Apesar de ser uma extensão territorial menor que o interior, a faixa litorânea é mais adensada; em 2010, proporção era 1% maior

Mais da metade da população brasileira mora na faixa litorânea do país, revela o Censo 2022, do IBGE. Apesar de ser uma extensão territorial menor em comparação com o interior, o litoral manteve a concentração maior de moradores: 111 milhões de pessoas, ou 54,8% da população. O resultado é 1% menor que o registrado no Censo 2010, apesar do aumento de quase 5 milhões em números absolutos.

Nesse recorte, a população foi dividida entre residentes da faixa litorânea - num raio de até 150 quilômetros da costa, o que acaba incluindo a maioria das capitais do Sul, Sudeste e Nordeste -; da faixa de fronteira com outros países, ou seja, o extremo oeste do país, também num raio de 150 quilômetros; e o interior, que é a maior área territorial, excetuando apenas essas bordas. A maior proporção de residentes no litoral fica em Santa Catarina — 75% da população.

Dados da distribuição populacional — Foto: Editoria de Arte

A menor quantidade de residentes fica na faixa de fronteira: 9.416.714 (4,6% da população). No interior, vivem 83.157.078 de pessoas (41% do total). Já a maior população e a região mais adensada fica no litoral: 111.277.361 de pessoas (54,8%). No norte do Amapá e no sul do Rio Grande do Sul há sobreposição de moradores que vivem, ao mesmo tempo, na faixa litorânea e de fronteira. Por isso a soma de porcentagem supera os 100%.

Os dados foram filtrados pelo próprio IBGE junto com o lançamento das informações preliminares da malha de setores censitários do Censo. O setor censitário é a unidade territorial de coleta dos censos demográficos, considerando as estruturas territoriais das cidades. Cada setor é identificado por um geocódigo único e normalmente representa fragmentos de um ou mais bairros de uma cidade. É a menor unidade delimitada pelo IBGE. No Censo 2022 foram identificados 452.338 setores censitários entre todos os 5.568 municípios brasileiros. No segundo semestre, o IBGE vai divulgar novas variáveis sobre os setores, como dados de gênero, idade e raça, além de informações segregadas por bairros.

Entre 2010 e 2022, o IBGE identificou 135.764 novos setores, uma variação de 43%. A maioria está nos estados da Amazônia Legal, onde houve melhorias no mapeamento. Somente no Acre, por exemplo, a variação foi de 120%. Em 1940, o número de setores era 32 mil. Além disso, houve alterações de limites territoriais ou divisões internas em mais de 3 mil municípios.

Formação do país pelo litoral e bem-estar

A concentração populacional na faixa litorânea tem origem na forma de ocupação europeia do país, explica Marcia Maria Oliveira, doutora em Geografia e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário UniDomBosco.

— Com as caravelas portuguesas chegando por via marítima ao Nordeste, a primeira zona de povoamento criada pelos conquistadores portugueses se iniciou partir do litoral nordestino. Aqui já viviam os indígenas, mas o sistema produtivo se localizou historicamente próximo ao litoral. E até meados do século 20, a exportação de produtos era somente por meio de navios. Quando olhamos os estados, a maioria tem suas capitais próximas ao litoral, muito pela importância dos — explica Oliveira.

Além dos fatores econômicos, a especialista enxerga um outro fator de preferência pela vida no litoral: o bem-estar. Além dos benefícios à saúde, morar perto da praia é um atrativo para muitas pessoas, inclusive aposentados ou idosos, o que se torna relevante considerando a tendência atual de envelhecimento da população.

— Às vezes tem o sonho de morar perto do mar após aposentadoria. Além disso, a questão da tecnologia e as novas formas de trabalho, como o teletrabalho, possibilitaram que as pessoas possam trabalhar em cidades próximas ao litoral — afirma a professora.

Apesar de ainda concentrar menos da metade da população, a interiorização da população brasileira é um processo constante desde a formação do Brasil. Em 2010, a proporção de moradores no litoral era 1% maior, por exemplo. Marcia Oliveira cita alguns marcos históricos que impulsionaram as cidades de interior: a construção de Brasília e a exploração da agropecuária.

- Os militares também provocaram um movimento de interiorização ao ocupar parte da Amazônia e do Centro-Oeste para combater guerrilhas do campo. Também construíram grandes rotas de circulação rodoviária, como a Transamazônica, a Belém - Brasília e a Cuiabá – Santarém.


Fonte: O GLOBO