Porto Velho, RO - De acordo com o delegado Alcino Junior, dois foram presos na capital e um no interior do estado. Dois dos presos são apontados como executores do crime. Crime foi motivado por questão financeira. Gedeon Barros foi executado a tiros na manhã do dia 20 de maio de 2021, no bairro Santa Inês, no Segundo Distrito de Rio Branco.
Mais de dois anos após o ex-prefeito de Plácido de Castro, Gedeon Barros, ser executado a tiros em Rio Branco, a Polícia Civil prendeu três suspeitos pelo crime nessa terça-feira (19) em uma operação simultânea em três municípios acreanos. Entre os presos, está o ex-secretário de esportes de Plácido de Castro, Mazinho Mariano. Ele também foi candidato a vice na chapa de Gedeon nas eleições municipais de 2020.
O advogado Wellington Silva confirmou que Mazinho Mariano e Gedeon eram amigos e ele colaborava com as investigações desde o início. Ainda segundo a defesa, Mazinho apresentou dados bancários, telefônicos e outros solicitados pela polícia ao longo das investigações.
A defesa alega que Mazinho é inocente e chamou a prisão de injusta.
"Inclusive, apresentamos petições pedindo oitivas e depoimentos para que o Mazinho pudesse colaborar no que fosse necessário. Nos disponibilizamos para apresentar o celular dele voluntariamente para que fosse periciado, quebra de sigilo bancário, telefônico, apresentamos tudo. Então, essa prisão é totalmente absurda porque era investigado colaborador.
Ele soube que o nome era investigado na imprensa e por conversas no município, então, já me constituiu e começamos a colaborar no inquérito, o delegado anterior tinha uma linha de raciocínio que tinha o Mazinho como colaborador. Fomos surpreendidos com essa prisão preventiva. Ele é inocente, é uma prisão de um inocente, injusta. Vamos provar isso", afirmou.
Agentes de Plácido de Castro, Tarauacá e Rio Branco cumpriram seis mandados de prisão e nove de busca e apreensão. De acordo com o delegado Alcino Júnior, que comanda a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da capital acreana e responsável pela investigação, dois dos suspeitos presos foram os executores do crime.
Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (20), o delegado afirmou que um dos executores foi preso em Rio Branco, na região da Estrada Transacreana, e o outro estava preso em Tarauacá por outro crime. Outros três estão foragidos.
A operação contou com apoio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer) para a prisão do suspeito em local de difícil acesso na Transacreana.
“A investigação não finalizou, não consigo entrar em detalhes nesse momento, mas estamos muito próximos dessa conclusão. Os detalhes em si já foram trazidos, e agora é momento de apurar essas novas informações conforme as oitivas realizadas. Caso seja preciso outros mandados, claro, serão solicitados.
Hoje, temos duas pessoas presas pela execução. No dia de hoje [quarta, 20] foram 6 mandados de prisão, e três foram cumpridos. Outros três são de autores intermediários, que auxiliaram na logística, com empréstimo de motocicleta, da arma de fogo. Esses estão foragidos e a gente vai trabalhar para localizá-los e cumprir esses mandados de prisão”, explicou.
Ainda conforme Júnior, a motivação do crime foi uma disputa comercial entre parceiros de negócios do ex-prefeito.
O delegado afirmou que os responsáveis pelo planejamento do crime eram pessoas do convívio de Barros, e que contrataram a dupla que perseguiu e efetuou o disparo que tirou a vida do ex-prefeito. Ele também disse que os valores pagos na execução do plano ainda estão sendo investigados.
“A motivação, ao que nos parece, foi um desacordo comercial, societário, entre a vítima e os responsáveis pelo planejamento do crime, por negociações que mantinham durante e após o mandato dele [Barros]. Ainda é preciso aprofundar nesse aspecto. Houve a contratação de duas pessoas, que utilizaram uma motocicleta, monitoram o ex-prefeito, o seguiram e quando tiveram oportunidade efetuaram disparo único para causar sua morte e se evadiram do local”, acrescentou.
Liomar de Jesus Mariano, conhecido como Mazinho (à direita), foi candidato a vice nas eleições de 2020 — Foto: Reprodução
Na coletiva, o delegado-geral de Polícia Civil, José Henrique Maciel, ressaltou a complexidade da investigação e disse que os próximo passo será chegar aos mandantes e intermediários.
“Até uns meses atrás, tínhamos apenas os executores, mas quem tinha planejado, dado a ordem, e qual tinha sido a motivação, foi a complexidade da investigação. Se tivéssemos parados apenas nos executores, apresentaríamos só quem participou naquele dia. Mas, a gente tem que entender o porquê de tudo isso. E é isso que estamos finalizando no inquérito, mas já avançamos muito. Há muitas pessoas que não estavam lá, mas participaram do crime”, destacou Maciel.
José Henrique Maciel, delegado-geral da Polícia Civil do Acre, e Alcino Junior, da DHPP, apresentaram resultados de operação nesta quarta-feira (20) — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
Mais de dois anos sem solução
Em maio de 2023, quando o caso completou dois anos sem solução, o delegado Lucas Pereira, um dos responsáveis pelas investigações, disse que o caso é complexo, que não podia repassar detalhes das buscas e afirmou apenas que "várias diligências já foram feitas e estamos trabalhando nesse caso com o máximo de empenho possível".
Ainda segundo o delegado, o inquérito continua aberto. "O caso é complexo e, por isso, está demandando um tempo maior que o levado a um caso normal. O que eu posso dizer é que o inquérito está em andamento. O restante das perguntas são informações que não posso passar", resumiu.
Gedeon Barros foi morto dentro do carro — Foto: Eldérico Silva/Rede Amazônica Acre
Em dezembro de 2022, quando falou sobre as investigações, o delegado Marcus Cabral, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pela investigação na época, disse que já tinha identificado um dos autores da execução.
Na mesma entrevista, Cabral informou que várias pessoas tinham sido ouvidas e perícias requisitadas. A Polícia Civil chegou a pedir a prorrogação do inquérito por 90 dias na época. Ainda conforme o que foi dito no final de 2021, o objetivo era seguir com as investigações para identificar e qualificar o outro ocupante da motocicleta e chegar aos demais envolvidos. A motivação do crime também não foi apontada pela polícia.
Coração partido
Víuva de Gedeon Barros, Lúcia Barros, pediu justiça pela morte do marido em postagem — Foto: Reprodução
A falta de respostas para o caso foi cobrada pela viúva do ex-prefeito, Lúcia Barros, em uma postagem nas redes sociais no dia em que completou dois anos da morte do marido. Ela usou a hashtag #justiçaporgedeon para se manifestar sobre o caso.
"Desde que você se foi meu coração ficou partido e a vida perdeu seu brilho. Meu eterno amor, como eu gostaria de receber um último abraço seu. Viverei fazendo memória desse amor. Luto eterno. Dois anos sem você".
A reportagem tentou contato com Lúcia Barros, mas não obteve resposta.
Em setembro deste ano, na data que seria o aniversário de Barros, Lucia voltou a relembrar o caso e pedir justiça pelo marido. Na publicação, ela diz que a data deveria ser de festa, mas que se tornou um lembrete doloroso. "Os dias passam lentos, as horas machucam como espinhos, mas mantenho a fé na chegada da justiça", disse.
Apesar da dor por conta da perda do marido, Lucia ressalta que a memória dele segue viva junto à família.
"Embora você não esteja fisicamente presente, sua memória permanece viva em cada lembrança que compartilhamos. E enquanto esperamos a justiça, também buscamos encontrar a paz em nossos corações", acrescentou.
Na data do aniversário do ex-prefeito, viúva publicou texto falando sobre a dor da perda e esperança de justiça — Foto: Reprodução
Quem era Gedeon?
Gedeon Barros foi prefeito da cidade de Plácido de Castro entre os anos de 2017 a 2020, quando ele concorreu à reeleição, mas foi derrotado nas urnas no ano passado. O ex-prefeito era empresário e foi gestor da cidade apenas por um mandato.
Durante a gestão, Barros teve o nome divulgado em uma lista de nove prefeitos de cidades do Acre como ficha suja do Tribunal de Contas do Estado do Acre (TCE-AC) em agosto de 2020. Os gestores tinham condenações transitado em julgado nos últimos oito anos. As condenações incluem diversos processos, entre os quais desvios ou problemas na administração do dinheiro público.
Investigações da Polícia Federal na Operação Contágio, também apuraram supostas irregularidades em licitações que teriam ocorrido no primeiro semestre do ano de 2020 no município. Conforme a PF, um dos contratos investigados envolvia mais de R$ 500 mil para a compra de equipamentos de proteção individual (EPI’s) para profissionais da saúde que atuavam no combate à pandemia causada pela Covid-19, no mandato dele.
Fonte: G1
0 Comentários