Caso é tratado como 'ataque terrorista', quatro anos após morte de comandante da Força Quds por drone americano no Iraque

Ao menos 103 pessoas morreram e 141 ficaram feridas na cidade de Kerman, no sul do Irã, nesta quarta-feira, após uma dupla explosão próximo ao local de sepultamento do general Qassem Soleimani, assassinado pelos Estados Unidos num ataque com drone em 2020. O caso está sendo tratado como "ataque terrorista" pela televisão estatal iraniana, mas nenhum grupo extremista reivindicou a autoria das ações até o momento.

"Enorme explosão ouvida perto da mesquita Saheb al-Zaman", onde o ex-chefe das operações estrangeiras da Guarda Revolucionária do Irã está enterrado, disse a Irna, a TV estatal, em uma primeira reportagem nesta quarta-feira. “Uma segunda explosão foi ouvida perto da mesquita Saheb al-Zaman”, acrescentou a emissora, pouco depois.

A primeira explosão ocorreu a 700 metros do túmulo de Soleimani, e a segunda a um quilômetro de distância, quando peregrinos visitavam o local durante uma procissão, acrescentou a Irna. A Tasnim, uma agência de notícias semioficial do Irã associada à Guarda Revolucionária, negou as especulações de que um "oficial sênior da Guarda Revolucionária do Irã" estava entre os mortos na explosão.

A área ao redor do local dos ataques foi totalmente isolada pelas forças de segurança, segundo um repórter da Irna que estava no local. Citado pela Al Jazeera, o jornalista informou ainda que as pessoas são incentivadas a notificar o Ministério da Inteligência se virem qualquer atividade suspeita.

"Os agentes e autores desse crime grave serão, sem dúvida, punidos", disse o chefe do Judiciário do Irã, Gholam Hossein Mohseni-Ejei, em nota. "As agências responsáveis pela inteligência, segurança e aplicação da lei são obrigadas a buscar prontamente todas as evidências e autores e entregá-los ao Judiciário."

Vídeos publicados na mídia estatal iraniana mostraram grandes multidões correndo na área após a explosão.

De acordo com Babak Yekta Parast, porta-voz da organização de Serviços de Emergência Nacional do Irã, o número de pessoas mortas nas explosões deve aumentar ainda mais nas próximas horas.

— Infelizmente, as informações que recebemos indicam que alguns dos feridos estão em estado muito crítico — disse Parast à Irna por telefone, acrescentando que helicópteros dos serviços de emergência estão preparados para levar pacientes de Kerman para hospitais na capital, Teerã, se necessário.

O vice-governador para política e segurança de Kerman confirmou que as explosões foram ataques terroristas. Antes, as autoridades cogitaram ser um "incidente causado por uma explosão de gás". Nenhum grupo extremista reivindicou os ataques até o momento.

Uma mulher não identificada disse à TV estatal que uma das bombas foi colocada em uma lixeira. Já a agência de notícias Tasnim informou que as duas bombas foram colocadas em malas, que parecem ter sido detonadas remotamente. Ambos os relatos, porém, contradizem comentários anteriores, que sugeriam que foram homens-bomba que detonaram os explosivos. Não houve confirmação ou declaração oficial com relação a nenhum desses relatos até o momento.

— Não fiquei ferida, mas tenho sangue em minhas roupas. Eu tinha acabado de caminhar para o outro lado da rua quando a bomba explodiu — disse a mulher não identificada à Irna.

Assassinato em 2020

Soleimani, um dos homens mais poderosos do Irã, foi chefe da Força Quds da Guarda Revolucionária, uma unidade de elite do Exército ideológico da República Islâmica que cuida das operações do país no exterior e foi considerada uma organização terrorista pelos EUA. Conhecido como o "comandante-sombra" do Irã, Soleimani morreu em 4 de janeiro de 2020 em um ataque americano com um drone no Aeroporto Internacional de Bagdá, no Iraque. Na época, o então presidente dos EUA Donald Trump afirmou que foi uma resposta aos ataques contra interesses americanos em solo iraquiano.

Em dezembro, um tribunal iraniano condenou o governo dos Estados Unidos a pagar US$ 50 bilhões por perdas e danos em decorrência do assassinato do general Qasem Soleimani (1957-2020) no Iraque, anunciou a agência da autoridade judicial iraniana, Mizan Online. Soleimani era considerado herói de guerra e peça-chave no aparato de segurança local.

Qasem Soleimani, morto aos 62 anos, foi um dos homens mais poderosos do país persa. Ele liderou as operações militares iranianas no Oriente Médio como comandante da Força Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã. Ele morreu enquanto sua comitiva deixava o aeroporto de Bagdá, junto a integrantes de uma milícia iraquiana.

Na ocasião, o ataque ocorreu poucos dias após manifestantes invadirem a embaixada dos EUA em Bagdá. De acordo com o Pentágono, Soleimani teria aprovado os ataques. Naquela época, os manifestantes protestavam contra um bombardeio direcionado às bases do grupo Kataib Hezbollah no Iraque e na Síria, em que 25 pessoas morreram.

Os Estados Unidos afirmaram, por sua vez, que a ofensiva foi uma resposta a um ataque de míssil contra uma base militar no Iraque que matou um civil americano. Com a morte de Soleimani, as tensões entre Washington e Teerã aumentaram, e o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, afirmou que “uma vingança severa” aguardava os “criminosos” responsáveis.


Fonte: O GLOBO