Prefeito de São Paulo diz a aliados que foi pego de surpresa com anúncio do governador, de que tenta apoio para 2024

O aumento da tarifa dos trens e metrô em São Paulo, a menos de um ano para a eleição municipal, colocou ontem o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), em rota de colisão. A correligionários, o emedebista, que se prepara para disputar a reeleição, confessou ter sido pego de surpresa pelo anúncio, que tradicionalmente é feito em conjunto pelos dois Executivos. Já Tarcísio deu outra versão e disse que avisou o aliado da insustentabilidade do atual preço da passagem na segunda-feira, mesmo dia em que Nunes anunciou a tarifa zero aos domingos.

Quando a notícia veio à tona, Nunes voltava de uma viagem aos Estados Unidos. Assim que pousou e teve conhecimento do reajuste, de R$ 4,40 para R$ 5, o prefeito se reuniu com representantes do estado e da prefeitura para discutir o tema. Não demorou para que a gestão municipal anunciasse a manutenção da passagem dos ônibus em R$ 4,40, fazendo com que, pela primeira vez em 11 anos, as tarifas não se equiparassem.

Chá de cadeira

Em meio ao mal-estar, Nunes e Tarcísio participaram de uma agenda conjunta no Palácio dos Bandeirantes. O prefeito levou um chá de cadeira do governador, que só apareceu no evento depois de meia hora, o que gerou apreensão em aliados. A entrevista coletiva, que geralmente conta com as duas autoridades, desta vez teve só Tarcísio.

A jornalistas, Tarcísio justificou que o governo não tem condições de manter a tarifa no atual patamar e ainda desmentiu a versão de que não teria informado o emedebista de sua decisão. Na segunda-feira, o prefeito falou que não havia martelo batido sobre o tema e que só chegaria a uma conclusão no final do mês.

Tarcísio minimizou ontem o imbróglio, dizendo que há “zero atrito” com o aliado e que nada mudou na relação. Ao ser questionado se apoiará a reeleição de Nunes, o governador deu risada e se limitou a dizer que o prefeito “é um cara que conversa muito bem” com ele.

A decisão de Nunes de manter a tarifa ocorre enquanto o prefeito trabalha para se reeleger em 2024. O emedebista disse ao GLOBO que levou em consideração a política da gestão municipal de incentivar o transporte coletivo. 

Ele afirmou que não se trata apenas de uma questão orçamentária, mas de uma política pública que envolve mobilidade, qualidade do ar e até o trânsito da cidade. Além de manter o preço congelado, a cidade ainda terá ônibus gratuitos um dia na semana, com o programa “Domingão Tarifa Zero”, que deve ser uma de suas principais vitrines na disputa eleitoral.

Esta não é a primeira vez que governador e prefeito se desentendem. Na semana passada, Tarcísio disse ser “absolutamente contra” o programa de tarifa zero. Em julho, os dois divergiram sobre outro tema: o deslocamento da Cracolândia para o Bom Retiro. A proposta foi informada pela gestão estadual sem conversa prévia com o prefeito. A ideia, após repercussão negativa, não foi para frente.

Tarcísio e Nunes têm cumprido uma série de compromissos públicos juntos desde o começo do ano, com direito a troca de afagos e até festa surpresa no aniversário do prefeito — que escolheu dar o primeiro pedaço de bolo ao “amigo”.

O governador é, hoje, o cabo eleitoral mais cobiçado por Nunes, que também negocia apoio de Jair Bolsonaro. Tarcísio tem correspondido às investidas do emedebista, ajudando inclusive a minar a pré-candidatura do deputado federal Ricardo Salles (PL), de quem é desafeto. Ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Salles têm recebido declarações de apoio do ex-presidente.


Fonte: O GLOBO