Ministra da Saúde vem sendo cobrada por Lula a mostrar 'agenda positiva', com viagens e mais contato com a população

Após a série de desgastes enfrentados pela ministra da Saúde, Nísia Trindade, o Palácio do Planalto montou uma operação na tentativa de blindá-la politicamente e melhorar a imagem. A iniciativa envolve o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Secretaria de Relações Institucionais e a Secretaria de Comunicação Social (Secom).

Em conversas com Lula e ministros do Planalto, Nísia tem sido cobrada a encaminhar uma “agenda positiva”, com viagens e mais contato direto com a população. Foi sugerido, por exemplo, que ela participe da chegada de profissionais do Mais Médicos a unidades de saúde e apresente o que está acontecendo na pasta — a agenda tem sido repensada com esse olhar. À frente da Secom, o ministro Paulo Pimenta tem atuado no redirecionamento da pauta.

A guinada também atende a um desejo de Lula, que deseja mantê-la no cargo e não quer passar a imagem de que uma outra área estratégica será entregue ao Centrão. No ano passado, o presidente sofreu críticas após a demissão de duas mulheres do primeiro escalão para abrir espaço ao grupo. Na ocasião, Ana Moser deixou o comando do Esporte, enquanto Daniela Carneiro saiu do Turismo — dois homens as substituíram.

Em outra frente, Nísia tem o apoio de Alexandre Padilha (Relações Institucionais), ministro mais próximo da chefe da pasta da Saúde. Nos próximos dias, ele deve acompanhá-la em um encontro com a bancada evangélica. Os parlamentares reclamaram da nota técnica publicada pelo Ministério da Saúde, em março, estabelecendo que não deveria haver um limite temporal para a interrupção da gravidez nos casos previstos em lei — o texto foi revogado depois.

Também sob supervisão do Planalto, Nísia trocou o chefe de gabinete. Saiu Márcia Luz da Motta, próxima da ministra desde a Fiocruz, e entrou José Guerra, diretor de programa da Secretaria-Executiva do ministério e ex-assessor de Ana Moser e do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA). Integrantes da pasta reconhecem que Nísia sofre pressão da oposição, do Centrão e de alas do PT.

Prestação de contas

Nesta quarta-feira, Nísia vai pela oitava vez à Câmara dos Deputados. Na Comissão de Saúde, falará sobre as ações de combate à dengue. Interlocutores da ministra afirmam que ela estará preparada caso a oposição “passe do ponto”.

Por liderar um dos ministérios mais importantes da Esplanada, Nísia tem um desempenho considerado pelo Planalto aquém do esperado em gerar pautas positivas numa área em que o PT deseja antagonizar com o bolsonarismo. 

Temas relacionados à saúde sempre foram considerados carros-chefes de governos petistas e, no passado, produziram pautas positivas como a criação de programas como Mais Médicos e Farmácia Popular. Agora, Nísia é cobrada a popularizar, por exemplo, o programa Mais Acesso a Especialistas, lançado nesta segunda-feira no Planalto ao lado de Lula. No evento, o presidente fez um desagravo a auxiliar:

— Eu acho que a Nísia, falando manso do jeito que ela falou… Posso até achar que alguém pode não gostar de você, mas duvido que tenha alguém que não acredite em cada palavra que você fala.

No Planalto, interlocutores de Lula defendem a capacidade de Nísia para o cargo, mas ponderam que a ministra fala pouco sobre ações da área e “vende” de forma tímida o que tem sido feito no ministério. Citam que seu perfil acadêmico e técnico acaba inibindo uma exposição maior da área e pontuam, por exemplo, que a ministra deveria explorar todas as mudanças e entregas que tem feito.

A avaliação é que a ministra, nos últimos meses, vem emendando uma crise na outra. Houve o desgaste causado pelos repasses de recursos da Saúde para Cabo Frio, onde seu filho é secretário; a divulgação do recorde de mortes na Terra Indígena Yanomâmi; a crise gerada pela escalada dos casos de dengue e os problemas de gestão nos hospitais federais do Rio.

Na quarta-feira passada, Lula voltou a reclamar com auxiliares que a Saúde errou ao gerar expectativa na população de que o governo teria vacina da dengue, sendo que não há doses disponíveis no mercado. No Planalto, o entendimento é que neste caso os danos já são irreversíveis. O governo chegou a fazer um quadro no “Big Brother Brasil” de combate à dengue, elogiado por Lula, mas não deve investir em novas ações. Auxiliares do presidente preferem mirar em trocar a pauta e avaliam que a sazonalidade da doença contribuirá para isso.

Conselheiro informal de Lula, o marqueteiro Sidônio Palmeira conversou com integrantes da comunicação do Ministério da Saúde. Na segunda-feira, Nísia deu uma entrevista coletiva ao lado de Lula sobre ações da pasta. No dia anterior, ela passou por media training com a participação de Pimenta, quando respondeu a uma série de simulações de perguntas que poderiam ser feitas na entrevista.

Toda a apresentação feita pelo Ministério da Saúde para a coletiva também foi avaliada com lupa por assessores de Lula, e pedidos de modificação foram feitos de última hora. Não havia, por exemplo, menção sobre combate à dengue, e o Planalto exigiu que o tema fosse incluído.


Fonte: O GLOBO