Irã confirma morte de sete militares, incluindo comandante da Guarda Revolucionária responsável pelo país árabe; israelenses não comentam
— O número de mortos por causa dos ataques israelenses contra o anexo da embaixada iraniana passou para 11: oito iranianos, dois sírios e um libanês, todos eles combatentes, nenhum civil — disse à AFP Rami Abdel Rahman, dirigente do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), ONG com sede no Reino Unido que conta com uma ampla rede de informantes no terreno na Síria. O consulado fica em um prédio anexo à embaixada, que também sofreu danos.
Um porta-voz israelense disse à al-Jazeera que "não comenta relatos publicados na imprensa estrangeira", mas integrantes do governo de Israel confirmaram ao New York Times, em condição de anonimato, que o país realizou a operação. Segundo o diário, o consulado abrigava uma reunião entre membros da Inteligência iraniana e militantes palestinos para discutir a guerra em Gaza, com a presença de membros da Guarda Revolucionária e da Jihad Islâmica, grupo que conta com o apoio de Teerã.
A Guarda Revolucionária confirmou, em comunicado, a morte de sete de seus integrantes no ataque, incluindo os generais Mohammad Hadi Haj Rahimi e Mohammad Reza Zahedi .
O general Mohammad Reza Zahedi, comandante das Forças Quds, foi morto em ataque contra o Consulado do Irã na Síria — Foto: Reprodução
Zahedi era comandante das Forças Quds — braço da Guarda Revolucionária para ações no exterior — na Síria e no Líbano. Veterano da guerra contra o Iraque (1980-1988), ele liderou, por alguns meses em 2004, a Força Aérea da Guarda Revolucionária, e a força terrestre da organização entre 2004 e 2007. Em 2018, foi indicado vice-comandante de operaçoes da Guarda, e sempre era citado por suas credenciais "invejáveis".
Além dos laços com o regime de Bashar al-Assad na Síria, Zahedi atuava em coordenação próxima com o grupo xiita libanês Hezbollah. Os integrantes do governo israelense ouvidos pelo New York Times confirmaram que ele era o alvo principal do bombardeio. Rahimi, o outro oficial morto no ataque e também um veterano do conflito com o Iraque, serviu como vice-comandante da Guarda para ações de coordenação, e havia sido transferido à Síria para trabalhar com Zahedi. O bombardeio ocorreu dias depois de o OSDH ter noticiado ataques israelenses na Síria que mataram 53 pessoas.
Em comunicado, o ministro das Relações Exteriores sírio, Faisal Mekdad, condenou o ataque, chamado por ele de "terrorista", e disse que "Israel não conseguirá abalar as relações entre Irã e Síria", dois dos principais aliados estratégicos no Oriente Médio. Segundo o texto, o ataque foi lançado da região das Colinas do Golã, ocupadas pelos israelenses desde a Guerra dos Seis Dias (1967), e ele "destruiu todo o edifício, matando e ferindo a todos que estavam dentro".
Chanceler sírio, Faisal Mikdad, visita complexo diplomático do Irã em Damasco, atingido por ataque aéreo nesta segunda-feira — Foto: LOUAI BESHARA / AFP
Citado pela imprensa iraniana, o chanceler do Irã, Hossein Amirabdollahian, afirmou considerar "esta agressão uma violação de todas as normas diplomáticas e tratados internacionais", responsabilizou Israel "pelas suas consequências", responsabilizou Israel “pelas suas consequências” e concluiu dizendo que "a comunidade internacional deve tomar medidas decisivas contra estes crimes". Ele ainda destinou críticas ao premier israelense, Benjamin Netanyahu: para Amirabdollahian, o primeiro-ministro "perdeu o equilíbrio mental porque enfrenta derrotas seguidas em Gaza".
No X, o antigo Twitter, o ministro afirmou que convocou um representante da Embaixada da Suíça em Teerã para "passar uma importante mensagem aos Estados Unidos" — na ausência de laços diplomáticos entre o Irã e os americanos, a Suíça age como nação protetora dos interesses de Washington em solo iraniano.
"Nesta convocação foram explicadas as dimensões do ataque terrorista e do crime do regime israelense e enfatizada a responsabilidade do governo americano. Uma mensagem importante foi enviada ao governo americano como apoiador do regime sionista. A América deve ser responsabilizada", escreveu o chanceler. A vice-representante do Irã na ONU, Zahra Ershadi, pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança para analisar o caso.
Em declarações à agência ISNA, o embaixador iraniano em Damasco, Hossein Akbari, afirmou que o "ataque do regime sionista é uma indicação da realidade deste país, que não reconhece o direito internacional e adota qualquer ação desumana para conseguir o que deseja". Ele disse que foram usados "caças F-35", construídos pelos EUA, na ação.
— Após seis meses de crimes contra Gaza e a Síria, este regime [Israel] cometeu este crime contra os colegas e funcionários da embaixada iraniana e conselheiros militares, alguns dos quais foram martirizados e cujos nomes anunciaremos [em breve]. O regime sionista agiu contra as leis internacionais, o que resultará na nossa resposta decisiva — disse Hossein Akbari.
Iranianos queimam bandeiras dos EUA e de Israel em protesto em Teerã após ataque a consulado do país na Síria — Foto: AFP
Risco de instabilidade
Horas depois do ataque, o governo iraniano promoveu um ato em Teerã para homenagear os mortos, marcado por críticas a Israel e aos Estados Unidos. Segundo o OSDH, um drone suicida foi lançado no começo da noite contra a base de al-Tanf, na Síria, usada por forças americanas no país. A aeronave teria sido destruída pelos sistemas de defesa, e ninguém assumiu a autoria da ação.
Em entrevista coletiva, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que a Casa Branca está conversando "com parceiros na região para reunir mais informações", mas que, até o momento, não tem confirmação sobre o alvo ou o responsável [pelo ataque]. O porta-voz do secretário-geral da ONU, Stephane Dujarric, disse que o bombardeio "causou preocupação", mas que a organização segue à espera de maiores informações.
A chancelaria da Rússia, aliada de Irã e Síria, disse em nota que "tais ações agressivas por parte de Israel são absolutamente inaceitáveis e devem ser interrompidas", e considerou "categoricamente inaceitáveis quaisquer ataques às instalações diplomáticas e consulares, cuja inviolabilidade é garantida pelas Convenções de Viena relevantes".
Bombeiros tentam extinguir focos de incêndio no prédio do Consulado do Irã em Damasco — Foto: LOUAI BESHARA / AFP
Desde o início da guerra contra o grupo terrorista Hamas em Gaza, em outubro do ano passado, Israel tem intensificado ataques contra posições ligadas ao Irã no Líbano e na Síria, incluindo em áreas urbanas — contudo, o Irã, que apoia o Hamas e o Hezbollah, no Líbano, tem evitado ações diretas contra os israelenses, por conta do risco de envolvimento em um conflito de grandes proporções no Oriente Médio. Ao invés disso, o país é acusado de usar grupos aliados na região, como os houthis no Iêmen, em ataques pontuais. Mas incidentes como o de Damasco podem alterar a equação, afirmam especialistas.
— Isso ainda parece ser uma guerra regional de baixa intensidade. Ainda não é um conflito aberto, mas parece que Israel está fazendo o possível para expandir o conflito — disse à al-Jazeera o diretor do International Crisis Group para o Irã, Ali Vaez.— Isso deixa Israel em uma posição favorável, uma vez que Israel sabe que o Irã não quer ser arrastado para uma guerra regional, então se o país amplia as ações contra alvos iranianos na Síria, provavelmente não terá custos, e se o Irã responder e retaliar, se tornará um pretexto para expandir a guerra.
O bombardeio ocorreu dias depois de o OSDH ter noticiado ataques israelenses na Síria, que mataram 53 pessoas, incluindo 38 soldados e sete membros do Hezbollah, organização libanesa apoiada pelo Irã. Foi o maior número de baixas sofridas pelo Exército sírio em ações de Israel desde o início da guerra entre Israel e o Hamas em Gaza, de acordo com a ONG.
Fonte: O GLOBO
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