Cícero de Oliveira ficou mais de quatro dias na floresta amazônica no aguardo de um resgate
De cor alaranjada e manchas escuras no dorso, a surucucu encanta, mas quem tiver um encontro com a cobra deve se manter longe. A surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) é conhecida pela beleza e por ser a maior serpente peçonhenta das Américas e a segunda maior do mundo, atrás apenas da cobra-rei (Ophiophagus hannah). Segundo o Instituto Butantan, o réptil pode alcançar mais de três metros de comprimento e, ao final da cauda, tem escamas arrepiadas: daí surge o nome popular da espécie.
A surucucu é carnívora e se alimenta exclusivamente de mamíferos de pequenos e médios porte, como ratos, camundongos, pacas e cotias. Esta espécie tem hábitos noturnos e, quando se sente ameaçada, vibra a cauda escamosa, o que produz um alerta sonoro para afugentar possíveis agressores.
Única serpente do gênero Lachesis presente no Brasil, a surucucu-pico-de-jaca pode ser encontrada em grande parte da Amazônia, nos estados do Amapá, Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Roraima e Mato Grosso; e na parte norte da mata atlântica, entre os estados do Ceará e do Rio de Janeiro. Esta cobra prefere regiões úmidas e com pouca presença humana, o que resulta em um baixo número de encontros e, como consequência, de picadas em pessoas.
De acordo com o Ministério da Saúde, poucos são os casos gerados pela surucucu. Em 2022, foram registrados 272.068 acidentes ofídicos causados por animais peçonhentos no Brasil e, deles, 284 gerados por serpentes da espécie, o que representa menos de 2% do total.
Os meses de maior frequência de encontros com o animal são os quentes e chuvosos, períodos de maior atividade em áreas rurais. A maioria dos acidentes é classificada clinicamente como leve, porém, a demora no atendimento médico e soroterápico pode elevar a taxa de letalidade.
O azarado que se deparar com a cobra e levar uma picada vai sofrer com a grande potência do seu veneno, que tem ação citotóxica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica. Ele provoca diferentes reações, como inchaço, dor local, necrose, problemas de coagulação, hipotensão, além de diarreia e diminuição do ritmo cardíaco, podendo levar ao choque e, em casos graves, até mesmo ao óbito.
O diretor do Biotério de Herpetologia do Butantan, Sávio Santanna, explica que a maioria dos acidentes com serpentes ocorrem pela vítima não enxergar o animal. Por isso, é necessário ter bastante cuidado ao andar por áreas de mata densa.
— As cobras não tendem a ser agressivas. As picadas, geralmente, ocorrem em uma reação de defesa do animal. A grande maioria das nossas serpentes tem hábitos terrícolos e, por isso, é recomendado que se use uma bota. Os acidentes, geralmente, são nas pernas e nos pés e o sapato fechado diminui o risco, explica.
Santanna ressalta que, se a cobra for avistada com antecedência, deve-se manter uma distância de dois a três metros. Caso a pessoa seja picada, deve-se ser usado o soro antiofídico.
— Como nem sempre temos o soro em mãos, existem algumas maneiras de ajudar alguém que foi picado. Primeiro, deve-se tomar bastante líquido. Também é bom lavar o local com água e sabão para evitar a contaminação de bactérias, que podem estar até na boca da serpente. Mas o fundamental é se dirigir a um local o antiofídico. Tentar chupar o veneno ou fazer um torniquete não funciona. Pelo contrário: só agrava o acidente, reforça.
Drama na Amazônia
O lavrador amazonense Cícero José de Oliveira, de 43 anos, voltava para casa de uma jornada de trabalho, quando uma surucucu-pico-de-jaca cruzou o seu caminho. A cobra estava às margens do rio Juma, na floresta amazônica, no momento do encontro. A picada extremamente dolorosa levou Cícero e mais dois companheiros a viverem quatro dias dramáticos na mata, até conseguirem um resgate.
O caso ocorreu no fim da manhã do dia 26 de outubro, uma quinta-feira. O lavrador e os companheiros correram em direção à estrada, mas a perna de Cícero travou e o grupo precisou aguardar ajuda. Com o passar dos dias, a situação piorava. Depois de mais de 96 horas na floresta, a comida acabou e os companheiros estavam sem água.
O azarado que se deparar com a cobra e levar uma picada vai sofrer com a grande potência do seu veneno, que tem ação citotóxica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica. Ele provoca diferentes reações, como inchaço, dor local, necrose, problemas de coagulação, hipotensão, além de diarreia e diminuição do ritmo cardíaco, podendo levar ao choque e, em casos graves, até mesmo ao óbito.
O diretor do Biotério de Herpetologia do Butantan, Sávio Santanna, explica que a maioria dos acidentes com serpentes ocorrem pela vítima não enxergar o animal. Por isso, é necessário ter bastante cuidado ao andar por áreas de mata densa.
— As cobras não tendem a ser agressivas. As picadas, geralmente, ocorrem em uma reação de defesa do animal. A grande maioria das nossas serpentes tem hábitos terrícolos e, por isso, é recomendado que se use uma bota. Os acidentes, geralmente, são nas pernas e nos pés e o sapato fechado diminui o risco, explica.
Santanna ressalta que, se a cobra for avistada com antecedência, deve-se manter uma distância de dois a três metros. Caso a pessoa seja picada, deve-se ser usado o soro antiofídico.
— Como nem sempre temos o soro em mãos, existem algumas maneiras de ajudar alguém que foi picado. Primeiro, deve-se tomar bastante líquido. Também é bom lavar o local com água e sabão para evitar a contaminação de bactérias, que podem estar até na boca da serpente. Mas o fundamental é se dirigir a um local o antiofídico. Tentar chupar o veneno ou fazer um torniquete não funciona. Pelo contrário: só agrava o acidente, reforça.
Drama na Amazônia
O lavrador amazonense Cícero José de Oliveira, de 43 anos, voltava para casa de uma jornada de trabalho, quando uma surucucu-pico-de-jaca cruzou o seu caminho. A cobra estava às margens do rio Juma, na floresta amazônica, no momento do encontro. A picada extremamente dolorosa levou Cícero e mais dois companheiros a viverem quatro dias dramáticos na mata, até conseguirem um resgate.
O caso ocorreu no fim da manhã do dia 26 de outubro, uma quinta-feira. O lavrador e os companheiros correram em direção à estrada, mas a perna de Cícero travou e o grupo precisou aguardar ajuda. Com o passar dos dias, a situação piorava. Depois de mais de 96 horas na floresta, a comida acabou e os companheiros estavam sem água.
Cícero ficou quatro dias a espera de resgate no Amazonas — Foto: Divulgação/Ibama
O resgate só chegou na segunda-feira, dia 30, quando dois brigadistas do Ibama caminharam 34 quilômetros para resgatar o lavrador. O local era de difícil acesso, mesmo com o uso de aeronaves. Quando partiram para o salvamento, Jeffite Cordeiro Ambrósio e José Augusto Antunes e dois moradores locais estavam na base do município de Manaquiri, um dos setores da Operação Amazonas 2023 do Ibama.
— Antes de sair da base, pesquisei na internet sobre a cobra. Sabia que se tratava de um animal venenoso e cuja picada causava dor extrema. Na ida, dizia para os companheiros manterem a calma e seguir a linha de raciocínio de que tudo daria certo. Ao encontrar Cícero, perguntei: numa escala de zero a dez, qual a intensidade da dor? Ele respondeu: nove — relata Ambrósio.
Os brigadistas aplicaram o soro no lavrador, e o grupo deixou o local do resgate na manhã de terça, dia 31. Após cinco horas de caminhada, pouco antes de meio-dia, eles chegaram a Careiro, onde o lavrador foi hospitalizado. Até lá, Cícero, que não corre mais risco de morte, foi carregado em uma rede.
Fonte: O GLOBO
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