De passagem pela China, ex-jogador, que teve uma curta passagem pelo Fluminense em 2015, diz que o campeão da Libertadores mereceu o título continental por resgatar o “jogo bonito”

De passagem pela China, Ronaldinho Gaúcho não poupou elogios ao Fluminense e a seu treinador, Fernando Diniz. Para ele, o título da Libertadores conquistado no sábado confirma o que já era consenso entre os boleiros: Diniz é o melhor do Brasil e merece ser efetivado à frente da seleção, onde hoje ocupa interinamente o cargo de treinador.

— Achei maravilhoso. Esse título serviu para acabar com as dúvidas. Muita gente dizia: ‘Mas ele não ganhou nada ainda...’. O título veio no momento exato para confirmar que ele é um grande treinador, e que [o Fluminense] hoje joga o melhor futebol do Brasil. Esse título acabou com as dúvidas. É o melhor time do Brasil e tem o melhor treinador do Brasil. E, se ele é o melhor, nada mais justo do que ser o treinador da seleção brasileira - disse Ronaldinho, numa pausa da sessão de autógrafos.

Segundo o ex-jogador, a descrença sobre o estilo de Diniz em parte da imprensa esportiva e dos torcedores não existia entre a maioria dos jogadores, que viram como natural e merecida a escolha do treinador do Fluminense para comandar a seleção. Com a conquista da Libertadores, Ronaldinho acredita que a confiança no trabalho do treinador se consolidará.

— Quem é do meio não tinha nenhuma dúvida. É um cara que já acompanhamos há um certo tempo, todo mundo que trabalhou com ele fala muito bem, gosta da forma que ele trabalha. Isso é o essencial para ser o treinador da seleção, o jogador se sentir bem com o treinador, então acho que está no caminho certo. Além da parte tática tem esse lado da liberdade para os jogadores jogarem — disse.

Para Ronaldinho, que teve uma curta passagem pelo Fluminense em 2015, o campeão da Libertadores mereceu o título continental por resgatar o “jogo bonito” pelo qual o Brasil ficou famoso no mundo, e do qual ele ainda é um dos principais símbolos.

— Para mim hoje eles jogam o melhor futebol do Brasil. É lindo, está bonito de ver. Fazia tempo que a gente não sentia isso, um time jogando bonito. Eu, que sempre tive o meu estilo de jogo dessa forma, fico muito feliz. Muito legal a forma como [Diniz] trabalha e eu desejo toda a sorte para ele - disse Ronaldinho, hoje com 43 anos.

Durante sua passagem pela China, o ex-jogador participou de eventos promocionais nas cidades de Chengdu, Chongqing e Cantão antes de chegar a Pequim. Na capital chinesa, ele foi a estrela de um jantar na terça que cobrou até 20 mil yuans (R$ 13.400) por cabeça de quem quisesse passar algumas horas na presença do pentacampeão. 

O objetivo era promover uma série de produtos para o mercado chinês com o aval do ex-jogador, entre eles uma marca local de guaraná, vinhos, bolas de futevôlei e a indústria de esporte virtual.

A motivação de todos os presentes, obviamente, era chegar perto de Ronaldinho, tirar fotos com ele e conseguir um autógrafo. Depois do jantar o assédio continuou num bar do hotel onde foi realizado o evento. 

Enquanto os fãs faziam fila para pegar um autógrafo, o grupo brasileiro Quebra Cavaco, o único de samba da capital chinesa, entoava alguns clássicos, à espera de uma canja de Ronaldinho. Ele até fez menção de que iria batucar com o grupo, mas cansou-se do assédio e saiu mais cedo. Coube a seu irmão, Assis, assumir o tantan.

Há anos o governo chinês tenta impulsionar o nível do futebol no país, sem sucesso. Tido como grande fã de futebol, o presidente Xi Jinping chegou a estabelecer um programa de treinamento obrigatório em todas as escolas públicas do país, mas a coisa não andou. Até hoje a seleção chinesa só conseguiu se classificar para uma Copa do Mundo, a de 2002. 

Deu azar de pegar o Brasil, quando perdeu por 4 a 0. Sem marcar um gol sequer, a China se despediu do Mundial com três derrotas na primeira fase e o Brasil avançou para ganhar seu quinto título sob o comando de Ronaldinho e cia.

Para os torcedores chineses, talento individual, improvisação e um estilo vitorioso são um sonho distante, que se limita à admiração por estrelas estrangeiras como Ronaldinho. Na frustração, as mesmas perguntas se repetem. 

O que fazer para ter uma seleção competitiva? Como criar uma cultura de futebol? E, diante de um brasileiro, qual o segredo de um país que revela tantos craques? Ronaldinho pode até distribuir sorrisos e autógrafos, mas não uma receita: é uma combinação de fatores bem brasileiros, diz ele.

— É uma pergunta muito difícil. Além do dom, com que a pessoa nasce, depois tem que trabalhar esse dom, muito treinamento, muita dedicação. Acho que isso já vem muito da nossa cultura. Um dos primeiros presentes de todo menino quando nasce é uma bola, uma chuteira, uma camisa de clube, então a gente já nasce com isso - diz Ronaldinho, que acrescenta o incentivo de ascensão social. 

- O futebol no Brasil é uma válvula de escape. A música e o futebol. Todo mundo sonha com um menino que vença no futebol para melhorar a vida da família, assim como a música.


Fonte: O GLOBO