Jovem de 22 anos foi preso após família flagrar mensagens dele pedindo fotos da criança nua. Vítima de 11 anos relatou que pedidos eram frequentes e que o treinador ameaçava tirá-lo do time se ele não encaminhasse fotos. Após a prisão, uma outra família registrou boletim de ocorrência por um caso semelhante.

Um treinador de um time infantil de futebol de Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, foi preso em flagrante nessa sexta-feira (3) por estupro de vulnerável contra um atleta de 11 anos. O treinador do projeto Gol de Craque, que tem 22 anos, foi preso após a família da vítima flagrar conversas dele em um aplicativo de mensagens pedindo fotos da criança nua. (Veja prints acima)

Consta no pedido de prisão que testemunhas relataram ao delegado Adan Ximenes que a vítima estava em casa quando recebeu mensagens do treinador e ficou bastante abalada. A família então verificou a conversa, e viu que ele havia pedido fotos da criança sob pretexto de verificar se ela estava acima do peso.

O menino encaminhou fotos, mas o treinador continuou fazendo pedidos para que a vítima baixasse mais a roupa, e que não mandasse as imagens em modo temporário. A criança ficou bastante abalada, e a família acionou a polícia. O treinador foi encaminhado à Delegacia de Cruzeiro do Sul e preso em flagrante.

Em depoimento, a vítima de 11 anos relatou ainda que os pedidos eram frequentes e que o treinador ameaçava tirá-lo do time se ele não encaminhasse as fotos. A polícia teve acesso ao celular da vítima, mas não conseguiu extrair todas as conversas, pois o treinador apagava a maioria das mensagens que mandava ao menino.

Em uma das conversas, o menino questiona a necessidade de encaminhar foto, e alega que o conteúdo pedido pelo treinador “expõe muito”, e afirma temer que as fotos sejam divulgadas. O jovem pergunta qual a intenção do treinador em vê-lo “quase sem roupa”, e ele não responde.

À polícia, o professor confirmou que pedia que o menino apagasse as mensagens, mas alegou que fazia isso para “evitar equívocos” por parte dos pais.

“Ressalte-se que, a conversação [...] em certo momento, teve um "apagão" pois o próprio professor determinou ao aluno que este apagasse todas as conversas e que fizesse um "print" demonstrando que tinha apagado estas, e assim a criança o fez. Fato que foi confirmado pelo professor, mas com a justificativa de que fez isso para evitar "equívocos" por parte dos pais.

Sendo assim, o que tivemos a oportunidade de extrair, foi somente pequena parcela das conversas, tanto é que a criança narrou vários fatos, inclusive desta tendo mandado fotografias para o MAIOR, e tendo sofrido coação (sob pena de ser prejudicado no time de futebol), que na linha do tempo, já tinham ocorrido antes de ter apagado tudo”, disse o delegado.

Apesar do apagamento de parte do conteúdo, o delegado ressaltou que ainda é possível verificar fortes indícios do crime, tanto pelas mensagens, quanto por depoimentos.

“Mesmo a parte da conversação que não foi apagada pelo menor, ainda assim, teve prejudicialidade em razão da astúcia do treinador, em sempre estar apagando as mensagens que estava mandando. Perante tudo isso, há indícios fortes, baseado nos elementos extraídos e no depoimento da vítima de 11 anos (acompanhado de seu representante legal) de que, de fato tenha ocorrido o estupro de vulnerável, que no caso, se deu pelo meio virtual”, acrescentou o delegado.

O professor, de 22 anos, além de treinador, também é jogador de futebol, com passagem pelo Galvez Esporte Clube, e chegou a atuar pelo clube na Copa do Brasil sub-20 de 2021. Ao g1, o delegado Adan Ximenes informou que o treinador segue em prisão preventiva, e que o caso será encaminhado à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEAMPCA). O crime é inafiançável.

O proprietário da escola, André Diniz, disse à reportagem que já entrou em contato com todos os pais de atletas do clube, e que fez uma reunião para falar sobre a situação. Ele ressaltou que nunca recebeu relatos de jovens sobre problemas com o treinador, e diz que, caso tivesse conhecimento, teria demitido o professor.

“Eu falei para os pais: 'poxa, por que não me avisaram? por que não me falaram nada? Ele trabalha comigo há cerca de um ano e meio, sempre foi correto. Mas se eu soubesse que ele estava fazendo esse tipo de coisa, teria mandado ele embora. Já falei com todo mundo, removemos ele dos grupos, e fizemos novos grupos”, relatou.

Ainda segundo Diniz, ele orientou os adolescentes e crianças do clube que tomem cuidado com conversas via internet. O proprietário destaca ainda que o clube mantém uma atuação correta desde sua fundação.

“Eu trabalho aqui há mais de oito anos, nunca tivemos problemas, somos respeitados. Estamos sempre indicando jogadores para [times de] fora, ano passado mesmo, levei jogadores para Curitiba, os pais me deram a procuração para levá-los. Agora, se ele fez esse tipo de coisa, que fique preso, 10 anos que seja”, acrescentou.

Segundo relato


Após a prisão do treinador, outra família procurou a polícia para relatar abuso contra adolescente — Foto: Reprodução

Após a informação de que o treinador havia sido preso circular na cidade, uma segunda família procurou a delegacia para registrar boletim de ocorrência contra o treinador por estupro de vulnerável contra um aluno da mesma escolinha de futebol.

A família, sabendo da prisão do treinador, perguntou ao adolescente de 13 anos se ele já havia tido algum problema semelhante com o treinador. O jovem contou que em abril deste ano teve as roupas baixadas pelo treinador, e que teve as partes íntimas tocadas por ele, chegando a colocá-la na boca.

Em conversa disponibilizada pela família do adolescente, o treinador faz referência ao ato, e pergunta se o jovem contou a alguém, pois ele viu uma postagem em rede social falando sobre a situação.

O delegado ressaltou que esse segundo relato não entrará na investigação do caso da criança de 11 anos, mas que serviria para demonstrar a necessidade da prisão preventiva, já que existe a possibilidade de ter mais alunos vítimas.

No boletim de ocorrência registrado pelos pais do jovem de 13 anos, eles relatam que antes de tocar o menino, o treinador já havia enviado mensagens chamando a vítima de “amor”, e que estranharam o comportamento.

“QUE nessa época os pais do declarante viram as mensagens e acharam estranhas, mas o treinador disse para o declarante informar para os seus pais que o mesmo tratava todos os meninos da escolinha de tal maneira: QUE os seus pais lhe orientaram, para ficar alerta, pois aquele tipo de mensagem era característico de pedófilo; QUE seus pais chegaram a informar o ocorrido para o presidente da escolinha; QUE o declarante informa que nunca imaginou passar por uma situação dessa; QUE o declarante informa também que além do mesmo outros alunos da escolinhas foram vítimas do treinador”, afirma o documento.

Fonte: G1