Arqueiro, contudo, nega ter deixado Flamengo converter pênalti em jogo decisivo contra o Corinthians pelo Brasileiro de 2009

Reta final de Brasileiro, seja qual for a divisão, e a desconfiança sempre surge. Clubes já sem pretensão no campeonato são acusados de receber dinheiro para jogarem mais motivados contra seus adversários e, assim, ajudar os concorrentes. É a famosa "mala branca". Há também o outro lado. De quem perde e fica sob a suspeita de ter "entregado" o resultado para prejudicar um arquirrival que torcia por sua vitória. Casos clássicos não faltam, como a derrota do Corinthians para o Flamengo, na penúltima rodada de 2009. O resultado frustrou os planos do São Paulo.

O goleiro Felipe, que defendia o Corinthians na ocasião, lembra com riqueza de detalhes da reta final daquele Brasileiro. Naquela partida em questão, ele não se mexeu na cobrança de pênalti de Léo Moura, e o Flamengo venceu por 2 a 0. O arqueiro foi acusado de receber dinheiro para facilitar a vitória rubro-negra.

Felipe nega que isso tenha ocorrido há 14 anos. Diz que foi implicância da "imprensa paulista" porque naquela rodada o Flamengo assumiu a liderança.

— O que se fala do pênalti é que eu deixei. Cara, goleiro não gosta de tomar gol nem em treino. E o que induziu a galera achar isso é que após o pênalti eu bato palma. Foi uma ironia porque o pênalti não aconteceu — relembra, ao ressaltar que os times que concorriam com o Flamengo perderam na rodada. — Se tivesse pego o pênalti, o jogo acabaria 1 a 0. Agora, se estivesse 0 a 0, poderiam deduzir qualquer coisa. Até eu, se tivesse 0 a 0, não teria aquela atitude. Eu mesmo vendo depois pensaria que o goleiro deixou.

Felipe garante que não recebeu nada neste episódio nem em nenhum outro na carreira.

— Não dá para jogar para perder. E meus parentes que vão ao estádio me ver? — pondera o goleiro, que se mostra mais aberto em relação à "mala branca".

— Sempre teve, normalmente para time que está lá embaixo, que já caiu e pode bagunçar o campeonato. Nunca vivi situação assim. Mas já ouvi, claro. E acho válido porque é para ganhar. Pensa, eu gostaria de receber se a bonificação fosse maior que meu salário.

O goleiro diz que "ninguém nunca vai assumir que tem, mas a gente sabe que rola". Segundo ele, pode não passar por diretoria, mas circula entre jogadores.

— Às vezes até o cara fala "meu time pode atrapalhar ali" ou "tomara que alguém ligue para a gente". Normal, fim de ano, Natal mais gordo. Veja o caso do Vila Nova e do ABC — continuou Felipe, que este ano defendeu o Santa Rosa, do Pará.

Ele se refere à vitória do já rebaixado ABC sobre o Vila Nova, que brigava pelo acesso, há uma semana, pela última rodada da Série B. Mais frágil que o rival, o clube do Rio Grande do Norte virou alvo de desconfiança por parte de torcedores e até das pessoas do futebol.

Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova e quem denunciou a Máfia das Apostas, disse que os rivais receberam dinheiro de terceiros. Falou, no entanto, que não é contra a prática.

— É a maior idiotice da bola punir a mala branca. Não vejo isso como diferencial que fez a gente perder o jogo. Perdemos porque os jogadores borraram nas calças. Tenho certeza que minha premiação pelo acesso era cinco vezes maior do que foi oferecido aos jogadores do ABC. E o que me deixa indignado é ver atleta só jogando por dinheiro. Se tivessem jogado pelo clube, o clube não tinha caído. A entrega neste jogo foi muito superior ao que foi visto no campeonato.


Fonte: O GLOBO