Com a perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos EUA e tensões no Oriente Médio, somadas às incertezas no front doméstico com as mudanças na meta fiscal, bancos e casas de análise já começam a rever suas projeções para a taxa básica de juros no fim do ano. As estimativas oscilam entre um cenário mais otimista, com a Taxa Selic chegando a 9,25%, a um quadro mais conservador, com juro de 10% ao ano.
Um dos poucos pontos de consenso é que o mercado avalia que o Banco Central deve confirmar a perspectiva de novo corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica em maio, o que levaria a Selic do patamar atual de 10,75% ao ano para 10,25% no mês que vem. Mas, a partir daí, os analistas se dividem entre os que apontam a perspectiva de um freio de arrumação do BC e os que apostam em redução do ritmo de cortes da taxa, para redução de 0,25 ponto.
Após o governo alterar as metas fiscais e adotar um ajuste mais frouxo, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que as mudanças dificultam a condução da política monetária.
Em Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou tom mais otimista no cenário doméstico:
— O lado externo não está ajudando. O lado interno nós estamos corrigindo, corrigindo com diálogo no Executivo, com diálogo no Legislativo. Já que a questão está mais delicada, vamos neste momento repensar a estratégia e redefinir o papel de cada um para reestabilizar as expectativas.
Cenário desafiador
Para Paulo Gala, economista do Banco Master e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), com o cenário incerto, a perspectiva no fim do ano é de juro a 9,5%:
— É claro que as coisas estão mais complicadas. Com juro americano mais alto, o trabalho do BC fica mais difícil. E talvez isso possa causar desaceleração da queda da Selic para 0,25 ponto percentual na reunião seguinte (em junho).
Alex Agostini, economista-chefe da agência de classificação de risco Austin Rating, diz que se tornou difícil cravar que a Selic ficará abaixo de 10%, considerando a turbulência no cenário doméstico e internacional. A possibilidade ainda existe, avalia, mas ficou mais difícil:
— Acredito que em junho o BC vai desacelerar para 0,25 o ritmo, por conta da alta recente do dólar. Se a moeda americana se mantiver nesse patamar por um tempo mais longo, o que traz impacto para a inflação, então o BC tem justificativa para não mexer nos juros mais à frente. Se for apenas um ajuste cambial, e a moeda americana recuar, o juro continuará com queda de 0,25 ponto, até chegar ao final do ano em 9,25% ou 9,5%.
Um cenário global mais desafiador, com desinflação mais lenta, adiamento e redução dos cortes de juros em economias desenvolvidas e incertezas domésticas (com maior pressão em preços de serviços mais sensíveis ao desempenho do mercado de trabalho e expectativas desancoradas) limitarão de forma mais intensa os cortes de juros, escreveram os economistas do Itaú em relatório divulgado ainda antes da mudança na meta fiscal.
Eles revisaram a projeção da Selic para o fim do ano de 9,25% para 9,75% e estimam que ela permanecerá neste patamar ao longo de 2025.
Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, as projeções da taxa básica devem continuar a subir, pois a política monetária pode ser afetada pelo maior risco de deterioração fiscal. A Warren está em processo de revisão da Selic do fim do ano, de 9% para 9,75%.
Em comunicado ontem, o Citi alterou a posição de compra para neutra do Brasil na carteira dos mercados emergentes “dado o atual cenário fiscal”. A instituição prevê a Selic no fim de 2024 em 10%, indicando que a próxima ata da reunião do Comitê de Política Monetária deve “refletir cautela, avaliando uma piora no balanço de riscos”.
(*Especial para O GLOBO)
Fonte: O GLOBO
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