O Campeonato Brasileiro que começa amanhã será sabotado pela CBF — que marcou nove rodadas para o período em que as seleções nacionais estarão reunidas para a Copa América — e pelos próprios clubes, que deixaram a CBF fazer isso e só foram reclamar quando já não havia tempo para mudanças.
Cenários semelhantes, ou ainda mais desafiadores, estão previstos para os próximos anos. Em junho de 2025 haverá o Mundial de Clubes da Fifa, com pelo menos três clubes brasileiros (Palmeiras, Flamengo e Fluminense) dedicados a isso por um mês. As distorções esportivas no Brasileirão do ano que vem serão muitas e serão graves. Em junho de 2026 haverá Copa do Mundo.
Este ciclo vai se repetir para sempre, o que já foi anunciado oficialmente, com bastante antecedência, pela Fifa. Todo mundo que lida profissionalmente com futebol já sabe. A cada ciclo de quatro anos, três estarão ocupados nos meses de junho e julho. 2028: Copa América. 2029: Mundial de Clubes. 2030: Copa do Mundo.
Diante desse cenário, que é incontornável, o que deve fazer o futebol brasileiro? Uma resposta possível — não necessariamente a melhor — seria adotar o calendário europeu, em que a temporada começa em agosto e termina em maio.
Seriam notáveis as vantagens. Não haveria conflito entre o Campeonato Brasileiro e as janelas de junho/julho, dedicadas a torneios internacionais. Os danos causados pelas Datas Fifa também seriam reduzidos, já que esses períodos são desenhados especialmente para agradar aos europeus.
Repare: os cinco períodos (de 9 dias cada) reservados para amistosos e/ou Eliminatórias ocorrem em março, junho, setembro, outubro e novembro. Ou seja, geram mais transtornos onde a temporada acompanha o ano-calendário, como no Brasil, do que na Europa. Há três interrupções nos momentos decisivos dos nossos torneios (Brasileirão, Libertadores) e só uma (março) nos campeonatos europeus.
Além disso, espelhar o calendário também reduziria drasticamente o impacto das janelas de transferências. Nada vai mudar nossa condição de país formador/exportador, mas as principais negociações se dariam no início da temporada. Deixaríamos de ter times desfalcados ou reformados no meio do campeonato.
Mas as desvantagens também são relevantes. Os torneios continentais de clubes estão consolidados. Haveria pouco sentido em mudar o calendário do futebol brasileiro se a Libertadores e a Sul-Americana continuarem terminando em novembro. Estes torneios hoje são muito rentáveis e valiosos esportivamente. Qualquer mudança teria que ser negociada com a Conmebol.
Outra: para interromper o calendário em junho/julho seria preciso jogar (mais) em dezembro/janeiro. É o período de férias escolares, no qual passagens e hospedagens ficam mais caras. Além dos fatores culturais e econômicos, o calor nessa época do ano pode tornar mais difícil jogar durante o dia.
Aqui não se defende a adoção do modelo europeu. Mas alguma discussão sobre calendário precisa acontecer. Não é razoável que o Campeonato Brasileiro, o mais importante e relevante torneio do país, seja tratado com tanto desprezo por quem o organiza e quem o disputa.
Fonte: O GLOBO
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