Mãe alega que não tem casa própria nem trabalho e que não tem condições de criar as meninas. Elas foram encaminhadas a um abrigo em agosto deste ano após serem deixadas na frente da casa do pai, que também diz não ter condições de criá-las porque já vive com um menino que também tem TEA.

Após ficarem cerca de três meses em um abrigo de Rio Branco, as gêmeas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que foram abandonadas na frente da casa do pai em Sena Madureira, no interior do Acre, tiveram a guarda concedida à mãe pela Justiça. A informação foi repassada ao g1 pelo pai das meninas, que também disse que a decisão saiu no mês de novembro, e que as meninas já estão morando com a mãe em Rio Branco.

O g1 tenta contato com a mãe das gêmeas para falar sobre a nova decisão e aguarda retorno até esta publicação. Por ser processo envolvendo menores de idade, a reportagem não vai revelar o nome dos pais.

“Já teve a audiência no mês passado, e as meninas já estão morando com a mãe delas em Rio Branco. O juiz passou a guarda das meninas para ela. Já está tudo resolvido, graças a Deus”, disse o pai.

Um dia após as meninas serem deixadas na frente da casa do pai, a mãe foi presa por suspeita de abandono de incapaz. Ela foi liberada com tornozeleira eletrônica e contou à reportagem em setembro que não tem condições financeiras de criar as meninas.

O pai disse que elas continuam passando por dificuldades financeiras, mas que ele tem dado apoio.

“Elas estão passando por um momento difícil, porque o juiz liberou as crianças, então fez o desbloqueio dos benefícios. Eu estou ajudando eles na medida do possível. As crianças precisam dos benefícios delas para comprar os remédios e alimentação, porque a mãe delas não pode trabalhar, já por conta das crianças, que precisam ter toda atenção e cuidados diários”, acrescentou.

O que diz a mãe

Como o pai das meninas já cuida do filho autista de 16 anos, que é diagnosticado com grau severo do transtorno, ele acionou o Conselho Tutelar no dia que as meninas foram deixadas na frente da casa dele e elas foram levadas ao abrigo, em agosto deste ano.

Por conta da situação, a mãe delas, de 34 anos, foi presa em Rio Branco no dia 24 de agosto, pelo Núcleo de Capturas da Polícia Civil, por abandono de incapaz, mas ela nega que tenha abandonado as filhas. Ela passou por audiência de instrução na época e foi liberada com o uso de tornozeleira eletrônica.

A mulher contou, em reportagem ao g1 após o impasse, que se separou do pai das crianças em dezembro do ano passado e que, desde então, só tem morado de favor, não tem emprego e vive de doações. Por isso, não tem condições de criar as filhas.

“Elas se encontram no abrigo ainda. E a informação que chegou para mim da coordenação do abrigo é que eles estão aguardando o pronunciamento da Justiça, mas não tem nada definido, eu ainda aguardo também.

Ainda não tenho nenhuma posição sobre audiência nem nada. Eu não sei como é que vai proceder essa questão das meninas pelo fato de eu ainda estar num local cedido, o local que a gente está era um lava-jato, foi cedido por um homem. É um pequeno espaço, não tem divisão, só o que divide é um guarda-roupa e um banheiro. Questão de móveis de casa, eu não tenho, e aí a gente está dependendo de ajuda de pessoas com sacolões”, disse a mãe.

Ela relatou ainda que tem feito visitas semanais às filhas. “Elas só pedem a mãe. A coordenadora do abrigo relatou pra mim semana passada. Além do autismo, uma delas tem diagnóstico de TOD [Transtorno Opositor Desafiador] e está tendo crise lá no abrigo, estão fora do controle.

E aí não sabemos como que vai ser essa situação. A gente quer muito estar com elas, quer que elas estejam com a gente, mas que elas venham quando a gente puder oferecer uma qualidade de vida para elas, porque nesse momento a gente não tem”, afirmou.


Pai das meninas diz que malas e as duas adolescentes foram deixadas na rua — Foto: Arquivo pessoal

Investigação

Após o abandono, o Conselho Tutelar de Sena Madureira acionou o Poder Judiciário e o Ministério Público Estadual, que pediu a prisão da mulher à Justiça. O juiz do caso analisou o pedido e se posicionou também a favor da captura da mãe.

Em entrevista ao g1 no dia da prisão da mulher, o delegado Thiago Parente disse que, apesar da negativa da mãe, o abandono estava "bem claro nos autos do processo".

No mês passado, o delegado informou que o caso foi denunciado pelo Ministério Público do Acre e que atualmente tramita no judiciário, portanto, não houve inquérito por parte da Polícia Civil.

Fonte: G1