Ideia do governo é apresentar a agenda de trabalho e os pilares do mandato brasileiro: combate à fome e à pobreza, o desenvolvimento sustentável e a reforma da governança global
O Brasil dá a largada nesta segunda-feira na agenda de trabalho à frente da presidência do G20. Os primeiros encontros serão no Palácio do Itamaraty, em Brasília, com uma proposta inédita da presidência brasileira: pela primeira vez, as duas trilhas que norteiam os trabalhos do G20 no Brasil, Sherpas e Finanças, vão se reunir no começo de um novo mandato.
No encontro, a ideia do governo brasileiro é apresentar a agenda de trabalho e os pilares da sua gestão: combate à fome e à pobreza, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e a reforma da governança global. O Brasil tenta unir desde o princípio o debate político com as soluções financeiras.
Uma das propostas que será levada pelo governo brasileiro no encontro é uma iniciativa global para a erradicação da pobreza e combate à fome e à desnutrição. Começarão, ainda, as negociações sobre as declarações e outros atos a serem adotados pelos líderes do G20 na cúpula do Rio de Janeiro.
Nos dias 11 e 12 de dezembro, o encontro será da Trilha de Sherpas, formada por emissários pessoais dos líderes do G20, que supervisionam as negociações, discutem os pontos que formam a agenda da cúpula e coordenam a maior parte do trabalho.
No dia 13, ocorrerá a reunião conjunta com as duas trilhas e com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve reforçar a importância do diálogo dos dois eixos e as prioridades da gestão brasileira à frente do G20.
Nos dias 14 e 15 é a vez do encontro da Trilha de Finanças, comandada pelos ministros das Finanças e presidentes dos bancos centrais dos países-membros e responsável pelos debates econômicos do G20.
A previsão é que, além de Lula, haja uma declaração dos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), além da diplomata Tatiana Rosito, coordenadora do Brasil na Trilha de Finanças, e o embaixador Maurício Lyrio, sherpa indicado pelo Brasil.
Reuniões no ano que vem
Ao todo, serão 130 reuniões ao longo do ano que vem espalhadas por 13 cidades do país: Brasília (DF), Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Foz de Iguaçu (PR), Maceió (AL), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Salvador (BA), São Luís (MA) e Teresina (PI).
O resultado final da agenda de trabalho construída ao longo deste ano será apresentado na Cúpula de Líderes do G20, prevista para acontecer nos dias 18 e 19 de novembro do Rio de Janeiro. Até lá, representantes dos países vão debater propostas, ideias e soluções para as principais pautas internacionais, que vão nortear a declaração final dos presidentes e as cooperações que serão estabelecidas entre os países membros.
Prioridades do Brasil
O Brasil trouxe para a presidência do G20 as principais bandeiras do governo Lula e tem o desafio de pautas esses debates no cenário internacional até novembro de 2024. São elas: combate à fome e à pobreza, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental) e a reforma da governança global.
A presidência brasileira terá três forças-tarefa, que são grupos de trabalho para tratar de assuntos propostos pelo país que ocupa a presidência. São elas: Finanças e Saúde, combate à fome e à desigualdade e contra as mudanças climáticas. O governo brasileiro espera ao final da gestão deixar como marca contribuições inéditas e concretas nessas áreas. Haverá, ainda, uma iniciativa pela bioeconomia.
Outro assunto que será pautado pela gestão brasileira é o da governança global. Lula tem criticado a baixa influência e a formação do Conselho de Segurança da ONU na mediação de conflitos internacionais, além de ter defendido que instituições multilaterais de crédito, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, deem prioridade às necessidades das nações em desenvolvimento, sobretudo na área de infraestrutura, e estudem formas de renegociação de dívidas de países em dificuldades.
O governo quer criar um ambiente que evidencie as falhas no modelo atual. Por isso, as críticas feitas por Lula e por outros membros do governo seguirão sendo feitas de maneira frequente. Outro caminho para essa demonstração é criar um debate robusto sobre os pilares da presidência brasileira: o desenvolvimento sustentável, o combate à fome e à desigualdade, para provar que o modelo das instituições financeiras antigas, em vigor até o dia de hoje, não sustenta essas políticas.
O desafio é envolver todos os países nesses debates. A avaliação é que o combate à fome, à desigualdade e às mudanças climáticas são mais tangíveis, enquanto o assunto da governança pode ter mais desavenças.
O que é o G20
A presidência do G20, inédita para o Brasil, é considerada o ponto alto da agenda internacional de Lula e o evento mais importante para a posição internacional do país. Antes do Brasil, o grupo estava sob presidência da Índia. O próximo país a liderá-lo será a África do Sul, a partir de dezembro de 2024.
O G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e, a partir deste ano, a União Africana. O grupo responde por cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população mundial.
São membros fixos do G20, além do Brasil, África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Africana e a União Europeia.
A presidência brasileira terá ainda oito países convidados: Angola, Egito, Nigéria, Espanha, Portugal, Noruega, Emirados Árabes Unidos e Singapura. Desde o primeiro mandato de Lula, a política externa tem buscado um alinhamento com outros países em desenvolvimento. Na lista, constam três países da África: Angola, Egito e Nigéria.
O G20 nasceu em 1999 como um fórum de ministros de Fazenda e presidentes de Bancos Centrais. Em 2008, durante a crise econômica mundial, os chefes de governo entraram em cena e o Brasil mobilizou os países membros para o enfrentamento da crise.
Fonte: O GLOBO
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