Marca italiana que investe em tecnologia para modernizar aparelhos de ginástica abre segunda loja-conceito no Brasil, dessa vez no Rio, com foco no interesse dos consumidores de ter máquinas em casa

A marca italiana Technogym, que vende equipamentos inteligentes conectados para fitness, esporte, saúde e bem-estar, acaba de abrir, no Rio de Janeiro, a sua segunda loja-conceito do Brasil. O objetivo é impulsionar as vendas para pessoas físicas, ao oferecer testes nos aparelhos ultratecnológicos: desde uma esteira com uma grande tela que, ao encostar o celular, começa a transmitir a série que você estava assistindo na noite anterior, até um aparelho para malhar em casa com design todo espelhado.

Embora os preços não caibam no bolso de qualquer um — uma bicicleta pode custar R$ 110 mil, mais cara que os carros zero mais baratos —, a representatividade desse consumidor nas vendas da empresa não para de aumentar, desbancando desde a pandemia a liderança das academias. Só até o terceiro trimestre deste ano, o faturamento da Technogym já supera em 50% o resultado de 2022 completo, diz o CEO da marca no Brasil, Ricardo Rocha, em entrevista ao GLOBO. Para ele, nesse mercado ou em qualquer outro, acelerar investimentos em tecnologia é inevitável.

No mercado fitness global, o Brasil não está entre as primeiras posições. Por que a Technogym considera o país como estratégico?

Um dos principais focos da Technogym sempre foi as academias, e o Brasil é o segundo maior mercado do mundo (em número de academias e frequentadores). Esse é um dos principais motivos por que a Technogym veio para o Brasil, 30 anos atrás. Obviamente, depois da pandemia o mercado mudou bastante. Hoje nosso principal foco — não só no Brasil, mas em diversos países — são as pessoas físicas, que compram para ter treinamento em casa. Em 2019, 50% das vendas eram para academias e só 10%, para pessoa física. Hoje, 40% são para pessoas físicas e 20% são academias.

O foco de abrir uma loja-conceito no Rio é se aproximar desse cliente?

O Rio é nosso segundo maior mercado. O objetivo é aumentar o volume de vendas, com foco no cliente final, a pessoa física. Na loja, temos equipamentos específicos para casa que não são vendidos para academias. Condomínios também precisam testar os equipamentos antes de comprar e poderão fazer isso aqui.

É a primeira vez que vocês consideram esse consumidor final como prioridade?

A cada triênio, nós temos um objetivo como companhia. A campanha mundial lançada em 2017 para os três anos seguintes foi chamada de “go, consumers”. Então, já queria essa virada para o consumidor final. A pandemia, que ninguém esperava, veio a contribuir para esse resultado. O facilitador foi a gente já ter alguns produtos prontos em estoque para entregar para as pessoas que acabaram montando academias em casa.

Houve impacto financeiro nessa transição de foco entre academias e pessoas físicas?

A loja foi obrigada a ficar fechada na pandemia, e a gente teve que se adaptar ao formato de trabalho híbrido. A logística também foi prejudicada por uma questão mundial. Tudo é produzido na Europa, até um simples parafuso. Em 2019, você entregava um produto em 60 a 70 dias. Na pandemia, isso passou para 120 dias — mas hoje já estamos entregando em torno de 80 a 90 dias.

Um contêiner que antes da pandemia custava US$ 900 passou a custar US$ 6 mil. Parte disso, a gente conseguiu absorver na operação do Brasil, nas margens de lucro. Mas tivemos que fazer alguns repasses para o consumidor final porque também teve a mudança de câmbio, a inflação internacional e no Brasil.

Em 2020 tivemos uma queda no faturamento, mas em 2022 conseguimos bater o resultado de 2019 (R$ 100 milhões contra R$ 90 milhões). E este ano, já batemos o recorde, com R$ 150 milhões até o terceiro trimestre.

O preço é bem superior ao de outros fabricantes. É apenas pela importação?

Nosso produto é mais caro, como qualquer outro importado. Se comparar o mesmo carro no Brasil e nos Estados Unidos, aqui é o dobro do preço. Por quê? Os fatores de importação, a questão tributária, são de outro planeta, né? O segundo motivo é que os nossos equipamentos, em termos de qualidade, durabilidade e design são superiores aos do mercado. Ninguém tem a nossa tecnologia. A gente tem Netflix na esteira há mais de sete anos. Você encosta o seu celular, entra seu login e senha automaticamente. Estamos anos-luz de tecnologia na frente.

O objetivo é atender apenas as academias premium?

Temos um posicionamento premium. Na lista dos 50 melhores hotéis do mundo, os 37 primeiros têm equipamentos Technogym.

E como a empresa tem usado a inteligência artificial?

Hoje, o que existe de melhor com uso da inteligência artificial nos nossos equipamentos é uma linha chamada Biostrength, lançada no Brasil em março. Na primeira vez, um personal vai te colocar no aparelho e ver a angulatura ideal para fazer os exercícios. Depois, você vai fazer três vezes a sua força máxima. 

Com base nisso e nos seus objetivos — emagrecer, hipertrofia, potência —, ele vai passar seus treinos. A máquina vai fazer tudo para você. Você só precisa encostar seu celular no aparelho para ser identificado. A partir daí, o banco ajusta automaticamente, o peso já é regulado para você. O time do Palmeiras tem usado essas máquinas para preparação física e prevenção à lesão.

E o personal é substituído?

A gente vê muita resistência dos profissionais, mas não tem como você utilizar o aparelho pela primeira vez sem ajuda deles. E em toda alteração de treino que você quiser fazer, você vai sempre se consultar com ele. Pouco tempo atrás, você tinha uma ficha de papel com o treino, que hoje já está dentro de um aplicativo. Quem coloca esse treino no app precisa ser um instrutor.

Loja da Technogym, com aparelhos de academia da marca, inaugurada no Casa Shopping, na Barra — Foto: Beatriz Orle

Com o Biostrength, acaba sendo um trabalho muito mais de inteligência... talvez, o trabalho de ajudar a empurrar não seja mais necessário. Uma facilidade é que, com essas máquinas, o personal consegue auxiliar mais pessoas no mesmo tempo, consegue analisar se o aluno está fazendo o que ele passou ou não, se dá para aumentar a carga ou não dá.

Na sua opinião, quais são as tendências do mercado fitness para 2024?

A conectividade, a tecnologia, é a primeira tendência. Quem não for atrás disso vai ficar para trás. O Biostrengh facilita muito o treino de quem vai a uma academia convencional, sendo que não precisa fazer nenhum ajuste no equipamento e, por ter um motor, consegue alterar o estímulo muito rapidamente para você não ter lesão. 

A gente tem visto também uma gameficação bastante grande de todos os processos... Nas bicicletas, as corridas on-line são exemplo, em que você se cadastra e compete com gente de todo o mundo. Isso vem se popularizando desde a pandemia.


Fonte: O GLOBO