Ex-governador e candidato por quatro vezes na corrida presidencial diz que Lula 'perdeu o pulso' por 'conciliar com o inconciliável', e não comentou sobre a disputa política com o irmão Cid Gomes

Um ano após a sua maior derrota na disputa à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) afirma após um longo período sem dar entrevistas que "dificilmente" volta a disputar uma eleição novamente. Em outubro do ano passado, o ex-governador do Ceará registrou seu pior resultado ao maior cargo do Executivo, com 3% dos votos válidos. Em meio a um embate com político com irmão, o senador Cid Gomes, o ex-presidenciável evitou comentar.

Em entrevista ao jornalista Mario Sergio Conti, na GloboNews, o pedetista declarou estar perdendo a crença na "democracia eleitoral" brasileira. Questionado se teria desistido, disse ter se sentido "sozinho" em alguns momentos na última eleição.

— De repente senti: "caramba, tô fazendo isso sozinho". E em nome de quê? — avalia, complementando: — Tenho êxito na política, só não consegui ser presidente do Brasil. Deus não quis.

Para o ex-ministro dos governos Itamar Franco e Lula, sua derrota lideranças da sociedade civil estão "batendo palma para a destruição do país".

— Eu sou político, mas eu perdi um pouco a crença na linguagem eleitoral brasileira. O que me causou constrangimento e me fez perder a crença da minha vontade de disputar minhas ideias eleitoralmente são as minhas mediações. 

Como eu vou explicar pro povão se não tiver um conjunto de pessoas equipadas pelo privilégio de serem artistas, intelectuais, cientistas, líderes estudantis, lideranças sindicais... E por regra, essa gente toda está batendo palma para a destruição do meu país, para o apodrecimento da República. 

De repente o cinismo perdeu o pudor. "Ah, mas o Congresso é assim...". Que conversa é essa? — disse o ex-governador.

Na última eleição, Ciro sofreu uma implacável campanha impulsionada por petistas, integrantes do seu próprio partido e artistas como Caetano Veloso, que pediram para o candidato do PDT abandonar o sonho de vestir a faixa presidencial. Isolado, o presidenciável acabou repetindo alguns ataques do campo bolsonarista a Lula, e levou sua maior derrota.

Quase 14 meses após a derrota, Ciro também fez um balanço do ano no país, e afirmou que Lula "perdeu o pulso" ao negociar e tentar "conciliação com o inconciliável", se referindo as alianças do governo com partidos do chamado Centrão. Ao longo da entrevista, o pedetista afirma estar aliviado com a saída de Jair Bolsonaro da presidência, mas que o Brasil "não está bem".

— Eu sinto renovado, um alívio em relação ao que tínhamos (em referência ao governo Bolsonaro), mas se nós ficarmos amarrados a essa referência trágica do passado, nós não vamos perceber corretamente o tamanho do problema que o Brasil tem por resolver. Essa é minha grande frustração.

Sem palavras sobre Cid

Durante uma hora de conversa, além das críticas a Lula, Ciro também desaprovou as escolhas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a forma como governo federal trata a Amazônia e outros biomas brasileiros.

No entanto, Ciro evitou mencionar a disputa que vive há meses com o irmão Cid Gomes, que já culminou na saída do senador do PDT. Conti chegou a comentar, durante uma pergunta, sobre o que Ciro estaria fazendo. "Ao que consta, brigou com o seu irmão". O ex-governador não comentou a fala, e descreveu suas outras atividades, como a produção da newsletter, e que segue dando palestras e advogando.


Fonte: O GLOBO