Tenente Ronald Ojeda Moreno foi sequestrado em seu apartamento em Santiago por homens vestidos de policiais; corpo enterrado sob concreto e modus operandi do crime afastaram hipóteses sobre envolvimento de facções, disse o MP

A 50 dias do sequestro e subsequente homicídio do ex-militar Ronald Ojeda Moreno, dissidente do regime chavista que governa Caracas, o Ministério Público do Chile encerrou a fase da investigação em que todas as hipóteses estavam em cima da mesa e assegurou que o crime cometido em Santiago foi encomendado da Venezuela.

— Nós sustentamos que isso foi organizado e o sequestro e subsequente homicídio do senhor Ojeda foi encomendado da Venezuela — disse o promotor encarregado do caso, Héctor Barros, chefe da Promotoria Regional Metropolitana Sul, em uma reportagem transmitida ontem pela Chilevisión.

Questionado se tinha a convicção de que o crime contra o ex-tenente do Exército da Venezuela teve um motivo político, Barros afirmou que "até o momento" não tinha outro dado que demonstrasse ou indicasse outra hipótese. Anteriormente, o promotor havia afirmado publicamente que acreditava que a ação teria sido cometida pela organização criminosa Trem de Aragua.

— Descartamos as teses que tenham a ver com sua participação (de Ojeda) em algum ilícito, portanto, a única tese que permanece válida é a que você menciona — respondeu o promotor.

Ojeda foi sequestrado na madrugada de 21 de fevereiro, de seu apartamento na comuna de Independência, por desconhecidos que invadiram o 14º andar do prédio, disfarçados de policiais. Escoltado por cúmplices, um dos sequestradores envolveu o pescoço do ex-tenente com seu braço esquerdo e o conduziu ao elevador e posteriormente a um veículo que os aguardava no estacionamento. Ojeda estava apenas de cueca.

Posteriormente, em uma fuga que deixou rastros em câmeras de vigilância e até mesmo em um posto de gasolina — onde um dos envolvidos comprou combustível com seu cartão de crédito e acumulou pontos de fidelidade em seu nome —, a vítima foi levada para uma casa segura, onde teria permanecido viva por pouco tempo, pois a autópsia posterior estabeleceu uma data de morte provável nos primeiros dias de seu desaparecimento.

Ojeda morreu por "asfixia por suspensão", segundo seu atestado de óbito, e de acordo com o promotor Barros, as circunstâncias em que o corpo foi encontrado em 1º de março — enterrado em uma área ocupada em Maipú — sugerem que o crime não foi obra de uma gangue do crime organizado como o Trem de Aragua.

— Há um grau de organização, há um grau de execução deste crime que não vimos antes. O Trem de Aragua nunca agiu fazendo uma cena como a que fizeram neste caso, disfarçados de policiais, e ainda tiveram o trabalho de enterrá-lo a 1,4 metros de profundidade e colocar cimento sobre ele, cimentando o local onde estava sepultado. Isso o Trem de Aragua nunca fez — afirmou o promotor.

Barros disse não saber se o sequestro e homicídio foram organizados pela Direção Geral de Contrainteligência Militar (DGCIM) da Venezuela, uma organização acusada por opositores do governo do presidente Nicolás Maduro de praticar tortura e repressão contra dissidentes.

Até o momento, há apenas um detido por este crime, um menor de 17 anos de nacionalidade venezuelana. Os investigadores identificaram outros suspeitos, Walter Rodríguez e Maickel Villegas, que, segundo a reportagem transmitida ontem, estariam na Venezuela.

Caracas negou qualquer relação com o crime

Em 28 de fevereiro, uma semana após o sequestro e antes que o corpo de Ojeda fosse encontrado, o "número 2" do chavismo, o deputado Diosdado Cabello, negou a participação de seu país no crime.

Em seu programa de televisão semanal, Cabello afirmou que "inventaram agora uma história de um sequestro que supostamente o chavismo cometeu no Chile. Eles calcularam quantos quilômetros são, cinco mil e poucos quilômetros? 5.600 quilômetros até aqui. Eles vieram a pé (risos da plateia presente no estúdio). Outros dizem que já está aqui. E como eles passaram por tantos países, não é verdade? É que somos muito espertos se fizemos isso".


Fonte: O GLOBO