Verónica Antonieta, de 39 anos, também planejava migrar com as crianças para o Iraque; na internet, ela chegou a tentar recrutar adeptos à organização
O envolvimento de Antonieta é tão forte que seus próprios filhos tornaram-se “vítimas”. Para ela, os meninos devem ser “combatentes”, ou seja, “terroristas dispostos a matar, morrer e a se autoimolar”, conforme ressaltado pela Sala Penal em uma resolução obtida pelo El País. Os investigadores afirmam que ela já havia iniciado os “preparativos” para deixar a Espanha e “migrar” com as crianças para o Iraque.
A Guarda Civil interceptou Antonieta em 26 de setembro. Agentes da instituição, que a monitoravam desde o início do ano, a detiveram naquela terça-feira em sua casa, de onde ela saiu totalmente coberta por um niqab que apenas permitia ver seus olhos. Após comparecer perante ao juiz naquela semana, foi enviada para prisão preventiva sem fiança, e a guarda e custódia de seus filhos foram entregues ao pai.
Mulheres também são agentes da radicalização
As ações ocorreram no âmbito de uma investigação chamada Operação Larín Colodro, que confirma o crescente papel das mulheres como agentes de radicalização no jihadismo. O último relatório anual do Observatório Internacional de Estudos sobre Terrorismo (OIET) destaca esse fenômeno: “A mulher adquiriu um papel ativo nos últimos anos na criação e disseminação de conteúdo propagandístico, bem como em seu envolvimento na radicalização”, afirma.
O estudo “Jihadismo e jihadistas na Espanha: 15 anos após o 11 de setembro”, do Real Instituto Elcano, já apontava nessa direção em 2019. Na época, foi enfatizado que, além das mulheres se responsabilizarem pelo “doutrinamento dos filhos”, os “meios virtuais” passaram a ser uma “janela de oportunidade” para elas.
Mãe tentava 'manipular' os filhos
Verónica Antonieta teria executado essa dupla faceta à perfeição. Por um lado, conforme a Guarda Civil, ela aprendeu a se movimentar habilmente na internet, onde realizou uma forte propaganda para angariar “adeptos” à sua causa. Para isso, ela editava e divulgava vídeos, repetia slogans a favor do grupo terrorista e fazia publicações em sites e redes sociais em vários idiomas (espanhol, árabe, inglês e russo).
Ao mesmo tempo, dedicava-se a “manipular” e “incutir” em seus filhos a “ideologia jihadista”, “privando-os da capacidade de análise crítica que as crianças devem gradualmente desenvolver em sua evolução”. Além disso, enfatiza a força policial, a mulher “orgulhava-se” de ter educado seus filhos nos “postulados mais violentos” do radicalismo, e “vangloriava-se” de sua “convicção” em uni-los ao Estado Islâmico.
O fanatismo não parava por aí. A mãe planejava passar da teoria para a prática. “Estão comprovados os preparativos realizados pela investigada para deixar a Espanha levando consigo seus filhos” (nascidos em 2012, 2014, 2017 e 2019) para uma “zona de conflito onde sua integridade estaria em perigo”, afirma a Sala, conforme consta na documentação obtida pelo El País.
No relatório, é acrescentado que as ações de Antonieta implicam no “abandono dos deveres de cuidar das crianças e de proporcionar a elas uma educação saudável que as prepare para viver como adultos livres. E implica colocar as crianças em risco de morte, colaborando com uma organização terrorista que por vezes também usa menores”.
Defesa alega 'forte vínculo com a Espanha'
O promotor do caso, Joaquín González-Herrero, considerou que existem evidências suficientes contra Antonieta. Após sua aparição diante do juiz, solicitou a prisão dela devido ao risco de fuga, ocultação de provas e continuidade na prática. O pedido foi aceito pelo juiz, que atribui à detida possíveis crimes de pertencer a uma organização terrorista, auto-doutrinação, doutrinação de terceiros, deslocamento ao exterior para colaborar com uma organização terrorista e enaltecimento do terrorismo.
A defesa da suposta jihadista tentou retirá-la da prisão. Sua advogada entrou com um recurso contra a detenção preventiva. Alegou que medidas menos “gravosas” poderiam ser adotadas, como liberdade sob fiança, retirada do passaporte ou comparecimento periódico ao tribunal. Também minimizou o risco de fuga: afirmou que a mulher não tem antecedentes, tem “forte vínculo com a Espanha”, residência permanente em Vitória, quatro filhos e recebe pensão do Estado.
A tese, no entanto, foi rejeitada pela Sala Penal: “Existem indícios da intenção da acusada de deixar o território espanhol na companhia de seus filhos, o que pode ser considerado um indício de risco de fuga. É inegável que a libertação representaria um risco, pois ela não teria obstáculos para se colocar fora do alcance da Justiça”.
Fonte: O GLOBO
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