibidos de vender droga. Pelo contrário, são até incentivados. Desde que não tomem fornecedores e clientes do grupo.
Um exemplo é o narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho e tido como maior fornecedor de armas e pasta de cocaína para a facção, segundo investigações. Embora nunca batizado pela facção e sem função na hierarquia da organização, era uma espécie de gerente do chefe Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder da facção.
Antes de ser preso, em abril de 2020, em Maputo, capital de Moçambique, chegou a enviar para a Europa, como pessoa física, cerca de quatro toneladas de cocaína por mês.
— O lucro era tanto que ele abandonou o tráfico interno, doou as biqueiras dele no Brasil para funcionários mais antigos. O risco de vender aqui é maior — contou Gakiya. — Ainda existe muito tráfico particular, além do da facção. No mesmo canal, vai a droga da liderança X, no particular, e a da própria facção.
Trabalho em rede
Uma operação recente da Polícia Federal ilustra a atuação dos criminosos em conjunto com integrantes da facção. Batizada de Dontraz, a operação prendeu o sérvio Aleksandar Nesic, apontado pelos investigadores como representante no Brasil da máfia dos Balcãs, responsável pela exportação da cocaína para distribuição no mercado europeu, usando a logística de membros do grupo criminoso.
— O lucro era tanto que ele abandonou o tráfico interno, doou as biqueiras dele no Brasil para funcionários mais antigos. O risco de vender aqui é maior — contou Gakiya. — Ainda existe muito tráfico particular, além do da facção. No mesmo canal, vai a droga da liderança X, no particular, e a da própria facção.
Trabalho em rede
Uma operação recente da Polícia Federal ilustra a atuação dos criminosos em conjunto com integrantes da facção. Batizada de Dontraz, a operação prendeu o sérvio Aleksandar Nesic, apontado pelos investigadores como representante no Brasil da máfia dos Balcãs, responsável pela exportação da cocaína para distribuição no mercado europeu, usando a logística de membros do grupo criminoso.
Uma de suas cargas, de acordo com a PF, foi interceptada em águas internacionais na costa de Cabo Verde em abril do ano passado. O pesqueiro de bandeira brasileira Alcatraz I, com origem em Fortaleza, Ceará, foi interceptado com 5,4 toneladas de cocaína e sete tripulantes (cinco brasileiros e dois montenegrinos) a bordo.
Segundo o delegado PF Alexandre Custódio Neto, que conduziu a investigação, Nesic contratava, entre outros, a logística de integrantes da facção da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, para o transporte da droga até a costa africana.
Segundo o delegado PF Alexandre Custódio Neto, que conduziu a investigação, Nesic contratava, entre outros, a logística de integrantes da facção da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, para o transporte da droga até a costa africana.
Com a ajuda de lanchas rápidas, a cocaína era levada até alto-mar para o transbordo para outras embarcações e, na sequência, seguia para o Oeste da África. De lá, cabia a outras máfias resgatarem a droga.
— Hoje, as organizações estão operando em rede, como é o caso desta que investigamos. Não existe um único cartel que domina desde a saída da droga lá do produtor nos países andinos até o consumidor final. É tudo fragmentado, terceirizado —afirmou Custódio.
O sérvio Aleksandar Nesic e a mulher Milena. Suspeito de exportar cocaína para Europa levava vida de luxo — Foto: Reprodução Redes Sociais
Nesic é a segunda geração de uma família que enriqueceu com o tráfico de drogas. Tanto ele quanto seu pai, Goran Nesic, foram alvos de outra operação da PF, a Niva, em 2011, que revelou a atuação da máfia dos Balcãs no envio de drogas do Brasil para a Europa, junto do grupo criminoso. O grupo usava técnicas como “içamento” ou “pescaria” para contaminar com cocaína embarcações transoceânicas.
Assim como no abastecimento da embarcação Alcatraz I, o grupo usava lanchas rápidas para fazer o transbordo da droga para outros barcos. Quando foi preso, Goran Nesic estava em uma de suas mansões, em Bauru, no interior de São Paulo. Ele foi extraditado sete anos depois para seu país de origem.
À frente dos negócios do pai, Aleksandar vivia no Brasil com a mulher e dois filhos e levava uma vida de "bon-vivant", de acordo com Custódio. Ele foi criado em “berço de ouro” e desfrutava do dinheiro do tráfico, com viagens pela Europa e Ásia. Aleksandar foi preso em sua casa no Guarujá.
— Ele basicamente mexe com o dinheiro, não suja a mão. Os sérvios vêm, ele leva para comer um churrasquinho na casa dele no Guarujá, apresenta para os caras da logística — contou Custódio.
A PF suspeita que Aleksandar participou da exportação de pelo menos 10 toneladas de cocaína, comprada pela máfia dos Balcãs. Além da carga apreendida em Cabo Verde, agentes apreenderam outras duas: 1,2 tonelada em Fortaleza, em agosto do ano passado, e 3,6 toneladas, em setembro deste ano, na costa de Pernambuco. Procurada, a defesa de Aleksandar não se manifestou até o momento.
Fonte: O GLOBO
À frente dos negócios do pai, Aleksandar vivia no Brasil com a mulher e dois filhos e levava uma vida de "bon-vivant", de acordo com Custódio. Ele foi criado em “berço de ouro” e desfrutava do dinheiro do tráfico, com viagens pela Europa e Ásia. Aleksandar foi preso em sua casa no Guarujá.
— Ele basicamente mexe com o dinheiro, não suja a mão. Os sérvios vêm, ele leva para comer um churrasquinho na casa dele no Guarujá, apresenta para os caras da logística — contou Custódio.
A PF suspeita que Aleksandar participou da exportação de pelo menos 10 toneladas de cocaína, comprada pela máfia dos Balcãs. Além da carga apreendida em Cabo Verde, agentes apreenderam outras duas: 1,2 tonelada em Fortaleza, em agosto do ano passado, e 3,6 toneladas, em setembro deste ano, na costa de Pernambuco. Procurada, a defesa de Aleksandar não se manifestou até o momento.
Fonte: O GLOBO
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