Estatal vai dar mais espaço a ministros e ampliar a divulgação de ações do governo no CanalGov; mudanças também estão previstas na TV Brasil e na rede de emissoras de rádio
Com a piora dos índices de avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) passou a integrar a estratégia do Palácio do Planalto de melhorar a comunicação do governo.
A estatal vai rever a grade de programação do CanalGov, seu braço governamental, para dar mais espaço a ministros, ampliar a divulgação de ações das pastas, além de incluir em sua programação mais evangélicos — segmento em que o petista enfrenta resistências. Apesar dos baixos índices de audiência, a ideia é que os materiais produzidos pelos profissionais da empresa sejam recortados para divulgação também nas redes sociais.
Criada por Lula em 2007 para ser uma espécie de “BBC brasileira”, em referência à rede pública de comunicação britânica, a empresa é alvo de críticas ao longo dos governos por servir para acomodar apadrinhados políticos e pelo histórico de alinhamento ao presidente da República em sua programação.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a prometer privatizar a EBC, entregou seu comando a militares, que passaram a ocupar os principais postos de comando. A programação da TV Brasil, principal canal de televisão da empresa, costumava ser interrompida com frequência para exibir discursos e eventos em que o então presidente era a estrela.
Na atual gestão, Lula escolheu o jornalista Hélio Doyle para chefiá-la. Doyle, no entanto, foi demitido no ano passado após se envolver em polêmica ao divulgar uma declaração anti-Israel em uma rede social. O jornalista foi substituído pelo historiador Jean Lima, filiado ao PT e que já havia ocupado cargos na gestão de Dilma Rousseff e do ex-governador Agnelo Queiroz, no Distrito Federal.
Com a mudança no governo federal, a programação da TV Brasil voltou a ter questionamentos sobre um possível alinhamento. No mês passado, por exemplo, a oposição criticou o fato de a emissora reservar apenas 2 minutos para tratar da corrupção na Petrobras em seu especial de uma hora e meia sobre os dez anos da Operação Lava-Jato. Procurado pelo GLOBO, Lima disse que o noticiário busca abordar todos os lados da notícia e que o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que atuaram nos casos relacionados à operação, foram convidados a participar, mas não aceitaram.
Agora, após Lula cobrar ministros a se empenharem mais na divulgação de ações do governo, a empresa terá o papel de tentar impulsionar agendas positivas. Entre as mudanças previstas está a de dobrar o espaço dos titulares das pastas no programa Bom Dia, Ministro, que passará a ser exibido duas vezes por semana no CanalGov. Cada edição tem duração de uma hora e destaca ação de um ministério durante uma entrevista.
Público feminino
Em outro movimento alinhado ao Planalto, a emissora estatal também tem planos de se aproximar de evangélicos, passando a ouvir mais religiosos ao longo da sua programação. Não há, porém, previsão de programa específico voltado para o tema, como a produção mexicana “Maria Madalena”, exibida de novembro a fevereiro na TV Brasil. A ideia é apenas ampliar a presença de pessoas deste segmento ouvidas.
Pesquisas internas mostram que a maior parte do público que assiste à TV Brasil é formado por mulheres, de classe C, D e E, acima de 50 anos — embora não haja um recorte por religião na aferição de público, a direção da empresa entende que parte deste público é evangélico. O governo ainda testa formas de aproximação com esse grupo, mais identificado com Bolsonaro.
A ideia é que essa estratégia não se resuma ao canal governamental, mas seja também replicada nos demais veículos da EBC: nos outros canais de televisão — TV Brasil e Canal Educação — , Rádio MEC e oito emissoras de rádio, e duas agências de notícia — Agência Brasil e Agência Gov.
Além das mudanças na programação, a EBC também tem investido em ampliar seu alcance. Após Lula reclamar por não ter conteúdo nacional para assistir em viagens ao exterior, a empresa lançou na semana passada a TV Brasil Internacional, inicialmente em aplicativo de streaming, por site e antena parabólica digital em 12 países: Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Guiana Francesa, Guiana e Suriname.
Na semana do Sete de Setembro, o projeto entrará em uma segunda fase, com lançamento por sinal a cabo que chegará a 79 países. A seleção dos países foi discutida com o principal conselheiro para assuntos internacionais do presidente Lula, Celso Amorim e com o Itamaraty. Entre os critérios adotados para a expansão na primeira fase foram países lusófonos e próximos ao Brasil.
— Temos um público potencial de 4,5 milhões de brasileiros no exterior — afirmou Lima.
Segundo Lima, a criação da versão internacional não trouxe custos extras. O site foi desenvolvido pela equipe de TI da EBC. Para o desenvolvimento da segunda fase, quando será necessário contratação de equipe e estrutura e convênios com operadora a cabo, há previsão inicial de que sejam necessários investimentos de R$ 10 milhões.
No governo Bolsonaro, a empresa teve orçamento que variou entre R$ 897 milhões (2020) e R$ 720 milhões (2022) — em valores corrigidos pela inflação. O valor teve um acréscimo no ano passado, quando foi para R$ 840 milhões, mas voltou a cair neste ano, quando tem R$ 792 milhões previstos para ser gasto.
A EBC tem 1.790 funcionários, pouco mais do que os 1.767 no fim do governo passado. A audiência da TV Brasil, principal canal da empresa, contudo, continua tímida. Em janeiro deste ano, a média da emissora foi de 0,21% dos televisores ligados em sua programação.
Fonte: O GLOBO
Criada por Lula em 2007 para ser uma espécie de “BBC brasileira”, em referência à rede pública de comunicação britânica, a empresa é alvo de críticas ao longo dos governos por servir para acomodar apadrinhados políticos e pelo histórico de alinhamento ao presidente da República em sua programação.
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a prometer privatizar a EBC, entregou seu comando a militares, que passaram a ocupar os principais postos de comando. A programação da TV Brasil, principal canal de televisão da empresa, costumava ser interrompida com frequência para exibir discursos e eventos em que o então presidente era a estrela.
Na atual gestão, Lula escolheu o jornalista Hélio Doyle para chefiá-la. Doyle, no entanto, foi demitido no ano passado após se envolver em polêmica ao divulgar uma declaração anti-Israel em uma rede social. O jornalista foi substituído pelo historiador Jean Lima, filiado ao PT e que já havia ocupado cargos na gestão de Dilma Rousseff e do ex-governador Agnelo Queiroz, no Distrito Federal.
Com a mudança no governo federal, a programação da TV Brasil voltou a ter questionamentos sobre um possível alinhamento. No mês passado, por exemplo, a oposição criticou o fato de a emissora reservar apenas 2 minutos para tratar da corrupção na Petrobras em seu especial de uma hora e meia sobre os dez anos da Operação Lava-Jato. Procurado pelo GLOBO, Lima disse que o noticiário busca abordar todos os lados da notícia e que o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que atuaram nos casos relacionados à operação, foram convidados a participar, mas não aceitaram.
Agora, após Lula cobrar ministros a se empenharem mais na divulgação de ações do governo, a empresa terá o papel de tentar impulsionar agendas positivas. Entre as mudanças previstas está a de dobrar o espaço dos titulares das pastas no programa Bom Dia, Ministro, que passará a ser exibido duas vezes por semana no CanalGov. Cada edição tem duração de uma hora e destaca ação de um ministério durante uma entrevista.
Público feminino
Em outro movimento alinhado ao Planalto, a emissora estatal também tem planos de se aproximar de evangélicos, passando a ouvir mais religiosos ao longo da sua programação. Não há, porém, previsão de programa específico voltado para o tema, como a produção mexicana “Maria Madalena”, exibida de novembro a fevereiro na TV Brasil. A ideia é apenas ampliar a presença de pessoas deste segmento ouvidas.
Pesquisas internas mostram que a maior parte do público que assiste à TV Brasil é formado por mulheres, de classe C, D e E, acima de 50 anos — embora não haja um recorte por religião na aferição de público, a direção da empresa entende que parte deste público é evangélico. O governo ainda testa formas de aproximação com esse grupo, mais identificado com Bolsonaro.
A ideia é que essa estratégia não se resuma ao canal governamental, mas seja também replicada nos demais veículos da EBC: nos outros canais de televisão — TV Brasil e Canal Educação — , Rádio MEC e oito emissoras de rádio, e duas agências de notícia — Agência Brasil e Agência Gov.
Além das mudanças na programação, a EBC também tem investido em ampliar seu alcance. Após Lula reclamar por não ter conteúdo nacional para assistir em viagens ao exterior, a empresa lançou na semana passada a TV Brasil Internacional, inicialmente em aplicativo de streaming, por site e antena parabólica digital em 12 países: Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia, Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Guiana Francesa, Guiana e Suriname.
Na semana do Sete de Setembro, o projeto entrará em uma segunda fase, com lançamento por sinal a cabo que chegará a 79 países. A seleção dos países foi discutida com o principal conselheiro para assuntos internacionais do presidente Lula, Celso Amorim e com o Itamaraty. Entre os critérios adotados para a expansão na primeira fase foram países lusófonos e próximos ao Brasil.
— Temos um público potencial de 4,5 milhões de brasileiros no exterior — afirmou Lima.
Segundo Lima, a criação da versão internacional não trouxe custos extras. O site foi desenvolvido pela equipe de TI da EBC. Para o desenvolvimento da segunda fase, quando será necessário contratação de equipe e estrutura e convênios com operadora a cabo, há previsão inicial de que sejam necessários investimentos de R$ 10 milhões.
No governo Bolsonaro, a empresa teve orçamento que variou entre R$ 897 milhões (2020) e R$ 720 milhões (2022) — em valores corrigidos pela inflação. O valor teve um acréscimo no ano passado, quando foi para R$ 840 milhões, mas voltou a cair neste ano, quando tem R$ 792 milhões previstos para ser gasto.
A EBC tem 1.790 funcionários, pouco mais do que os 1.767 no fim do governo passado. A audiência da TV Brasil, principal canal da empresa, contudo, continua tímida. Em janeiro deste ano, a média da emissora foi de 0,21% dos televisores ligados em sua programação.
Fonte: O GLOBO
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