Evento ocorre em maio deste ano. Médico é ativista da causa e se especializou após diagnóstico da filha, em 2018.

Pai de uma criança autista e ativista da causa, o médico Aldemar Filho, de Cruzeiro do Sul, interior do Acre, deve levar suas experiências sobre o tema para o outro lado do Oceano Atlântico. Ele foi convidado para dar uma palestra na cidade de Talatona, em Angola, durante o "Seminário de Autismo - Da infância à vida adulta", em maio deste ano.

Até 2018, Filho nunca havia parado para pensar mais profundamente sobre o espectro autista. Foi quando sua filha, então com dois anos, teve o TEA identificado.

"O impacto do diagnóstico foi devastador, pois aquela filha tão sonhada havia, de certa forma, morrido. Não é à toa que a psicologia explica esse trauma como dor de luto", explica ele.

E foi assim, que o médico começou seu aprofundamento no Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mesmo sendo médico, ele afirma que não tinha conhecimento suficiente sobre o tema. "Percebi rapidamente que as terapias eram de suma importância para a melhor evolução do transtorno. Foi quando comecei uma busca incessante por profissionais renomados no assunto e literalmente pus o pé na estrada, sendo a primeira parada em Boston nos Estados Unidos", conta Filho.

Neste momento, ele participou de um evento com grandes nomes como: o psiquiatra infantil Gustavo Teixeira, que, segundo Filho, tem uma das maiores plataformas digitais de saúde mental do mundo, a psicóloga Maíra Gaiato e o neurocientista Alisson Mota, que o fizeram voltar desse encontro com a mente cheia de ideias.

Após esse período, o acreano fez prova de título de especialista pela Sociedade Brasileira de Medicina da Família, uma pós-graduação em transtorno espectro autista e é agora pós-graduando em psiquiatria da infância e da adolescência.


Médico acreano já palestrou nos Estados Unidos — Foto: Arquivo pessoal

Palestras nos EUA

A especialização no assunto acabou rendendo convites para que ele desse palestras não apenas em outros estados brasileiros, mas até mesmo em instituições nos Estados Unidos. Foi Gustavo Teixeira quem fez o primeiro convite para ele palestrar em um dos seus eventos. Desde então, ele já deu palestras em San Diego, na Califórnia, em Fort Lauderdale, na Flórida e em Massachusetts.

"Desde então recebo convites para palestras em diversos lugares e de diferentes grupos científicos educacionais, agora na próxima semana será em Angola", diz o médico.

Na palestra do próximo dia 04 de maio, no continente africano, o médico esclarece que deve fazer ainda três dias de consultas em comunidades remotas e no quarto dia a participação no seminário. Ele ainda fala que cada palestra é elaborada pensando no público-alvo que geralmente varia entre profissionais da saúde, da educação e familiares de autistas.

Filho ainda frisa a importância do acompanhamento aos diagnosticados com TEA e comenta que quer abrir unidades para estimulação desse público. "Percebi rapidamente a precariedade de acesso às terapias do público de baixa renda e criei o Centro de Estimulação Neuropsicomotora, que há três anos e meio funciona em Tarauacá. A estrutura física de Rio Branco já está pronta, com inauguração prevista para junho, e em breve começaremos as obras da Unidade de Cruzeiro Sul", diz o médico.


Seminário sobre autismo será realizado no dia 04 do próximo mês — Foto: Divulgação

Transtorno do espectro autista

Dois milhões de famílias no Brasil convivem com o transtorno do espectro autista. Quanto antes a criança for estimulada, melhor ela vai se desenvolver. O Governo Federal sancionou a lei 13.438, que obriga o SUS a adotar um protocolo padronizado, com cerca de 20 perguntas, que avaliam os riscos ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses; período em que o sistema nervoso está em formação. A lei vai evitar que o diagnóstico tardio comprometa o desenvolvimento das crianças.

São perguntas simples, mas fundamentais para detectar doenças. Tudo isso pode e deve ser observado desde que a criança é só um bebê. São perguntas como: seu filho olha para você no olho por mais de um segundo ou dois? Seu filho sorri em resposta ao seu rosto ou ao seu sorriso? O seu filho imita você?

Transtorno do espectro autista é um transtorno de desenvolvimento da primeira infância em que ocorrem dificuldades na comunicação e interação social. Não há só um tipo de autismo, mas graduações dentro desse transtorno de desenvolvimento. Um espectro abrange diferentes gradações, intensidades.

Os transtornos do espectro autista podem afetar todo o organismo e por isso serem confundidos com outros problemas isolados. As crianças podem ter convulsões, distúrbios do sono, ansiedade, transtornos alimentares, TDAH, distúrbios de linguagem.

Crianças com transtorno do espectro autista têm direito a um tratamento com médicos especialistas, psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais que cuidem dos problemas físicos, da saúde mental e que também tenham preparo para ajudar a família a treinar novos comportamentos. A terapia comportamental é a intervenção com maior comprovação científica.

Fonte: G1