Líder do União Brasil é o favorito do presidente da Câmara, mas Planalto quer evitar se indispor com outros nomes

O tom do discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na abertura do ano Legislativo chegou ao Palácio do Planalto como um recado de que o parlamentar não abre mão de emplacar seu sucessor no comando da Casa em 2025. O deputado afirmou que "errará" quem apostar na omissão do Congresso por causa do ano eleitoral, disse que parlamentares não são meros carimbadores de decisões do Executivo e cobrou "cumprimento de acordos" por parte do governo.

Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que o deputado já fez chegar ao chefe do Executivo que deseja o apoio ao candidato que Lira escolher para disputar o comando da Câmara. A um ano da disputa, o nome favorito do deputado para substituí-lo no comando da Câmara é o de Elmar Nascimento (União-BA).

Lula, no entanto, não tem sinalizado que pretende endossar diretamente candidatos ao posto. Além de Nascimento, também estão colocados os nomes dos deputados Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antônio Britto (PSD-BA), Hugo Motta (Republicanos-PB) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL).

A leitura é de que Lula se comprometer com um deles, acabará rompendo com os outros, todos líderes de legendas das quais o Planalto espera contar com os votos para aprovar a pauta econômica. União Brasil, Republicanos, PSD e MDB possuem representantes no primeiro escalão do governo.

Auxiliares de Lula afirmam que Lira indicou que quer tratar pessoalmente de sucessão da Câmara com Lula. Inicialmente, essa conversa estava prevista para esta semana, mas, diante da agenda do presidente — que viaja nesta terça-feira ao Rio de Janeiro e na quarta para Minas Gerais —, poderá não ocorrer antes do carnaval.

Avisado do interesse de Lira em conseguir seu apoio para sucessão, pessoas próximas a Lula apostam que o próprio presidente não tem manifestado pressa em agilizar a agenda. Porém, o encontro de Lula nesta segunda-feira com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no Palácio do Planalto, poderá acelerar uma reunião de Lula com Lira. A conversa com Pacheco foi marcada no dia da posse do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, na última quinta-feira.

Na última semana, Lira faltou aos dois eventos onde teria encontrado Lula pessoalmente: a posse de Lewandowski no Planalto e a cerimônia de abertura do ano Judiciário no Supremo Tribunal Federal.

Parlamentares próximos a Lira afirmam que o deputado quer contar com, no mínimo, a neutralidade de Lula na sucessão. O Planalto, no entanto, entende que o deputado tentará pressionar o governo a apoiar seu candidato em troca de um ano mais tranquilo na Câmara. Na leitura de integrantes do Planalto, Lira não aceita a ideia de não fazer seu sucessor e, por isso, subirá o tom para conseguir apoio. Articuladores de Lula afirmam que o deputado também deseja o apoio de Lula para disputar o Senado por Alagoas em 2026.

Os recados de Lira têm chegado até Lula pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, e pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), interlocutores do Planalto com o deputado, que cortou diálogo com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, desde o final do ano passado, por acusá-lo de não cumprir acordos de liberação de emendas. Na semana passada, Lira recebeu Rui Costa na residência oficial da Câmara.

Agenda econômica

A pressão de Lira para a substituição de Padilha não tem demonstrado efeito sob Lula, que tem indicado a auxiliares que irá mantê-lo no cargo. Pelo contrário, o movimento também é visto por pessoas próximas como algo que fortalece o ministro no núcleo mais próximo a Lula. Apesar do clima ruim entre Padilha e Lira, o Planalto vê a pauta econômica “blindada”.

No discurso, Lira se comprometeu em avançar com propostas da área econômica defendidas pelo governo, como a regulamentação da reforma tributária e a chamada "Pauta Verde”.

A julgar pelo tom do discurso de Lira na abertura do ano Legislativo, o Planalto avalia que ele ainda aumentará mais a pressão ao longo do ano. Auxiliares de Lula, no entanto, veem o primeiro semestre como o mais desafiador, já na segunda metade do ano as atenções estarão voltadas para as eleições municipais.


Fonte: O GLOBO