Primeira ginasta a obter uma nota 10 nos Jogos Olímpicos, romena de 62 anos conta ao GLOBO sobre a expectativa de assistir o prometido duelo entre a brasileira e a americana Simone Biles
Não há nada que a ex-atleta queira ver mais em Paris do que o prometido duelo entre a brasileira Rebeca Andrade e a americana Simone Biles nos aparelhos da ginástica artística. Dona de nove medalhas olímpicas, sendo cinco ouros, e primeira ginasta a obter numa Olimpíada, em Montreal-1976, uma perfeita nota 10, Comaneci conversou com O GLOBO em Madri, durante o Prêmio Laureus, do qual ela participa como embaixadora da Academia.
Entre Simone e Rebeca, porém, a romena que hoje mora nos EUA ainda fica em cima do muro — ou melhor, da trave, num perfeito e emocionante equilíbrio.
Na disputa em Paris, entre Simone Biles e Rebeca Andrade, o que esperar?
Eu estava no Mundial (da Antuérpia, em outubro de 2023), então tive a oportunidade de ver a Simone competindo com a Rebeca. E isso é ótimo de ver, porque, quando a Rebeca venceu, não sabíamos ainda se a Simone voltaria. Ou seja, ainda era incerto que voltaríamos a ver as duas juntas, competindo no mesmo lugar. E mal posso esperar para ver novamente nos Jogos Olímpicos.
E o que você acha que vai acontecer?
Eu não sei. Eu sei na teoria, mas você não sabe qual tipo de dia cada uma vai ter. Muitas surpresas acontecem nos Jogos Olímpicos, você tem que ter um bom dia na qualificação. O importante é entender como você vai ganhar, qual final você vai ganhar. O que eu posso dizer é que a ginástica provavelmente será um esporte emocionante para se acompanhar em Paris.
Do que você mais gosta na Simone e na Rebeca?
Elas são muito diferentes. Biles tem habilidades incríveis, acrobáticas, que muitas pessoas não fazem. Rebeca tem as acrobacias, mas é uma artista. Ela é como uma diva. São dois tipos diferentes de ginástica. E gosto de ver coisas diferentes, e espero vê-las juntas.
Quais são os pontos que podem definir essa disputa?
Existem a nota de partida e a execução. A nota de partida da Simone em alguns aparelhos... (fica pensativa). Eu não sei qual será a nota de corte. Teria que saber para ver. Primeiro é isso. E segundo você tem que desempenhar, porque se você cai, perde nota. Vai ser muito apertado. Eu vejo os dois cenários acontecendo por lá.
Ex-ginasta romena Nadia Comaneci — Foto: Ben Stansall / AFP
Você diz que falha e sucesso na ginástica são bem próximos...
Você pode perder tudo com um passo.
E como se controla isso mentalmente?
É só se preparar. Você está no esporte por tantos anos, tenta preparar sua mente. No treino, você tem dias ruins. Então você tem que descobrir como se faz um dia bom e o que fazer em um dia ruim. A Olimpíada não vai mexer no calendário porque você está em um dia ruim. Tem que ter um plano B, uma rotina mais lenta, diferente.
Para mim, um grande campeão é aquele que se adapta muito rapidamente a qualquer coisa que aconteça. Para leigos, todos os aparelhos são iguais: uma barra, uma trave é igual a outra. Para nós, são todas diferentes: a superfície, a cor, as luzes. E aí você tem segundos para se adaptar. Você não se torna ótimo do dia para a noite, você tem oito, nove anos de trabalho duro antes.
Falando em Simone Biles e toda a questão mental, o quão difícil é voltar depois de um ano e meio sem competir?
Aparentemente não é tão difícil assim para ela (risos). Sim, é realmente difícil, mas ela tem um plano e é capaz de fazer isso. Nem todo mundo consegue, aparecem a cada 40, 50 anos. Ela é única e fez algo incrível.
Como você vê a ginástica brasileira em geral em Paris?
Claro que a Rebeca é o nome mais importante no momento, mas sei que o Brasil investiu bastante, especialmente antes dos Jogos do Rio, em 2016. Acho que criar oportunidades para as gerações seguintes praticarem e investir é importante. É por isso que a equipe brasileira parece incrível agora. Seria legal ver toda a equipe competir inteira, mas não sei quem vai fazer parte, se a seleção já foi convocada.
Falando em Simone Biles e toda a questão mental, o quão difícil é voltar depois de um ano e meio sem competir?
Aparentemente não é tão difícil assim para ela (risos). Sim, é realmente difícil, mas ela tem um plano e é capaz de fazer isso. Nem todo mundo consegue, aparecem a cada 40, 50 anos. Ela é única e fez algo incrível.
Como você vê a ginástica brasileira em geral em Paris?
Claro que a Rebeca é o nome mais importante no momento, mas sei que o Brasil investiu bastante, especialmente antes dos Jogos do Rio, em 2016. Acho que criar oportunidades para as gerações seguintes praticarem e investir é importante. É por isso que a equipe brasileira parece incrível agora. Seria legal ver toda a equipe competir inteira, mas não sei quem vai fazer parte, se a seleção já foi convocada.
Nadia Comaneci consegue nota 10 nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, Canadá — Foto: AFP
Tem a Flávia Saraiva...
Eu estava lá quando ela estava no Rio, deste tamanho (faz o gesto com as mãos, indicando baixa estatura). Eu me conectei com ela no Instagram!
Jade Barbosa...
Ela tem mais de 30 anos, não é? É incrível saber disso. É muito difícil fazer ginástica com 30 anos.
Falando em idade, você foi campeã olímpica, tirou a nota 10 e espantou o mundo aos 14 anos. No Brasil, a Rayssa Leal, do skate, foi prata aos 13, e causou o debate se o esporte traz muita pressão para pessoas tão jovens. O que você acha?
Crianças começam a fazer esporte com cinco, seis anos. O que você vai dizer então para elas? Esperar mais oito para que tenham 14? Crianças brincam, não sabem exatamente qual esporte vão seguir, mas estão expostas a eles. Descobrem no que são boas... As ginastas não começam aos 16. Elas vão para o ginásio com quatro anos, porque querem brincar, experimentar. As oportunidades estão lá. Isso que importa.
Arrisca qual será o pódio em Paris?
Na ginástica? Eu não vou dizer (risos).
*O jornalista viajou a convite do Laureus
Fonte: O GLOBO
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