Certame acontece nesta sexta-feira na B3, em São Paulo, com previsão de gerar 36,9 mil empregos. Chineses e Eletrobras devem estar na disputa

Com investimentos previstos de R$ 21,7 bilhões, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realiza nesta sexta-feira, na B3, em São Paulo, o segundo leilão de transmissão deste ano. Trata-se do maior conjunto de ativos já licitados no país exigindo também o maior volume de investimentos já demandado no segmento de transmissão. O prazo de concessão é de 30 anos.

Serão oferecidos três lotes de linhas que preveem a construção de 9 empreendimentos em cinco estados – Goiás, Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Tocantins. Os prazos de construção variam entre 60 e 72 meses, e a expectativa é de geração de 36,9 mil empregos.

Ao todo, serão licitados 4.471 km em linhas de transmissão para construção, manutenção e operação, sendo 3.007 km de novos linhões e seccionamentos e de 9.840 megawatts (MW) em capacidade de conversão nas subestações.

Chama a atenção neste megaleilão uma grande linha de transmissão bipolo em corrente contínua, projeto que sozinho deverá exigir R$ 18,1 bilhões em investimentos, 83% do total previsto.

O bipolo compõe o lote 1 que inclui a construção de 1.513 km de novas linhas de transmissão em corrente contínua e manutenção de outros 1.468 km, atravessando três estados (Maranhão, Tocantins e Goiás).

Nova tecnologia

Para estimular a competição, a Aneel vai permitir que esse lote seja arrematado de forma integral ou em quatro sublotes. O prazo de conclusão será de 72 meses, o mais longo já concedido pela Aneel, devido ao porte e à complexidade da obra.

A tecnologia bipolo é nova no Brasil e tem ultra-alta tensão de 800 kV, permitindo o transporte de energia com redução de perdas. No mundo, há apenas quatro fabricantes que oferecem a tecnologia de conversores de corrente contínua em alta tensão, conhecido como “HVDC”.

No Brasil, essa novidade só é utilizada em Belo Monte e operada pela chinesa State Grid num linhão que conecta a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, ao Rio de Janeiro.

Antes disso, o Brasil utilizava a tensão de 600kV nos sistemas de transmissão em corrente contínua. Como se trata de tecnologia operada por poucos players no país, a expectativa é que menos empresas disputem essse lote, que também demanda alto nível de recursos.

Entre os especialistas, estima-se que State Grid e Eletrobras entrem na disputa sozinhas ou em consórcios, com parceiros financeiros, como fundos. Eletrobras divulgou que tem interesse no leilão e os chineses da State Grid também já divulgaram que estão dispostos a analisar os ativos.

Conexão entre linhas

O edital aprovado estabelece que se o lote 1 não tiver interessados, o lote 2 não será leiloado já que os dois empreendimentos se conectam no município de Silvânia, em Goiás.

O lote 2 tem 1.102 km de linhas em Goiás, Minas Gerais e São Paulo e demanda investimentos de R$ 2,5 bilhões. O lote 3 tem 388 km de linhas em São Paulo requer investimentos de R$ 1 bilhão.

O leilão será por deságio, vencendo a empresa que oferecer o maior desconto sobre a receita anual permitida máxima (RAP) que foi definida no edital para cada contrato. A RAP total é de R$ 3,8 bilhões. As assinaturas com as empresas vencedoras devem ocorrer em março de 2024.

Filipe Bonaldo, sócio-diretor da A&M Infra, especialista em energia, espera baixa competição no lote 1 e prevê que apenas Eletrobras e State Grid participem. No segundo e terceiro lotes haverá interesse, mas menos do que no primeiro leilão, quando sete empresas saíram vencedoras.

— Algumas empresas como a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep) e Neoenergia já informaram que vão ficar fora e isso vai impactar. Mas quem entrar, vai entrar com apetite já que a regulação do setor é boa e esses ativos também são muito bons. Eu espero deságios significativos por volta de 40% — diz Bonaldo.

André Fonseca, chefe de M&A da Thymos Energia, avalia que a concessão de novos lotes de transmissão ajudam a melhorar a segurança e confiabilidade do sistema brasileiro, além de expandir a capacidade de escoamento do Nordeste para as demais regiões do país.

— Nossa expectativa é que todos os lotes sejam negociados com deságios médios entre 40% e 50%. Esperamos a participação das empresas tradicionais de transmissão, dada a complexidade na execução dos três lotes e o volume significativo de investimento em cada um deles, variando de R$ 1 bilhão a R$18 bilhões — diz Fonseca.

Ampliação da capacidade de interligação

Com esse megaleilão, o governo vai ampliar a capacidade da interligação entre as regiões Nordeste e Centro-Oeste do país para escoar os excedentes de energia do Nordeste (caso do lote 1) e expansão das interligações regionais e da capacidade de escoamento de energia da região Norte/Nordeste, que tem vários projetos de geração solar e eólica.

No primeiro leilão de transmissão deste ano, realizado em junho passado, a Aneel licitou 9 lotes que somam R$ 15,7 bilhões em investimentos. Houve sete empresas vencedoras e a disputa foi acirrada na maioria dos lotes, com participação de grandes players do setor elétrico e novos entrantes.


Fonte: O GLOBO