Em rota de aproximação com o governo federal, tucana quer debate mais amplo sobre relação com gestão petista e diz que, ‘por enquanto’, fica no partido
Como está a relação da senhora com o PSDB?
É um partido que me deu espaço e me permitiu estar aqui. Mas sempre temos discussões internas sobre que rumos o PSDB deve tomar, o que se quer para o futuro.
Qual é o caminho?
O PSDB tem que se reencontrar com a sua própria história e firmar uma estratégia para desenvolvimento do país e do próprio partido. A correlação de forças políticas mudou, e o partido, que diminuiu muito nas últimas décadas, precisa encontrar o caminho diante deste novo contexto. Temos uma discussão sobre o posicionamento em relação ao governo federal. O PSDB se posicionou sendo oposição ao governo do presidente Lula. Eu sempre defendi a postura de independência, considerando que o nosso país precisa voltar a crescer sem deixar ninguém para trás.
Por que independência?
O país carece de políticas públicas estruturadas, que permitam gerar mais emprego, renda, garantir investimentos em infraestrutura e uma saúde pública de mais qualidade. E, para isso, exige-se uma grande concertação nacional. O partido deve voltar com uma postura de independência.
Mas o presidente recém-eleito do PSDB, Marconi Perillo, disse que o partido está na “oposição por convicção”...
A gente não teve uma conversa mais profunda, mas na última vez em que estive com ele, coloquei esse tema como uma das minhas preocupações e inquietações. O posicionamento do partido será sempre de respeitar a minha posição. Mas a gente precisa ter um debate mais amplo ainda.
Perillo defende também o lançamento de uma candidatura própria à Presidência em 2026. É o melhor a ser feito?
São duas coisas distintas. O PSDB não está impedido de lançar uma candidatura nacional, porque sempre apresentou candidaturas. Isso não se choca com o posicionamento em relação ao governo que hoje está liderando o país.
Nomes como o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) voltaram a ganhar força do partido. Falta renovação?
De maneira geral, na política, há muita dificuldade de renovação de quadros. O fato de eu, Eduardo Riedel (Mato Grosso do Sul) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) sermos governadores já demonstra renovação. Mas não é simples, né? Os partidos precisam estar mais abertos. Defendo que na regra da distribuição do fundo eleitoral haja clareza, privilegiando o lançamento de novos nomes que permitam essa renovação orgânica.
Na semana passada, o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, Álvaro Porto, seu correligionário, disse que a senhora “conversou merda demais” e “não disse nada” em um discurso. Abalou sua relação com o partido?
Muito pelo contrário. O PSDB sabe das dificuldades que existem quando se trata de uma mulher ocupando o espaço do poder. Neste caso, de uma nordestina, primeira governadora de Pernambuco. Enfrento todos os dias na política algum tipo de violência, muitas vezes velada. Tantas outras são explícitas, como a que foi colocada na semana passada.
Acha que um homem teria sido alvo de um comentário desse tipo?
Não haveria como. Não haveria tantos outros questionamentos como existem aqui em Pernambuco. Dê um Google e olhe como se trata de forma diferente homens e mulheres que ocupam os mesmos cargos. Os adjetivos que se usam, a forma como a gente é julgada, os questionamentos que se fazem... São muito diferentes. Certamente, se eu fosse um homem governador, não teria aquilo.
Vai ficar no PSDB?
Estou no PSDB e sou grata ao partido, porque ele me permitiu estar onde estou e disputar todas as eleições em que me coloquei. Isso não muda por enquanto.
Fonte: O GLOBO
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