Devido ao afundamento da área, a água da lagoa Mundaú começou a "engolir" o entorno da mina
Imagens aéreas de drone mostram a atual situação da mina 18, no bairro Mutange, em Maceió, que corre o risco de colapsar a qualquer momento. Na gravação é possível ver rachaduras por toda a estrutura do solo causada pela extração de sal-gema pela Braskem. Devido ao afundamento da área, a água da lagoa Mundaú começou a "engolir" o entorno da mina.
As imagens foram feitas neste domingo (3) e divulgadas pelo portal THN1. Na última atualização da Defesa Civil de Maceió, a velocidade de afundamento da mina tem reduzido gradativamente. Boletim divulgado pelo órgão afirma que a região do bairro de Mutange passou a cair 0,3 centímetros por hora, menos da metade do registrado no último balanço, de 0,7 centímetros/hora. A região afundou 7,4 centímetros nas últimas 24 horas.
Desde a quinta-feira, o órgão informa que a região está em estado crítico e em alerta máximo diante de um iminente colapso da mina de sal-gema. A situação fez com que cerca de 5 mil pessoas tivessem que deixar suas casas na última semana. Desde 2019, mais de 60 mil moradores se mudaram da região devido à gravidade da situação.
Segundo o documento, a expectativa dos especialistas é de que, se houver desmoronamento, ele ocorrerá de forma localizada e não generalizada.
"Há, no momento, sensores instalados ao redor da área, que permitem monitoramento em tempo real pela Defesa Civil em Maceió. O SGB/CPRM destacou equipe especializada para acompanhar a evolução da situação", afirmou o relatório.
Inércia de governos
O coordenador-geral de Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, fala que tragédia na cidade pelo afundamento de mina da Braskem é "resposta" da natureza às agressões enfrentadas nas últimas décadas, e responsabiliza a inércia de governos estaduais pelo que poderia ser feito para conter os danos. Ao GLOBO, ele afirmou que há mais de 110 agentes municipais de prontidão para agir na região.
— Quem dita as regras aqui é a natureza, que foi agredida e agora está dando a resposta — afirma Nobre, à frente do órgão desde 2021. — O que poderia ter sido feito lá atrás era a fiscalização pelos governos federal e estadual, o respeito às normas ambientais e a fiscalização correta da exploração.
De acordo com ele, a estrutura de monitoramento da situação foi criada em 2019, logo após o primeiro alerta de afundamento da região em função da exploração de sal-gema pela mineradora. A exploração sequer deveria ter sido autorizada, na avaliação de Pedro Côrtes, professor do Instituto de Energia e Ambiente da USP, por se tratar de um espaço urbanizado.
Nobre explica que a prefeitura de Maceió definiu uma estrutura de acompanhamento e de prontidão 24 horas por dia para dar a devida assistência. Segundo ele, todo o contingente da Defesa Civil da capital alagoana, de 117 agentes, está direcionada para o plano.
Além disso, ele informa que chegaram na cidade nos últimos dias técnicos de órgãos federais para dar suporte às atividades de monitoramento. Na quarta-feira, outros dois integrantes da Defesa Civil nacional pousaram em Maceió para acompanhar o andamento do caso, sem precedentes no país. Há ainda a atuação de equipes do Serviço Geológico do Brasil (antiga Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais).
Cenário sem precedentes
O coordenador-geral da Defesa Civil de Maceió voltou a afirmar que a situação na cidade se trata de algo "único na história do país", nunca antes visto por nenhum antecessor no cargo ou em defesas civis de outros estados.
— Já vivenciamos desastres como enchentes, desabamentos, vitimados por chuvas, mas um desastre dessa magnitude e dessa natureza é único no Brasil — afirma.
No sábado, a prefeitura de Maceió afirmou que o eventual colapso da mina de sal-gema é um "evento inédito no mundo" e que, por isso, "até o momento não é possível mensurar todas as consequências do fato".
Fonte: O GLOBO
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