Ministro da Educação foi escolhido para substituir Élisabeth Borne, de 62 anos, que renunciou ao cargo
Em entrevistas passadas, Attal afirmou ter sofrido homofobia desde jovem, nos tempos de colégio, e também na internet, por meio de ataques anônimos. Em 2019, o político foi "tirado do armário" num livro escrito por um ex-colega de escola. Ele confirmou que era gay, pouco depois.
— Eu estava no final do Ensino Médio, tinha 14, 15 anos, e tinha um aluno que tinha aberto esse site para postar comentários sobre o físico dos alunos. Recebi uma enxurrada de insultos e insultos. Durou vários meses e foi muito violento — disse ele, em entrevista à TF 1, sobre os posts, em que também era chamado por nomes pejorativos, como "bicha" e "maricas". — Acho que se tratava de uma suposição da minha orientação sexual na época, porque não falei sobre isso.
Na entrevista, Attal afirmou que o ex-colega usurpava sua identidade para postar comentários ofensivos na internet como forma de isolá-lo de outras pessoas. Ele denunciou o caso ao conselho da escola, e o autor dos ataques deixou a instituição.
Anos depois, o homem escreveu um livro em que classifica Attal de "agressivo, intrigante e agressivamente burguês" e vincula sua ascensão na política à influência de seu companheiro. Attal é casado com o deputado Stéphane Séjourné, de 28 anos, que atua como conselheiro de Macron. Os dois vão passar a morar no Hôtel de Matignon, residência oficial do primeiro-ministro na França.
— É uma forma de disfarçar o ódio porque ele vem de uma origem mais rica que a minha — afirmou Attal, na entrevista, ao falar do autor dos ataques. — Quando me envolvi na política, que entendi que ele não queria me deixar em paz. Quando fui nomeado para o governo, ele postou comentários nas redes sociais fazendo referências à minha homossexualidade.
Attal nunca revelou o nome do autor dos ataques. No entanto, a mídia francesa o identificou como sendo o advogado Juan Branco, autor do livro "Crépuscule". Na obra, o homem faz ataques à gestão Macron e relaciona o crescimento de Attal na política a Stéphane Séjourné.
Popular ministro da Educação até então, Gabriel Attal substitui Élisabeth Borne, que renunciou na segunda-feira. Um dos seus desafios será travar a ascensão da extrema direita no país e impedir a sua chegada ao poder em 2027.
De acordo com fontes oficiais ouvidas pela agência francesa AFP, Macron escolheu Attal para oxigenar seu segundo mandato em um ano marcado pelas eleições europeias e para projetar uma imagem positiva no momento em que o país ficará sob os holofotes do mundo durante a realização dos Jogos Olímpicos em Paris.
"Caro Gabriel Attal, sei que posso contar com sua energia e seu empenho para implementar o projeto de rearmamento e regeneração que anunciei", escreveu Macron em uma publicação na rede social X (antigo Twitter) pouco após o anúncio.
Em 31 de dezembro, o presidente centrista de 46 anos prometeu estimular como meta do ano promover o rearmamento "industrial, econômico, europeu" e também "cívico".
— Meu objetivo será manter o controle do nosso destino e liberar nosso potencial francês — afirmou Attal durante a cerimônia de transferência de poder, afirmando que seus eixos serão trabalho, empresas, juventude e escola.
Em sua carta de renúncia, Borne, de 62 anos, indicou que decidiu deixar o governo depois de Macron lhe demonstrar que desejava nomear um novo primeiro-ministro.
Seus 20 meses como chefe de um governo sem maioria absoluta no Parlamento foram marcados por protestos contra a reforma da Previdência, imposta por decreto, e pelos distúrbios urbanos em meados de 2023.
— Nunca retrocedi de nenhuma reforma. Realizei os projetos que considerei justos e necessários para o nosso país. E me mantive firme no rumo traçado pelo presidente — disse Borne, vestida de preto durante sua despedida.
A aprovação, em dezembro, de uma reforma migratória que o governo endureceu para obter o apoio da direita, dividiu o partido no poder e reforçou a vontade de Macron de relançar o seu segundo mandato com um novo governo.
'Bom aluno'
Com uma imagem de “bom aluno”, o novo premier começou sua carreira política no Partido Socialista antes de migrar para as fileiras de Macron, em 2016. Ele é um dos que aderiram sem maiores problemas à guinada à direita do governo do presidente centrista para ampliar sua base de apoio. Em seis meses à frente do Ministério da Educação, defendeu uma escola de “direitos e deveres”, proibiu o uso da abaya – traje usado por mulheres muçulmanas — e disse estar aberto a experimentar o uso de uniformes.
Filho de um produtor de cinema e ex-aluno da Escola Alsaciana de Paris, frequentada pela elite francesa, Attal tem uma ascensão política que faz lembrar a de Macron, eleito presidente em 2017, aos 39 anos. O jovem passou de secretário de Estado, em 2018, a premier neste ano, tendo ocupado anteriormente cargos como porta-voz do governo, chefe de Contas Públicas e da pasta de Educação.
— Emmanuel Macron sucede a si mesmo — ironizou o líder socialista Olivier Faure.
— Attal retoma sua posição como porta-voz. A função de primeiro-ministro desaparece — acrescentou o líder do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.
A líder do primeiro partido da oposição, a ultradireitista Marine Le Pen, denunciou um "balé infantil de ambições e egos" e afirmou que o início da mudança de governo começará em 9 de junho, com as eleições para o Parlamento Europeu. O partido de Le Pen, cuja candidatura ganha força para as eleições presidenciais de 2027, lidera as pesquisas europeias com 27% das intenções de voto, seguido muito atrás pela aliança governante (19%), segundo uma pesquisa recente da OpinionWay.
O primeiro desafio de Attal no cargo será o de tentar manter o frágil equilíbrio da aliança centrista de Macron, composta de deputados da centro-esquerda à direita. Desde que perdeu a maioria absoluta nas eleições legislativas de 2022, Macron teve de recorrer ao apoio da oposição de direita para aprovar suas principais reformas, pressionando a ala à esquerda do partido governista.
O cenário, apontam especialistas, não é animador, e aliados centristas e de centro-direita de Macron já manifestaram dúvidas sobre a escolha do jovem político.
— [A nomeação de Attal] não resolverá o problema da maioria nem a questão principal: qual é a direção principal [do segundo mandato do atual chefe de Estado]? — indagou o cientista político Bruno Cautrès.
A popularidade do ministro, porém, é vista como um possível trunfo para as eleições do Parlamento Europeu, em junho.
“A juventude, sua popularidade junto à opinião pública e a capacidade real ou suposta de liderar a campanha do governo para as eleições europeias” decidiram sua nomeação, indicou uma fonte próxima do Executivo francês à AFP.
A nomeação ao cargo reforça a posição de Attal como candidato a sucessor de Macron em 2027. Contudo, é cedo para dizer como ele estará daqui a três anos em comparação a outras lideranças do partido também cotadas para o cargo, como os ministros Bruno Le Maire e Gérald Darmanin e o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe. (Com AFP)
Fonte: O GLOBO
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