Rastreios em conta de rapaz de 25 anos apontam outras transferências a traficantes do Comando Vermelho

A Polícia Federal investiga se um morador da comunidade da Grota, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, foi usado como “laranja” pelo Comando Vermelho para enviar um Pix aos fugitivos da Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. As movimentações nas contas do rapaz mostram que ele já realizou outras transferências bancárias a traficantes envolvidos com a facção criminosa.

O jovem, de 25 anos, não possui anotações criminais. Na noite de 1⁠º de novembro de 2022, ele foi baleado em um dos dedos da mão esquerda quando estava na porta de sua casa, na favela. Na ocasião, levado ao Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, disse aos policiais militares do 16⁠º BPM (Olaria) desconhecer o autor do disparo, que teria ocorrido de maneira acidental.

Os três irmãos mais novos do rapaz têm histórico de ligação com a quadrilha que possui o domínio territorial do Alemão. Eles já responderam a inquéritos em delegacias de regiões próximas, como a 17⁠ª DP (São Cristóvão), a 21⁠ª DP (Bonsucesso) e a 22⁠ª DP (Penha), e ficaram presos por crimes como tráfico e furto.

As investigações da PF apontam que o jovem foi o responsável por enviar R$ 5 mil para um mecânico que relatou ter entregue o dinheiro nas mãos de Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento — que escaparam de Mossoró em 14 de fevereiro e foram recapturados na semana passada.

Em pelo menos outras duas ocasiões, ele também pode ter intermediado transações financeiras fraudulentas, emprestando seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a identidade de outros criminosos.

Em uma delas, transferiu R$ 23 mil a uma mulher residente em Paracambi, na Baixada Fluminense, cujo companheiro respondeu a inquéritos por porte ilegal de arma, quadrilha ou bando, receptação e corrupção de menores. Na outra, repassou cerca de R$ 20 mil a outra mulher, envolvida com o tráfico de drogas no Maranhão.

Na decisão judicial que autorizou a prisão de dois suspeitos de auxiliarem na fuga dos bandidos do presídio federal, a PF ponderou que os indícios indicam "o possível interesse da facção carioca (Comando Vermelho) em apoiar e financiar os fugitivos do presídio federal de Mossoró”.

Na ocasião, os presos ficaram escondidos sob a proteção do mecânico por sete dias. Eles foram levados ao local por outra pessoa, que os retirou de carro da comunidade de Juremal — o local é formado por um assentamento de sem-terras que se apropriaram de uma fazenda abandonada de frutas.

Os investigadores apontam que o Comando Vermelho possui "ramificações" em Baraúna (RN) e Aquiraz (CE) que podem ter ajudado os fugitivos, além de contarem com a parceira da facção local, Sindicato do Crime. "Durante as investigações foi possível identificar uma rede de apoio constituída provavelmente por lideranças do Comando Vermelho para manterem os foragidos longe do alcance da Justiça", diz trecho do despacho.


Fonte: O GLOBO