Clubes cogitam poupar titulares na Libertadores em meio às finais dos estaduais
A realização de nove rodadas do Campeonato Brasileiro sem os jogadores convocados pode parecer, à primeira vista, o mais excêntrico, para não dizer bizarro, dos tantos efeitos colaterais causados por um calendário absolutamente disfuncional.
Mas vale a pena mergulhar em outras anomalias que acabaram por ser normalizadas num país que reserva 16 datas a Campeonatos Estaduais em pleno 2024. Afinal, começou ontem a mais peculiar semana futebolística que o Brasil é capaz de produzir. Daquelas que, contadas em qualquer outra parte do mundo, gerariam espanto.
Encerrado o 0 a 0 com o Juventude, Renato Gaúcho falava sobre o provável envio de reservas do Grêmio a La Paz para enfrentar o The Strongest. Enquanto o Flamengo fazia um jogo confortável contra o Nova Iguaçu, no sábado, a busca por um placar ainda maior era tratada por analistas como uma forma de não transformar a estreia na Libertadores, em Bogotá, como um estorvo no meio das finais cariocas. Isto mesmo, o Brasil transforma a competição continental, ao menos por uma semana, num indesejável obstáculo a uma conquista local.
No domingo, a mesma dúvida foi deixada no ar por Abel Ferreira após o seu Palmeiras sair em desvantagem diante do Santos na abertura da final paulista. Tampouco é possível garantir que o recém-chegado Diego Milito vá levar o melhor Atlético-MG possível a Caracas entre um jogo e outro com o Cruzeiro.
É evidente que, medido apenas o valor esportivo, o legado, a importância de cada torneio num mundo globalizado, retirar titulares da estreia na Libertadores para priorizar estaduais soa como uma aberração. É uma inversão de valores e de prioridades evidente. No entanto, pior ainda é constatar em que contexto tais decisões são tomadas.
E aí voltamos ao calendário, porque o Brasil não se contenta com o anacronismo de obrigar os grandes clubes do país a quase três longos e monótonos meses de estaduais. Diante da passividade e da incapacidade de agirem coletivamente destes mesmos clubes, o Brasil faz com que as finais locais coincidam justamente com a largada do mais importante torneio sul-americano. Este sim, o troféu mais cobiçado por cada torcedor do país. Os mais prejudicados, justamente os clubes da elite nacional, se calam diante do poder político das federações.
Mas há outro fator. Por mais injustificável que seja um calendário de quase 80 jogos, que sacrifica atletas, pune o maior campeonato do país sem a presença de seus melhores jogadores por quase 25% das rodadas, o fato é que os Estaduais existem. Ao existirem, em algum momento terão suas finais. E estas ainda carregam o peso de rivalidades locais muito enraizadas, com todas as consequências naturais em um país resultadista como o Brasil.
Hoje, ser campeão estadual não garante, a clube algum, que em dezembro a temporada será avaliada como positiva, como vencedora. No máximo, permite uma alegria efêmera e uns poucos créditos na conta de dirigentes, técnicos e elencos. No entanto, as derrotas deixam treinadores e times em débito com a arquibancada, apresentam uma conta em forma de turbulências, instabilidades e até demissões à primeira oscilação no Brasileiro. Por vezes, joga-se as finais estaduais menos pelo que se ganha e mais pelo que se evita perder.
Finais locais são mais tensas do que festivas, e é em nome de alguns dias de paz que os clubes brasileiros vão sacrificar a estreia nos torneios sul-americanos. Como tantas outras no futebol nacional, a distorção tem o calendário como origem. A cada semana sacrificante, a cada convocação que comprometa o elenco, o clube prejudicado grita, enquanto os demais se calam. E o Brasil segue fabricando suas excentricidades.
Naturalidade
O que mais chamou atenção na primeira final do Estadual foi justamente a ausência de qualquer aparência de final. O Flamengo atuava num nível distante de seu melhor, num ritmo baixo com e sem a bola, enquanto o Nova Iguaçu lembrava uma equipe pequena padrão - algo que não vinha sendo. E os gols rubro-negros foram saindo ao natural. No fim, vimos uma decisão em que o Flamengo não pareceu ter sido testado.
A final aberta
É notável como um Santos todo remontado após o rebaixamento ganhou rosto rapidamente. Foi melhor do que o Palmeiras por mais tempo, mas se medirmos a qualidade das chances, a abertura da final paulista tendeu ao equilíbrio. O alviverde de Abel Ferreira ainda não acumula grandes atuações em 2024. Na Vila Belmiro, não encaixou a marcação, sacrificou Raphael Veiga sem bola e só cresceu com trocas na parte final. Mas costuma ser forte em casa.
Decepção
Domingo foi o dia em que descobrimos que até um clássico da Premier League pode nos desapontar. Guardiola e Arteta lançaram mão de duas propostas diferentes, mas ambas muito cuidadosas, e o 0 a 0 de City é Arsenal foi um jogo de muita preocupação em controlar o rival e poucas tentativas de alterar a ordem. Curiosamente, a vantagem ficou com o Liverpool de Klopp, adepto do ritmo frenético, com algumas doses de caos.
Fonte: O GLOBO
Encerrado o 0 a 0 com o Juventude, Renato Gaúcho falava sobre o provável envio de reservas do Grêmio a La Paz para enfrentar o The Strongest. Enquanto o Flamengo fazia um jogo confortável contra o Nova Iguaçu, no sábado, a busca por um placar ainda maior era tratada por analistas como uma forma de não transformar a estreia na Libertadores, em Bogotá, como um estorvo no meio das finais cariocas. Isto mesmo, o Brasil transforma a competição continental, ao menos por uma semana, num indesejável obstáculo a uma conquista local.
No domingo, a mesma dúvida foi deixada no ar por Abel Ferreira após o seu Palmeiras sair em desvantagem diante do Santos na abertura da final paulista. Tampouco é possível garantir que o recém-chegado Diego Milito vá levar o melhor Atlético-MG possível a Caracas entre um jogo e outro com o Cruzeiro.
É evidente que, medido apenas o valor esportivo, o legado, a importância de cada torneio num mundo globalizado, retirar titulares da estreia na Libertadores para priorizar estaduais soa como uma aberração. É uma inversão de valores e de prioridades evidente. No entanto, pior ainda é constatar em que contexto tais decisões são tomadas.
E aí voltamos ao calendário, porque o Brasil não se contenta com o anacronismo de obrigar os grandes clubes do país a quase três longos e monótonos meses de estaduais. Diante da passividade e da incapacidade de agirem coletivamente destes mesmos clubes, o Brasil faz com que as finais locais coincidam justamente com a largada do mais importante torneio sul-americano. Este sim, o troféu mais cobiçado por cada torcedor do país. Os mais prejudicados, justamente os clubes da elite nacional, se calam diante do poder político das federações.
Mas há outro fator. Por mais injustificável que seja um calendário de quase 80 jogos, que sacrifica atletas, pune o maior campeonato do país sem a presença de seus melhores jogadores por quase 25% das rodadas, o fato é que os Estaduais existem. Ao existirem, em algum momento terão suas finais. E estas ainda carregam o peso de rivalidades locais muito enraizadas, com todas as consequências naturais em um país resultadista como o Brasil.
Hoje, ser campeão estadual não garante, a clube algum, que em dezembro a temporada será avaliada como positiva, como vencedora. No máximo, permite uma alegria efêmera e uns poucos créditos na conta de dirigentes, técnicos e elencos. No entanto, as derrotas deixam treinadores e times em débito com a arquibancada, apresentam uma conta em forma de turbulências, instabilidades e até demissões à primeira oscilação no Brasileiro. Por vezes, joga-se as finais estaduais menos pelo que se ganha e mais pelo que se evita perder.
Finais locais são mais tensas do que festivas, e é em nome de alguns dias de paz que os clubes brasileiros vão sacrificar a estreia nos torneios sul-americanos. Como tantas outras no futebol nacional, a distorção tem o calendário como origem. A cada semana sacrificante, a cada convocação que comprometa o elenco, o clube prejudicado grita, enquanto os demais se calam. E o Brasil segue fabricando suas excentricidades.
Naturalidade
O que mais chamou atenção na primeira final do Estadual foi justamente a ausência de qualquer aparência de final. O Flamengo atuava num nível distante de seu melhor, num ritmo baixo com e sem a bola, enquanto o Nova Iguaçu lembrava uma equipe pequena padrão - algo que não vinha sendo. E os gols rubro-negros foram saindo ao natural. No fim, vimos uma decisão em que o Flamengo não pareceu ter sido testado.
A final aberta
É notável como um Santos todo remontado após o rebaixamento ganhou rosto rapidamente. Foi melhor do que o Palmeiras por mais tempo, mas se medirmos a qualidade das chances, a abertura da final paulista tendeu ao equilíbrio. O alviverde de Abel Ferreira ainda não acumula grandes atuações em 2024. Na Vila Belmiro, não encaixou a marcação, sacrificou Raphael Veiga sem bola e só cresceu com trocas na parte final. Mas costuma ser forte em casa.
Decepção
Domingo foi o dia em que descobrimos que até um clássico da Premier League pode nos desapontar. Guardiola e Arteta lançaram mão de duas propostas diferentes, mas ambas muito cuidadosas, e o 0 a 0 de City é Arsenal foi um jogo de muita preocupação em controlar o rival e poucas tentativas de alterar a ordem. Curiosamente, a vantagem ficou com o Liverpool de Klopp, adepto do ritmo frenético, com algumas doses de caos.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários