Especialistas acreditam que construção seja do século XIX, e comunidade local pede que achado seja preservado pelas autoridades

Desde que os destroços de um navio apareceram nas áreas costeiras de Cape Ray, no Canadá, em janeiro, a pequena comunidade de cerca de 250 habitantes tem se mostrado agitada. Acredita-se que a embarcação, avistada por um caçador local, seja do século XIX. Os residentes posaram para fotos com partes do navio de madeira, e incentivaram as autoridades a garantir a preservação da estrutura.

Além disso, os moradores também especularam nas redes sociais sobre as origens misteriosas da construção. Em uma página no Facebook, as postagens chamaram a atenção do fotógrafo local Corey Purchase, que mora a 15 minutos da área. Ele usou um drone para tirar fotos aéreas que mostram a dimensão da embarcação, estimando que ela tenha cerca de 27 metros de comprimento.

— O drone colocou as coisas em perspectiva, com certeza — disse ele. — Foi uma descoberta incrível.

Os naufrágios nesta região não são tão raros. Provavelmente, houve milhares ao longo da costa de Newfoundland nos últimos 500 anos, disse o arqueólogo Jamie Brake. Segundo ele, “Cape Ray é uma costa exposta e traiçoeira, com nevoeiro e recifes”. Brake afirmou que hoje há “um farol que protege os navegadores, mas nem sempre foi assim”. Para outros especialistas, é raro uma embarcação tão grande encalhar no local.

Vista aérea dos destroços de um navio de madeira avistados no Canadá — Foto: Corey Purchase

É possível que o navio tenha sido encalhado pelo furacão Fiona, uma tempestade de categoria 4 que destruiu cerca de 100 casas ao longo da costa sudoeste de Newfoundland, afirmou Neil Burgess, presidente da Sociedade de Preservação de Naufrágios de Newfoundland & Labrador. Ele disse que planeja examinar a embarcação neste fim de semana para aprender mais sobre suas origens.

Apenas olhando as fotos capturadas por Purchase e outros, Burgess suspeita que a construção seja dos anos 1800 por causa de alguns detalhes dela. Por exemplo, ela foi mantida por grandes cavilhas de madeira, geralmente comprimidas a seco, e cavilhas de cobre, o que era comum em navios dessa época.

Segundo ele, houve cerca de uma dúzia de naufrágios registrados em Cape Ray nos últimos três séculos. Burgess espera, durante sua pesquisa, determinar o tipo de madeira usada e sua idade. Dessa forma, explicou, há mais chance de identificar o naufrágio, descoberta que seria “uma vitória local”. Ele disse que, na região, “as pessoas têm histórias em suas famílias de naufrágios que ocorreram há 100 ou 150 anos”.

— É sempre um mistério dar um nome aos naufrágios que aparecem na praia — afirmou ele, alertando que, se nada for feito para gerenciar o naufrágio, há a possibilidade de ele ser levado de volta para o oceano ou empurrado mais para a costa.

O que acontecerá com a embarcação dependerá do Gabinete de Arqueologia Provincial. Brake disse que o escritório ainda não tomou uma decisão sobre os próximos passos. Ele afirmou que deverão investigar a embarcação neste fim de semana com uma “mente aberta”. No passado, o governo enterrou naufrágios na areia para que pudessem ser preservados caso alguém queira pesquisá-los posteriormente.

Algumas pessoas em Cape Ray, no entanto, postaram na página da comunidade no Facebook que esperam que os destroços do navio possam ser usados como uma espécie de atração turística. Eles temiam que a embarcação afundada estivesse se afastando e pediram nesta semana que alguém ajudasse a garantir sua preservação.

Shawn Bath e Trevor Croft, da Clean Harbors Initiative, uma organização de mergulhadores voluntários que ajuda a limpar detritos após tempestades, ofereceram seus serviços. Eles usaram cordas e cintas para proteger a embarcação e evitar que ela se desloque, disse Croft em entrevista. Eles até filmaram imagens subaquáticas da construção, para que haja evidências registradas do naufrágio.

— Isso é algo que provavelmente não é visto há 100 ou 200 anos. É bastante emocionante ver isso pela primeira vez — disse Croft.


Fonte: O GLOBO