Estatal tem 47% da petroquímica, cujo controle está nas mãos da Novonor (ex-Odebrecht), que tenta vender sua fatia. Tragédia ambiental afasta grupos como J&F e Unipar, e só estatal de Abu Dhabi mantém oferta pela empresa
A crise em Maceió inviabilizou de vez as chances de surgir um novo concorrente à aquisição da Braskem, que agora só tem um interessado. A Unipar, uma das maiores petroquímicas do país, e a J&F, holding controlada pela família Batista, não estão mais na disputa pela companhia petroquímica, que está no centro de uma tragédia ambiental sem precedentes na capital de Alagoas: o afundamento do solo de uma área residencial devido ao risco de colapso e desabamento em uma das minas de sal-gema, matéria-prima usada para a produção de PVC, cloro e soda.
A petroquímica é uma sociedade entre a Petrobras e a Novonor (ex-Odebrecht). Esta última é a controladora e foi quem colocou a Braskem à venda. As propostas das duas empresas venceram e, com as incertezas atuais, não deverão ser reapresentadas, segundo fontes.
Além da saída da Unipar e da J&F, o fundo de private equity americano Apollo Global Management já havia deixado o negócio há alguns meses. Fontes envolvidas nas negociações avaliam que, agora, as chances de Unipar e J&F apresentarem novas propostas são próximas de zero.
Petrobras avaliava exercer preferência de compra
Com isso, neste momento, o único interessado é a Abu Dhabi National Oil Company (Adnoc), a estatal de petróleo de Abu Dhabi que, segundo fontes, tenta uma negociação com a Petrobras.
Na Braskem, a Petrobras tem 47% do capital votante e a Novonor (ex-Odebrecht), 50,1%. A estatal, no entanto, estava realizando due diligence (avaliação) na Braskem para analisar um eventual exercício de tag along ou direito de preferência para comprar a fatia da Novonor na Braskem.
A Petrobras tem preferência de compra em uma eventual venda de ações pela Novonor na Braskem. Segundo fontes, essa due diligence ainda não começou. Portanto poderia decidir comprar 100% da petroquímica ou então vender suas ações pelo mesmo preço a ser definido pela venda da fatia da Novonor.
Há quem aposte que uma possível futura venda da Braskem possa escorregar para 2025, já que a empresa agora pode se tornar alvo de uma CPI e de novos processos judiciais por conta dos impactos socioambientais em Maceió.
- As incertezas aumentaram - diz uma outra alta fonte.
'Maior tragédia ambiental urbana do mundo'
Segundo fontes, o principal entrave de todas as negociações, cujas ofertas chegaram a R$ 10,5 bilhões, envolve justamente Maceió. Um alto executivo envolvido na operação disse que a “solução completa” para as incertezas em Maceió é uma das pré-condições para a aquisição avançar. É, por isso, que todas as ofertas até hoje foram "não-vinculantes".
Na prática, significa que não são ofertas firmes. Uma fonte entre os acionistas da Braskem admite que o cenário hoje "é desafiador".
- Quem está olhando a Braskem, sabe o problema, mas há incerteza, pois há uma preocupação que possam ocorrer mais indenizações. E ainda há também discussões envolvendo o Estado que ainda não estão fechadas. Esse é um processo que ainda está ocorrendo - disse a fonte, destacando que é a "maior tragédia urbana ambiental do mundo".
Unipar e J&F, por ora, descartam novas ofertas, que venceram e não foram refeitas. As empresas haviam proposto uma oferta avaliada em R$ 10 bilhões que envolvia a compra de ações da Novonor na Braskem, refinanciamento da dívida e até oferta de novas ações. Em seguida, os árabes ofereceram R$ 10,5 bilhões.
A Bolsa de Valores (B3) anunciou que as ações da Braskem deixarão de integrar a carteira de seu Índice de Sustentabilidade Empresarial a partir da próxima sexta-feira (8).
A Petrobras colocou equipes técnicas a disposição da Braskem. Mas, como a estatal não é majoritária, não tem o poder de tomar decisões em relação a gestão da crise. As empresas participaram de uma reunião com Geraldo Alckmin, vice-presidente e presidente em exercício.
Nas negociações da venda, a avaliação de uma fonte é que as ações da companhia já refletem o impasse envolvendo Maceió. A queda nas ações esse ano chega a quase 28%, para R$ 17,41, com um valor de mercado de R$ 14,03 bilhões. É quase o valor da dívida bruta ao fim do terceiro trimestre, de R$ 10,85 bilhões (ou US$ 2,215 bilhões).
- Não é só passivo do que perdeu, mas o que vai ter que enfrentar ainda, embora a Braskem já tenha sido colocado cerca de R$ 9 bilhões - lembrou uma outra alta fonte em referência às perdas em Maceió.
Novonor ainda está em recuperação judicial
A Braskem tem um provisionamento superior a R$ 6 bilhões relativos ao evento geológico em Maceió, conforme consta no balanço financeiro da companhia.
A Novonor está em processo de recuperação judicial com dívidas superiores a R$ 15 bilhões com instituições financeiras. As ações da Braskem foram dadas como garantia. Por isso, bancos como BNDES, Banco do Brasil, Santander, Bradesco e Itaú Unibanco, precisam aprovar qualquer negócio de venda. A Braskem não retornou.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários