Claudia Woods afirma que companhia tem crescido por meio do seu marketplace, consolidando seu perfil tecnológico, e vê expansão na região

O pedido de recuperação judicial da WeWork nos Estados Unidos não deve afetar as operações no Brasil, afirma a CEO da empresa para a América Latina, Claudia Woods. Segundo a executiva, as empresas possuem estruturas societárias e de gestão financeira distintas, apostando inclusive em diferentes modelos de negócios.

A WeWork opera desde 2021 no Brasil por meio de uma joint venture com o SoftBank Latin America Fund. No país, são 32 unidades próprias em 8 cidades.

Uma aposta da empresa vem sendo a iniciativa “Station by WeWork”, que reúne os espaços da própria empresa e áreas de outros coworkings que decidem aderir à rede. Com cerca de um ano de operação, a iniciativa já conta com mais de 500 parceiros.

Claudia ressalta que a prioridade no momento é crescer por meio do próprio marketplace, em vez de optar pelo aluguel de novos espaços em prédios corporativos. Com isso, amplia-se a capilaridade da empresa sem os custos elevados de locação, condomínio e reforma, um dos responsáveis pela crise das operações nos EUA.

O pedido de recuperação judicial da empresa nos EUA afeta as operações na América Latina? Há previsão de demissões e fechamento de espaços?

A nossa operação na América Latina, que inclui Brasil, México, Colômbia, Argentina e Chile, tem estrutura societária própria. Temos como nosso principal acionista o SoftBank e a WeWork Global como um acionista minoritário.

É uma empresa controlada por um conselho, com participantes dos dois lados, mas ela tem uma governança independente. Por trás disso, além de ter uma independência no dia a dia dos negócios, temos a nossa gestão financeira e forma bem apartada.

De forma prática, esse pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos não tem nenhum impacto nem no Brasil nem nesses outros países que estão sob a nossa gestão. Não temos nenhum plano de desligamento e de encerramento de contrato. Pelo contrário, quando falamos especificamente de Brasil, é um mercado onde a WeWork botou em prática essa independência.

A empresa vem apostando na iniciativa do marketplace há quase um ano. Quais foram os resultados?

Ele nasceu de uma demanda das empresas. Começamos a ver as pessoas no pós-pandemia com um comportamento de não querer ir para o escritório todos os dias, de querer trabalhar mais perto de casa. Todas as nossas pesquisas já indicam que o trabalho flexível está apenas atrás de salário no processo de tomada de decisão dos funcionários e, em alguns casos, fica à frente.

Na época da pandemia, falava-se em duas localidades: casa e sede da empresa. O que vemos hoje é que as pessoas não querem encarar horas no trânsito todo dia para chegar no escritório.

No mercado de real estate, se olharmos o modelo original da WeWork, ele seria um modelo com muitos contratos de aluguel que precisam ser administrados e monetizados. O modelo do "Station" é de parceria. Eu tenho vários coworkings que estão plugados nesse marketplace. Funcionamos como uma máquina de vendas para esses lugares e como uma máquina de referir cliente.

A empresa se consolida como uma empresa de tecnologia. Os espaços não são nossos. Estamos indo atrás de outros coworkings, de outros pequenos empresários. Nas cidades do interior, há muitos empresários com espaços que anteriormente eram um escritório, uma papelaria, e que hoje viram um espaço colaborativo de trabalho.

Esses empresários podem conectar os espaços deles dentro do aplicativo do "Station". E a pessoa interessada pode ocupar espaços no Brasil inteiro.

Qual é o papel que o Brasil e a América Latina têm desempenhado nesse mercado? Há interesse dos investidores apenas nas operações sediadas aqui?

O que é mais interessante é que a quantidade de empresas que já mudaram para o modelo flexível, que não é mais o espaço de contratos longos, representa menos de 10% do mercado. É um mercado em plena expansão. Temos países muito grandes em termo de população e espaços.

Quando olhamos o ecossistema de venture capital e de investimento que acontece na América Latina, ele já tem uma dinâmica própria. Você tem investidores de fora, mas uma série de fundos locais e que estão focados nos negócios aqui.

Como a WeWork pode oferecer soluções para as empresas em um cenário em que muitas delas discutem a volta ao trabalho presencial?

O que antes era um diálogo sobre endereço, hoje é sobre comportamento. Como eu crio uma cultura sólida dentro de uma empresa apesar das pessoas estarem trabalhando de várias localidades? Esse é o grande desafio das empresas hoje na gestão de seus times

Muitas reduziram o espaço e usam nosso vale-escritório para trabalhar de qualquer lugar. Vimos empresas que saíram 100% do seu escritório e agora estão voltando e usam essa flexibilidade da WeWork para tentar entender com que frequência os funcionários vão, até para tomar decisões sobre tamanho e localização

Víramos um aliado para essas empresas que estão tentando entender o comportamento dos seus colaboradores. A empresa hoje não é apenas para startups, mas tem um modelo de negócios que atende todos os tamanhos de clientes.

A empresa não pretende alugar novos espaços em prédios corporativos, então?

O mercado inteiro teve uma mudança. No próprio mercado imobiliário tradicional, as empresas estão com receio de assinar contratos de longo prazo. Existe também um trabalho feito em conjunto com os proprietários. Em muitas situações, o proprietário tem o espaço e nós somos a máquina de vendas e gestão desse espaço, e decidimos entrar no risco juntos.

O desafio de vacância não é só do coworkings, mas de todo mundo. Os próprios proprietários querem entender como é esse processo de contratos mais curtos, venda online e, que muitas vezes, eles ainda não têm essa expertise. Há a possibilidade de todo mundo aprender.


Fonte: O GLOBO