Comitê de Política Monetária manteve trecho que garante pelo menos mais duas reduções de meio ponto da Selic, nas reuniões de janeiro e março. Para analistas, taxa pode cair a um dígito no ano que vem

Na última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortou ontem a taxa básica de juros em meio ponto percentual e indicou que o ritmo será mantido. A Taxa Selic recuou de 12,25% para 11,75% ao ano. Esse é o menor patamar desde março de 2022.

Foi a quarta redução consecutiva dos juros, que começaram a cair em agosto, quando estavam em 13,75% ao ano. O comunicado do BC afirma que a intensidade de corte de meio ponto será mantida nas “próximas reuniões”, o que incluirá, pelo menos, os encontros de janeiro e março. O comitê se reúne a cada 45 dias para decidir o rumo da taxa básica da economia.

Esse sinal reforçou as previsões de analistas de que a Selic pode terminar 2024 abaixo dos 10%. Pelas projeções do Boletim Focus, publicação semanal do BC que compila previsões de agentes do mercado, a Selic deve terminar o ano de 2024 em 9,25% ao ano.

A política monetária vem refletindo a queda da inflação medida pelo IBGE, mas também a redução das expectativas, medidas pelo Boletim Focus. Um fator decisivo para o início do ciclo de cortes foi a manutenção da meta de inflação de 2024, em 3%.

Ambiente internacional ajuda

No cenário internacional, também há uma conjuntura favorável. Ontem, o banco central dos EUA, o Fed, manteve inalterados os juros na maior economia do mundo, no intervalo entre 5% e 5,25%. O comunicado do Fed foi considerado mais "leve" que o previsto no mercado, o que ajuda a redução da Selic no Brasil.

Quanto mais cedo os juros caírem mais lá, mais confortável fica o BC brasileiro a cortar a aqui. Isso por causa do chamado "diferencial de juros". Se a taxa por aqui fica muito próxima da americana, reduz-se a atração de capital estrangeiro para o país, o que desvaloriza o real frente ao dólar e alimenta a inflação. Baixando lá, é mais fácil baixar a Selic sem eliminar o diferencial em relação aos EUA.

Segundo o economista-chefe do G5 Partners, Luis Otávio Leal, o Fed reduziu as projeções de inflação de 5,1% para 4,6%, em 2024, de 3,9% para 3,6% em 2025, permanecendo em 2,9%. em 2026.

No comunicado de ontem, o Banco Central apontou que houve uma melhora no cenário para a inflação no cenário global, que se mostrou "menos adverso" que na última reunião do Copom. Além disso, no Brasil, a economia perdeu força e a inflação também está desacelerando.

Risco fiscal continua pesando, diz economista

Para o economista Marcelo Fonseca, da Reag Investimentos, o BC afirmou que o processo de queda da inflação atual é mais lento, o que fez com que o ritmo de 0,5 ponto fosse mantido. Além disso, ele entende que o risco fiscal continua pesando sobre as decisões de política monetária:

— Minha avaliação é que, apesar de o BC não mencionar explicitamente, a incerteza fiscal tem sido preponderante para o Copom manter o tom de cautela, apesar da melhora da inflação.

Segundo o economista-chefe do Banco UBS/BB, Alexandre Ázara, apesar de o plano de voo do BC ser de dois cortes de 0,5 ponto, em janeiro e março, o cenário externo ficará melhor do que o esperado pelo Copom. Com isso, ele entende que a Selic irá cair 0,75 ponto em março.

— Se tudo acontecer como prevê o BC brasileiro, cairá 0,5 ponto. Mas nosso cenário é que o Fed vai cortar os juros em março, já indicando isso em janeiro, e que a inflação ficará mais baixa no Brasil. Com isso, acreditamos que o Copom vai acelerar os cortes em março para 0,75 ponto — afirmou Ázara.

Comunicado mais suave não altera previsão de cortes

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, entende que o comunicado do BC foi mais “suave”, mas ainda dentro do previsto pelo mercado. Ela aposta na manutenção do ritmo de cortes em 0,5 ponto por todo o primeiro semestre de 2024. Uma eventual aceleração, diz, teria de ser indicada antes pelo próprio BC:

— Esperamos que o Copom continue cortando a Taxa Selic de 0,5 em 0,5 ponto percentual ao longo de parte do primeiro semestre de 2024 e entendemos que qualquer mudança no ritmo será antecipada pelo próprio comitê.

Governo quer acelerar redução dos juros

A queda em doses de meio ponto vem sendo alvo de críticas do governo. No sábado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que as medidas apresentadas ao Congresso para o ajuste fiscal e correções tributárias, aliadas à promulgação da Reforma Tributária sobre o consumo, criam um ambiente para “exigir” o corte da taxa básica de juros.

Nesta terça, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou um movimento de pressão ao chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, para a aceleração da queda da taxa básica de juros.

Ontem, após a decisão do Copom, Haddad comemorou e destacou que o BC sinalizou que outros cortes na taxa de juros virão. Disse que a economia vai crescer de forma sustentável com inflação e desemprego baixos:

— O Copom, como esperado, fez mais um corte sinalizando que outros virão. Isso significa que os investidores brasileiros podem se preparar para um ciclo de crescimento sustentável com baixa inflação e baixo desemprego. Isso é uma boa notícia para as famílias brasileiras — disse o ministro.


Fonte: O GLOBO