Aliados avaliam que os problemas do vice-presidente começam porque a sua presença na chapa presidencial de 2026 não pode ser dada como certa
Dois anos depois de promover uma reviravolta em sua trajetória ao se aliar ao antigo adversário Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, vive um momento político incerto, na avaliação de aliados. O ex-tucano viu o principal programa de sua pasta, o Nova Indústria Brasil, ser criticado até por antigos interlocutores, e se prepara agora para se equilibrar entre seus próprios interesses e a pressão do PT por apoio nas eleições municipais.
Os problemas de Alckmin, no entendimento de integrantes de seu grupo, começam porque a sua presença na chapa presidencial de 2026 não pode ser dada como certa. Desde o ano passado, o PT passou a propagar que a candidatura de Lula à reeleição está garantida. Mas em relação ao vice, há uma divisão. Uma parte do entorno do presidente considera provável a manutenção da dobradinha, e outra prevê uma conjuntura daqui a dois anos que exija outro nome.
O principal ponto que pode pesar contra o vice-presidente hoje é o tamanho de seu partido, o PSB, que teve a bancada de deputados reduzida de 32 em 2018 para 14 na última eleição (embora ontem tenha ganhado um senador com a filiação de Cid Gomes no Ceará). Siglas maiores da base do governo, como MDB e PSD, podem tentar impor a indicação do vice para apoiar Lula em 2026. Há também a hipótese de pressão para que o presidente escolha uma mulher.
Alckmin tem apostado nas demonstrações de fidelidade de Lula — em discursos, sempre cita e exalta o presidente. No Planalto, não há qualquer queixa em relação à lealdade do vice.
Dúvida na capital paulista
Alckmin tem priorizado em sua agenda de ministro encontros com lideranças empresariais. Como vice, costuma abrir espaço para reuniões com parlamentares e prefeitos. Nos fins de semana, quando vai a São Paulo, estado em que foi governador por três vezes, tem atuado para estruturar o PSB. Na sede local do partido, recebe prefeitos e vereadores do interior.
É na capital paulista que Alckmin pode ter de lidar com um impasse. Lula já deixou claro que a sua principal prioridade na disputa municipal deste ano é eleger Guilherme Boulos (PSOL) prefeito. Uma ala do PSB considera que a pré-candidatura de Tabata Amaral pode provocar fissuras com o PT, mas o grupo mais próximo de Alckmin entende que a candidatura é fundamental para os interesses políticos do vice.
O raciocínio dos aliados é que se o ex-tucano for preterido na chapa presidencial, restará como opção concorrer ao governo de São Paulo ou ao Senado. Mas vai precisar, neste caso, reconstruir a sua base eleitoral no estado, que foi afetada pela sua virada à esquerda.
Projeções dos aliados mostram que a aliança com o PT em 2022 fez com que Alckmin ganhasse simpatia no campo da esquerda, mas isso não se converteu em capital político. O movimento trouxe desgaste para a sua imagem junto ao eleitorado mais conservador.
Uma eventual subida no palanque de Boulos, ex-líder sem teto e opositor duro dos governos do PSDB no estado, é considerada problemática. Em São Bernardo do Campo, quarto maior colégio eleitoral paulista, o PT quer usar o vice-presidente na campanha de Luiz Fernando Teixeira, o que também não é bem-visto pelos aliados do ex-tucano. Em Guarulhos, segundo maior colégio eleitoral, o pré-candidato do PT, Alencar Santana, também espera contar com o vice em seu palanque.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que “a harmonia e complementariedade entre o Lula e Alckmin são notórias” e afirmou que as discussões sobre chapa da próxima eleição presidencial ainda não foram abertas.
— Discussões sobre a eleição de 2026 são meramente especulativas — afirmou.
Projeções dos aliados mostram que a aliança com o PT em 2022 fez com que Alckmin ganhasse simpatia no campo da esquerda, mas isso não se converteu em capital político. O movimento trouxe desgaste para a sua imagem junto ao eleitorado mais conservador.
Uma eventual subida no palanque de Boulos, ex-líder sem teto e opositor duro dos governos do PSDB no estado, é considerada problemática. Em São Bernardo do Campo, quarto maior colégio eleitoral paulista, o PT quer usar o vice-presidente na campanha de Luiz Fernando Teixeira, o que também não é bem-visto pelos aliados do ex-tucano. Em Guarulhos, segundo maior colégio eleitoral, o pré-candidato do PT, Alencar Santana, também espera contar com o vice em seu palanque.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que “a harmonia e complementariedade entre o Lula e Alckmin são notórias” e afirmou que as discussões sobre chapa da próxima eleição presidencial ainda não foram abertas.
— Discussões sobre a eleição de 2026 são meramente especulativas — afirmou.
O secretário-executivo do Ministério da Indústria e Comércio, Márcio Elias Rosa, disse que o Nova Indústria Brasil é fruto de um trabalho coletivo. O programa recebeu críticas de economistas, inclusive de alguns que participaram de gestões do PSDB, como Elena Landau, por interferir no mercado com escolha de empresas beneficiadas por crédito. “A Nova Indústria Brasil indica um caminho para uma indústria mais sustentável, inovadora, competitiva e exportadora” defendeu, em nota, Rosa.
Capitais e cidade com 2º turno têm embates entre PSB e petistas
- São Paulo: A capital paulista é apontada como principal impasse para Alckmin. Lula tem como prioridade eleger Guilherme Boulos (PSOL) prefeito. Uma ala do PSB considera viável a pré-candidatura de Tabata Amaral.
- Recife: PSB e PDT articulam para manter a dobradinha na chapa do prefeito João Campos (PSB), que tenta se esquivar da pressão do PT pela vice. A capital pernambucana é tida como “joia da coroa” pelo PSB, e a avaliação é que deixar o PT na linha de sucessão pode afetar Campos de disputar o estado em 2026.
- Fortaleza: O PSB avalia o apoio à reeleição do prefeito Sarto Nogueira (PDT), evitando uma coligação com o PT. Um racha interno do PDT afastou parte da legenda do PT cearense. A filiação do senador Cid Gomes ao PSB pode influenciar na aliança.
- Serra (ES): A cidade com segundo turno será palco de embate entre PT e PSB, que na capital costuram aliança.
Fonte: O GLOBO
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